Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (21/02/2025). *Mediana. Elaboração: AE/CDL POA.
O PIB previsto para 2025 seguiu em +2,01% nos últimos sete dias, apesar da decepção com o Índice do Banco Central (IBC) de dezembro de 2024. De acordo com o termômetro construído a partir da agregação de indicadores setoriais, o nível de atividade em relação a novembro, na série com ajuste sazonal, caiu 0,73%. O resultado veio pior do que o consenso entre os analistas entrevistados pelo Broadcast+ (-0,4%). Conforme o Monitor do PIB, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, o quarto trimestre de 2024 em comparação com o período imediatamente anterior registrou majoração de +0,4%, o que reforça o cenário de desaquecimento no confronto com os números oficiais do IBGE observados no primeiro (+1,1%), segundo (+1,4%) e terceiro trimestres (+0,9%).
Por sua vez, o IPCA antevisto para 2025 subiu de +5,60% para +5,65%. Entendemos que a mudança possivelmente guarda conexão com o IGP-10 de fevereiro, concebido pela FGV, cujo incremento (+0,87%) excedeu a mediana dos prognósticos dos especialistas sondados pela Reuters (+0,25%). É importante ressaltar que a composição é idêntica ao IGP-M (60% da dinâmica dos preços no atacado, 30% dos consumidores e 10% da construção civil), de modo que a única diferença envolve a janela de coleta das informações. A variação no âmbito do produtor passou de +0,57% para +1,02%, fruto, entre outros motivos, das pressões verificadas no café e nos bovinos. A aceleração também ocorreu no contexto das famílias (de +0,26% para +0,44%) por conta dos reajustes das mensalidades escolares e do transporte público. O encarecimento dos insumos nos estágios iniciais das cadeias costuma ser repassado, embora de maneira imperfeita e defasada, para a demanda final.
Especificamente no que tange à política monetária, tivemos manifestações de dois membros do COPOM: Gabriel Galípolo e Nilton David. O que chamou a atenção foi a preocupação com o enfraquecimento da economia em detrimento do distanciamento das expectativas de inflação para a meta de 3,0%. No caso de Nilton David, o diretor afirmou que o Banco Central não deve procrastinar, mas da mesma forma não pode se afobar visando a separação de fatos concretos de ruídos quando os juros superam o patamar neutro, ou seja, atuando para frear o crescimento como agora.
Essas interpretações diminuem a probabilidade de uma Taxa SELIC terminal além de 15,25% ao ano, de tal sorte que o ciclo de elevação em curso, inclusive, pode encerrar antes. Julgamos que a melhora recente da taxa de câmbio e as surpresas negativas que vêm se acumulando acerca do desempenho de determinados segmentos corroboram com a visão. No entanto, a incerteza permanece bastante notável, tanto do ponto de vista externo (desdobramentos das medidas de Donald Trump) quanto interno (riscos fiscais).
Análise das vendas do varejo em dezembro de 2024
Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) / Variável: faturamento corrigido pelo IPCA / Fonte: IBGE.
Base: dez-24 / nov-24 (após o ajuste sazonal)
Brasil:
→ Conceito restrito: recuo de 0,1%, em linha com o consenso entre os entrevistados pelo Broadcast+;
→ Conceito ampliado: -1,1%, enquanto a mediana das estimativas apontava +0,1%;
As quedas na referida métrica têm sido comuns desde a eclosão da pandemia, de modo que a única exceção para o conceito restrito ocorreu em 2023 (+0,1%). Entendemos que uma possível explicação diz respeito ao adiantamento do 13º salário dos aposentados e pensionistas para o primeiro semestre. Logo, os recursos em circulação próximos às festas de fim de ano diminuem. O fenômeno também pode estar atrelado à antecipação de despesas visando o aproveitamento dos descontos da Black Friday sugerida em diversas sondagens junto às famílias. De acordo com a PMC, ramos do consumo discricionário, como “tecidos, vestuário e calçados” e “móveis e eletrodomésticos”, apresentaram expansão considerável no bimestre entre outubro e novembro de 2024, sinalizando para uma precipitação cada vez mais recorrente.
A retração acumulada de 2,6% do comércio ampliado na passagem de outubro para dezembro de 2024 é consistente com a perda do ímpeto do crescimento da economia como um todo. Fatores como a intensificação do ciclo de alta da Taxa SELIC, a pressão inflacionária (com destaque para os alimentos e bebidas) e a piora das condições financeiras, a partir da dupla combinação entre as incertezas com as políticas de Donald Trump nos Estados Unidos e a decepção dos investidores com o pacote de corte de gastos do Governo Federal, atuaram para a consolidação do movimento.
Ainda assim, em 2024, o comércio registrou forte incremento de +4,7% no conceito restrito e de 4,1% no ampliado, ou seja, desempenhos recordes desde 2012 e 2021, respectivamente. O mercado de trabalho aquecido, os incentivos à demanda por parte da União (como, por exemplo, a valorização real do Salário Mínimo) e as concessões robustas de crédito exerceram influência decisiva para tanto.
Rio Grande do Sul: dez-24 / nov-24 (após o ajuste sazonal)
→ Conceito restrito: -1,7%;
→ Conceito ampliado: -2,4%;
Julgamos que as estatísticas refletem o processo de acomodação natural em virtude de uma base de comparação muito elevada, lembrando que o varejo restrito em novembro havia atingido sua terceira máxima consecutiva. A moderação decorre, entre outros motivos, da redução da liquidez usada para o restabelecimento dos fluxos de transação no momento mais crítico da crise climática de maio de 2024.
Todavia, os resultados em 2024 do RS nos conceitos restrito (+8,4%) e ampliado (+9,5%) figuraram entre os melhores por Unidades da Federação: 4ª e 3ª colocações, pela ordem. Nesse sentido, a ampla quantidade de dinheiro injetada para o enfrentamento das enchentes, o avanço do PIB gaúcho acima da média nacional (em boa medida pela preservação da safra de grãos e de uma base bastante deprimida determinada pelos efeitos negativos das secas de 2022 e 2023) e do menor ritmo de aumento dos preços entre as 16 localidades investigadas pelo IBGE, ajudam a contextualizar os números.
Volume de vendas do comércio varejista* por categoria – Brasil e Rio Grande do Sul
(Em variações percentuais)
Fonte: IBGE. *Faturamento deflacionado. Elaboração: AE/CDL POA.
Avaliação do Índice do Banco Central (IBC) – dezembro de 2024
Definição: o IBC é um termômetro do nível de atividade criado através da agregação de pesquisas setoriais.
Informações para o Brasil:
→ Dez-24 / Nov-24 (com ajuste sazonal): -0,73%;
• Consenso entre as previsões dos analistas sondados pelo Broadcast+ acusava -0,4%;
• Retração inédita na referida métrica desde maio de 2023 (-1,72%);
• O período ficou marcado por uma conjuntura desafiadora em decorrência: (1) das incertezas com as políticas do Presidente Donald Trump nos Estados Unidos; (2) da decepção dos investidores com o pacote de corte de gastos anunciado pelo Governo Federal, de tal sorte que houve piora das condições financeiras (variável que mede a facilidade de acesso ao crédito, e, por conseguinte, o apetite das firmas em expandir e a disposição ao consumo) e da taxa de câmbio;
· Os elementos supracitados se somaram a outros vetores, como a deterioração do poder de compra da moeda e a intensificação dos aumentos da Taxa SELIC;
• Os levantamentos do IBGE mostraram declínios na indústria (-0,3%), no varejo ampliado (-1,1%) e nos demais serviços (-0,5%);
E o Rio Grande do Sul?
→ Dez-24 / Nov-24 (com ajuste sazonal): -0,33%;
• Após a enchente de maio (-7,74%), os meses de junho (+7,89%) e julho (+1,07%) foram caracterizados por uma retomada veloz;
· À época, o IBC ultrapassou o patamar de abril, ou seja, antes das inundações em +0,61%;
· Desde então, os dados alternam entre altas e baixas, de modo que em dezembro, inclusive, a majoração no confronto com abril é de apenas +0,25%;
• Os índices do IBGE para o RS exibiram comportamento misto em dezembro;
· O parque fabril subiu +0,7%, ao passo que o varejo ampliado (-2,4%) e os demais serviços (-1,5%) encolheram;
A economia gaúcha “anda de lado” desde agosto. Entendemos que o fenômeno coincide com a própria desaceleração do Brasil, com a natural demora da recomposição do patrimônio perdido por pessoas físicas e jurídicas e com a ausência de impulsos positivos oriundos da agropecuária. Cabe lembrar que a safra de inverno registrou desempenho fraco (aquém de 5 milhões de toneladas) por conta da quebra da oferta de trigo, prejudicada pelo excesso de umidade.
2024 / 2023: +4,3%;
→ As safras de verão 2022 e 2023 legaram uma base de comparação bastante deprimida por causa das graves secas. Nesse ínterim, o IBC do Brasil acumulou ganhos de +5,57%, enquanto o Rio Grande do Sul cresceu somente +0,51%;
• Já o ciclo em 2024 próximo ao padrão de normalidade e a colheita das principais culturas, como a soja (75%), o milho (83%) e o arroz (83%) realizada em quantidade significativa até abril colaboraram para o resultado. Além disso, os alagamentos atingiram muito mais os centros urbanos em relação ao campo;
→ Logo, o impacto exercido pelos grãos em virtude do seu peso e de seus transbordamentos para os segmentos secundário e terciário, aliado às medidas de apoio dos poderes públicos para o enfrentamento da tragédia climática, ajudam a contextualizar o tamanho do incremento no ano;
Índice do Banco Central (IBC)
(Var. % em relação ao período anterior)
Fonte: Banco Central. *Com ajuste sazonal. Elaboração: AE/CDL POA.
O que esperar para o futuro?
Por ora, mantemos nosso prognóstico de +2,0% para o PIB em 2025, mas o viés possivelmente é decrescente. A distribuição por categorias deve repetir a sistemática observada em 2023, com relevante contribuição do agro e avanço bem mais comedido da indústria e dos serviços, que responderão ao cenário externo complexo e ao encarecimento dos preços e dos juros.
No Rio Grande do Sul, a impressão que tínhamos até poucas semanas era de que superaríamos novamente a média nacional em 2025. A comercialização da safra com um dólar valorizado e os esforços de reconstrução estavam entre as justificativas. No entanto, temos dúvidas quanto ao efeito da falta de chuvas em importantes regiões produtoras.