O constante aumento da inadimplência acende um alerta para quem opera crédito, especialmente no varejo. Especialista em crédito recomenda atenção frente aos critérios de concessão.
O Indicador de Inadimplência da CDL POA contabilizou, no mês de fevereiro, novo recorde de pessoas com algum tipo de limitação de crédito, cheque ou protesto. Para o Rio Grande do Sul, o Indicador aferiu que 30,06% da população adulta encontra-se inadimplente e, na Capital, o percentual é ainda maior, 33,01%. A pesquisa também evidenciou a mais alta aceleração mensal de toda a série histórica: em relação a janeiro, a variação atingiu +0,4 e +0,5 ponto percentual para RS e POA, respectivamente.
Segundo o gestor de crédito e cobrança da CDL POA, Diego Ramos, em tempos de inadimplência alta, é imprescindível um olhar atento de quem opera crédito para atravessar este momento com os menores impactos possíveis, porém, é importante destacar que “fechar a torneira” sem muitos critérios pode ser tão prejudicial quanto o aumento da inadimplência, principalmente para o varejo, que, além do retorno financeiro das operações, tem influência direta nas vendas.
Para atenuar os riscos da operação de crédito, o gestor de crédito e cobrança recomenda que que as lojas redobram a atenção frente aos critérios de concessão, eventualmente com corte ou redução de liberação para perfis de maior risco; se possível, evitar penetração em portfólios e perfis não conhecidos; ter uma régua de cobrança bem definida, com antecipação de ações; dependendo da estrutura, busca de parceiros terceirizados para realização da cobrança.
Os dados foram obtidos a partir da base de restritivos da Boa Vista SCPC, a maior disponível no Estado. O Indicador de Inadimplência CDL POA revela que a população adulta negativada alcançou 2,693 milhões no RS e 384,9 mil em Porto Alegre. Entre janeiro e fevereiro de 2023, 33.147 gaúchos ingressaram no grupo, sendo 6.064 porto-alegrenses.
Análise dos Dados
O economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, explica que a deficiência de educação financeira de boa parte dos brasileiros é uma das causas estruturais do problema. “A falta de conhecimento a respeito do tema faz com que o consumidor não tenha discernimento para identificar se uma determinada operação de crédito é adequada considerando seus objetivos e seu quadro econômico”, detalha.
Além disso, esclarece o economista: “são os desafios da presente conjuntura econômica que vêm gerando aumentos sistemáticos dos nossos números, como os juros elevados e a sustentação da inflação ao redor de 6%. A retomada do emprego e as transferências de renda do governo federal, em compensação, estão ajudando a evitar uma situação pior no curto prazo”.
Perspectivas para o futuro
A assessoria econômica da CDL POA aponta que, conforme a pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizada entre os dias 8 e 14 de fevereiro com 19 bancos, a expectativa, para 47,1% dos respondentes, é de que a inadimplência das pessoas físicas com recursos livres (linhas em que os custos e demais condições são voluntariamente pactuados entre oferta e procura) subirá em 2023. Já 29,4% acreditam em estabilização, de modo que o patamar atual, segundo as estatísticas do Banco Central, supera de forma significativa aquele verificado antes da eclosão do coronavírus.
A deterioração contínua das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), decorrente dos riscos fiscais e monetários, impede o início do ciclo de redução da Taxa Selic. Também constituem obstáculos para a queda consistente do índice: (1) o desaquecimento em curso do PIB do Brasil em comparação a 2022, com reflexos danosos no mercado de trabalho; (2) a estiagem da safra de grãos 2022/2023 no Rio Grande do Sul; (3) o encolhimento da demanda reprimida pelos segmentos que mais sofreram com a imposição do distanciamento social; e (4) a diminuição da poupança acumulada ao longo da pandemia.
O Indicador de Inadimplência CDL POA é elaborado pelo Núcleo Econômico da Entidade e mede mensalmente a inadimplência dos consumidores do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. O levantamento teve início em fevereiro de 2022 e mostra a parcela de pessoas físicas com algum tipo de restrição a crédito, cheque ou protesto.