Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (22/11/2024). *Mediana. Elaboração: AE/CDL POA.
O Dólar atingiu seu maior nível desde 2022 na semana passada devido ao aumento da percepção de cortes de juros mais parcimoniosos do que o antecipado nos Estados Unidos. Entendemos que o movimento pode ser atribuído a dois fatores em especial. Em primeiro lugar, os anúncios para a formação do governo Trump evidenciam a tendência da adoção de políticas que venham a pressionar a inflação, como a imposição de tarifas comerciais, as restrições à imigração e a prorrogação de estímulos tributários para empresas e determinados consumidores que expirariam em 2025. Em segundo, a economia americana segue demonstrando resiliência. A leitura prévia do PMI Composto de novembro (termômetro que guarda ótima conexão com o PIB) não só registrou forte incremento (55,3 pontos, lembrando que números superiores a 50 denotam expansão em comparação ao intervalo imediatamente anterior), como ultrapassou as estimativas dos analistas, puxada pelo desempenho expressivo dos serviços.
É importante ressaltar que o Dollar Index – indicador que mede seu valor contra uma cesta abrangente de outras moedas – apresenta na sua composição o Euro. A moeda do bloco europeu perdeu força nos últimos dias, em função de discursos que sinalizam para a flexibilização da política monetária de certos membros do respectivo Banco Central, a partir das preocupações sobre as perspectivas de crescimento da Zona.
Acreditamos que o panorama internacional motivou, ao menos em parte, o ajustamento da taxa de câmbio para o fim de 2024 (de R$ 5,60 para R$ 5,70). Por sua vez, observamos depreciações em prazos mais longos envolvendo a cotação para o fechamento de cada período (de R$ 5,50 para R$ 5,55 em 2025, de R$ 5,47 para R$ 5,50 para 2026 e de R$ 5,45 para R$ 5,50 para 2027). Além disso, os prognósticos para o índice oficial de preços (IPCA) também exibiram deterioração no mesmo horizonte, com proeminência para 2025 (de 4,12% para 4,34%). Se considerarmos apenas as previsões enviadas entre 18 e 22 de novembro, a mediana totalizou 4,49% (quase igualando o limite de tolerância máximo do Regime de Metas, de 4,50%), o que sugere revisões do consenso para cima em breve.
Como não houve mudança significativa no tocante ao PIB, cremos que o fenômeno possivelmente esteja atrelado ao efeito que o desequilíbrio das contas públicas da União exerce sobre a sustentabilidade fiscal do país. O mercado à época ainda esperava detalhes a respeito do pacote de contenção de gastos anunciado ontem que vinha sendo protelado desde o desfecho das eleições de outubro. A reação negativa, medida tanto pelo enfraquecimento do Real quanto pela subida dos juros negociados pelos investidores, deve impactar de maneira desfavorável os próximos levantamentos do Relatório FOCUS.
O desajuste supracitado, o cenário externo complexo e o aquecimento da produção e do emprego provavelmente serviram de justificativa para uma nova elevação da Taxa SELIC aguardada no término de 2025 (de 12,00% para 12,25% ao ano). Agora, o patamar terminal (aquele que encerrará o ciclo em meados do ano que vem) é de 13,00% ao ano. De acordo com a nossa visão atualizada, alcançaremos 14,00% ao ano. Ademais, existe uma probabilidade já majoritária de aceleração do ritmo para +0,75 ponto percentual na reunião do COPOM de dezembro por conta da frustração com as ações de controle da despesa anunciadas pelo Executivo Federal.
Análise do IPCA-15 de novembro de 2024
→ A prévia oficial dos preços ao consumidor em novembro (IPCA-15) avançou +0,62%, ou seja, superou o consenso entre os especialistas obtido pela LSEG (+0,48%);
Aberturas por grupos:
→ De acordo com as segmentações disponíveis, tivemos como grande destaque o movimento ocorrido em Alimentos e Bebidas (de +0,87% para +1,34%);
• As carnes (+7,54%) exerceram a maior influência, respondendo individualmente por +0,18 ponto percentual: as secas vêm prejudicando as pastagens, o que afeta o processo de ganho de peso dos animais e, consequentemente, a oferta;
→ Em Despesas Pessoais (+0,83%), o número refletiu a majoração do IPI sobre o cigarro desde o dia 1º, resultando em incremento do item em +4,97%;
→ Por sua vez, a Habitação passou de +1,72% para +0,22%, fruto da moderação da energia elétrica (de +5,29% para +0,13%);
• O fenômeno decorreu da mudança da bandeira tarifária (de vermelha patamar 2 para amarela), o que significou cobrança adicional menor a cada 100 kWh;
O que esperar a respeito do futuro?
Vetores de alta do IPCA:
→ Pressões no atacado: os termômetros da FGV sinalizam para a dificuldade de rápida reversão do quadro em virtude do comportamento registrado no âmbito do produtor. Considerando a métrica do acumulado em 12 meses, o IPA, da FGV, saiu de +4,50% em setembro para +5,89% em outubro;
→ A disputa intensa entre as firmas por mão de obra escassa provoca correções reais da massa de salários dos trabalhadores. Além disso, o PIB demonstrou resiliência ao longo do terceiro trimestre, contrariando os prognósticos de uma desaceleração mais expressiva após o crescimento robusto no primeiro semestre;
→ Os investidores permanecem reagindo aos riscos envolvendo as contas públicas: (1) expansão consistente dos gastos com benefícios sociais; (2) impasses para encontrar fontes extraordinárias de arrecadação; (3) flexibilização da meta fiscal para 2025 e 2026 anunciada há alguns meses; (4) sucessivas postergações do anúncio do pacote de contenção dos dispêndios. Todos esses fatores, aliados à perspectiva de cortes de juros mais parcimoniosos nos Estados Unidos (economia aquecida e possibilidade concreta de adoção de políticas inflacionárias por parte do governo Donald Trump), atuam para depreciar o Real;
Vetores de baixa do IPCA:
→ Bônus de Itaipu: aplicação deve gerar uma redução no custo da energia elétrica. Estimativas mostram que o impacto para o IPCA em 2024 e 2025 é de -0,6 ponto percentual.
Implicações para a política monetária:
→ Entendemos que a Taxa SELIC ao final do atual ciclo de elevação atingirá 14,00% ao ano em meados de 2025 (mercado antevê 13,00%, conforme o Relatório FOCUS de 22/11). Ademais, no nosso cenário-base, vemos espaço bastante limitado para quaisquer recuos ainda no ano que vem.