Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (19/07/2024) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
O IPCA previsto para 2024 voltou a subir entre 12 e 19 julho: de 4,00% para 4,05%. É o maior prognóstico desde 07 de junho de 2023 (4,09%). Conforme as aberturas disponíveis, o recorte ligado aos preços administrados – aqueles regulados por contratos ou cuja dinâmica apresenta interferência do poder público – registrou um salto, de 4,11% para 4,59%.
Cabe lembrar que a Petrobras determinou o reajuste da gasolina (+7,12%) e do gás de cozinha (+9,81%) junto às refinarias a partir do dia 09. Todavia, apesar da correção, o primeiro continua cerca de 8% aquém da paridade internacional, de acordo com o levantamento de hoje da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (ABICOM). Logo, é possível que os agentes tenham incorporado que o impacto será permanente para o indicador em 2024.
Por um lado, a mudança na bandeira tarifária de energia elétrica (de verde para amarela) em julho, a eventual persistência dos ganhos do Dólar frente ao Real e as pressões salariais decorrentes da sustentação de taxas de desemprego em patamares deprimidos para os padrões nacionais constituem vetores de alta para o IPCA. Por outro, a destinação de recursos para a Eletrobras visando a quitação das faturas relativas à COVID-19 e à crise hídrica entre 2021 e meados de 2022 pode gerar um alívio no custo da luz para os consumidores (efeito de -0,14 ponto percentual sobre o IPCA para a XP).
Por sua vez, o PIB para 2024 avançou de +2,11% para +2,15%. A revisão ocorreu a despeito da divulgação do Índice do Banco Central (IBC) de atividade econômica de maio, que expandiu +0,25% no confronto com abril depois do ajuste sazonal, ou seja, ficou levemente abaixo do esperado pelos analistas sondados pelo Broadcast+ (+0,30%). Nesse sentido, diversas reportagens apontam surpresas positivas na visão de especialistas com o desempenho do Rio Grande do Sul no mês das enchentes históricas, sobretudo no âmbito dos serviços. No entanto, acreditamos que a leitura encontra-se distorcida, fenômeno que, inclusive, motivou uma ressalva admitida pelo próprio IBGE. Já para 2025, o produto estimado recuou de 1,97% para 1,93%, provavelmente refletindo a base mais elevada de comparação.
A taxa de câmbio reagiu recentemente às declarações do Presidente Lula envolvendo a política fiscal. Segundo o chefe do Executivo, “não existe obrigação quanto ao cumprimento das metas se houver coisas mais importantes”, em clara alusão às despesas sociais. Entendemos que o repique da cotação na semana passada, que saiu de R$ 5,45 para R$ 5,60, esteja por trás do aumento dos valores antevistos para o término de 2024 (de R$ 5,22 para R$ 5,30) e 2025 (de R$ 5,20 para R$ 5,23).
Numa tentativa de demonstrar compromisso com o equilíbrio das contas, o governo anunciou a contenção de R$ 15 bilhões no orçamento de 2024. Na nossa avaliação, os riscos tendem a seguir no radar, em virtude da ampliação expressiva dos dispêndios estabelecidos por força da lei ou da Constituição e da dificuldade de medidas adicionais que venham a robustecer o caixa da União.
Avaliação do Índice do Banco Central (IBC) – maio de 2024
Definição: o IBC é um termômetro do nível de atividade gerado através da agregação de diversos dados setoriais.
Informações para o Brasil:
→ Mai-24 / Abr-24 (com ajuste sazonal): +0,25%;
• O tamanho da expansão foi afetado pelas inundações sem precedentes no Rio Grande do Sul (detalhes na seção específica);
• Número ficou levemente abaixo do consenso entre os analistas sondados pelo Broadcast+ (+0,30%);
• Os indicadores do IBGE mostraram que a indústria encolheu 0,9% em igual base de comparação. Por sua vez, o varejo ampliado subiu +0,8%, enquanto os demais serviços permaneceram estáveis;
Quais as implicações? Se partirmos do pressuposto que em junho haverá variação nula contra maio, o 2ºT/24 exibirá acréscimo de +0,4% em relação ao 1ºT/24 – estimativa que nos parece razoável para o PIB do referido período. Já o carregamento estatístico anual do IBC (mediante a hipótese de crescimento zero entre junho e dezembro) acusa +1,9% no confronto de 2024 com 2023. Conforme nossa expectativa, o Produto Interno Bruto deve alcançar +2,1%.
E o Rio Grande do Sul?
→ Mai-24 / Abr-24*: -9,0%;
• Queda mensal recorde da série histórica, iniciada em janeiro de 2003, em função da catástrofe climática no território gaúcho;
• Pior desempenho entre todas as regiões investigadas pelo BC;
→ A magnitude do recuo poderia ter sido superior porque o faturamento corrigido pela inflação dos serviços na PMS (IBGE) registrou incremento de +0,6%, ou seja, uma distância colossal para o tombo nominal de 13,6%;
• De acordo com o gerente da pesquisa, o custo dos pedágios no IPCA caiu 86,2% em maio por conta da facilitação do deslocamento de veículos que transportavam donativos ou faziam operações de resgate;
• Como o resultado é utilizado para deflacionar as receitas das concessionárias das rodovias, essa acabou sendo a causa do aumento;
→ Acreditamos, portanto, que apuração está distorcida, fato que, inclusive, motivou uma ressalva admitida pelo próprio IBGE: “para entender o real impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, em termos de volume de serviços, será necessário considerar a evolução dos preços de determinados serviços nos meses subsequentes”;
Índice do Banco Central (IBC)
(Var. % em relação ao período anterior)
Fonte: Banco Central. *Com ajuste sazonal. | Elaboração: AE/CDL POA.