Impactos e perspectivas da crise de COVID-19 na China

A política de “COVID zero” adotada pela China vem provocando uma série de consequências negativas para a economia. A interrupção dos negócios estabelecida pelo governo Xi Jinping atua desfavoravelmente de duas formas. Por um lado, agrava o problema relacionado à disponibilidade de insumos, gerando escassez de componentes e alta dos custos. Por outro, na medida em que existe queda do apetite por bens e serviços, o crescimento dos demais países via setor externo também diminui.

Os últimos indicadores oficiais mostram como as principais categorias foram afetadas pelo distanciamento social. Em abril, por exemplo, as vendas do varejo chinês caíram 11,1% em comparação com o igual período de 2021, ou seja, o maior recuo em dois anos, conforme a Agência Nacional de Estatísticas. O número veio muito pior do que o aguardado pelos especialistas sondados pelo Wall Street Journal (-5,4%). Por sua vez, a indústria encolheu 2,9% na referida métrica, ao passo que a mediana dos analistas acusava elevação de +1,0%. Já a taxa de desemprego subiu de 5,8% para 6,1%: próximo ao máximo histórico registrado no início da pandemia, em março de 2020 (6,2%).

Recentemente, no entanto, alguns sinais benignos começaram a surgir. O primeiro deles diz respeito ao fim da transmissão comunitária do vírus em todos os 16 distritos de Xangai por três dias consecutivos – pré-condição para desencadear o afrouxamento das restrições. Cinco dos dez hospitais improvisados para atendimento fecharam, enquanto dezenas de milhares de profissionais da saúde foram desmobilizados na localidade. Hoje, mais de 70% dos três mil grandes empreendimentos retomaram sua produção na região. Além disso, a quantidade de cidades com bloqueios totais ou parciais caiu de 31 para 29.

É fundamental ponderar que, mesmo com a melhora do quadro sanitário, o ritmo das flexibilizações deverá ser gradual. O efeito integral positivo sobre a atividade chinesa naturalmente apresentará uma defasagem, em função do tempo necessário para a absorção da mão de obra ociosa, da recuperação da segurança da população em seus deslocamentos e do pleno funcionamento do maquinário utilizado no parque fabril. Pelo menos no curto prazo, portanto, esperamos que as dificuldades relatadas pelos empresários brasileiros no tocante ao acesso de matérias-primas continuarão.

Data

17 maio 2022

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