Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (18/08/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: as perspectivas para o produto em 2023 seguiram inalteradas (+2,29%). Cremos que uma das causas da estabilidade foi o Índice do Banco Central (IBC) de atividade econômica para junho (+0,63% sobre maio, na série corrigida pela sazonalidade), em linha com o aguardado pelos analistas sondados pela Reuters (+0,60%). Já para 2024, houve pequena expansão: de +1,30% para +1,33%.
IPCA: o prognóstico para 2023 passou de +4,84% para +4,90% entre os dias 14 e 21. Nesse ínterim, o recorte dos preços administrados – aqueles definidos por contratos ou monitorados pelo Setor Público – apresentou incremento substancial (de +9,03% para +9,93%). Convém lembrar que a Petrobras anunciou o reajuste dos valores da gasolina (+16,3%) e do diesel (+25,8%) praticados junto às refinarias com validade desde o dia 16. Não obstante, a discrepância para o mercado internacional permanece: de acordo com a ABICOM, a defasagem verificada no dia 18 alcançou 11% para ambos os casos. O repasse aconteceu depois da estatal ter represado o encarecimento de dois vetores de custos fundamentais: o barril de petróleo e, mais recentemente, o Dólar. Julgamos que o efeito no IPCA foi relativamente modesto, pois estimativas da XP acusam que para cada ponto percentual de aumento dos combustíveis, o impacto sobre o indicador cheio é de 0,03 ponto percentual.
Taxa SELIC: a trajetória calculada para o futuro não registrou mudanças (11,75% ao ano para o fim de 2023 e 9,00% ao ano para o encerramento de 2024). Na quarta-feira (16), o FOMC – Comitê de Política Monetária dos EUA – divulgou a ata da reunião de julho, trazendo um tom bastante duro. Em primeiro lugar, a expectativa de uma recessão suave para os Estados Unidos no término de 2023 deixou de constar no radar da autoridade. Logo, dada a resiliência do crescimento, é natural que a pressão de demanda seja superior, reverberando nos preços. Em segundo lugar, a maior parte dos membros vislumbra riscos de alta para a inflação, em função do grau de deterioração corrente do poder de compra da moeda e da robustez da ocupação. O FOMC também não acredita em desaceleração representativa da inflação para a meta de longo prazo de 2,0% sem algum desaquecimento do emprego e dos salários. Consequentemente, a probabilidade de elevação adicional de 0,25 ponto percentual – não necessariamente no próximo encontro, em setembro, mas talvez em novembro – subiu.
Taxa de câmbio: entendemos que fatores domésticos e externos pesaram na revisão para 29 de dezembro de 2023 (de R$ 4,93 para R$ 4,95). Além da possível fuga de capitais em virtude do movimento ascendente dos juros americanos, temos observado diversos sinais ruins vindos da China – nosso principal parceiro comercial. Ademais, balanços corporativos piores do que o esperado, as preocupações com o equilíbrio das contas do governo com o arcabouço fiscal e os resultados da nova política de preços da Petrobras no Brasil são questões relevantes para a depreciação na nossa visão.
Avaliação do Índice do Banco Central (IBC) de junho de 2023
Definição: o IBC fornece um termômetro do nível de atividade através da combinação de estatísticas setoriais (manufatura, comércio, serviços, construção civil, ocupação, entre outras).
Informações para o Brasil:
→ Jun-23 / Mai-23: +0,63%, depois do ajuste sazonal;
• Dado veio praticamente em linha com o consenso entre os especialistas sondados pela Reuters (+0,60%);
• Parte da alta se deve à pequena base de comparação, uma vez que em maio houve recuo expressivo de -2,05%;
→ 2º trimestre de 2023 / 1º trimestre de 2023: +0,4%, na série corrigida pela sazonalidade;
• Perda do ímpeto do crescimento após o forte aumento causado pela agropecuária na leitura imediatamente precedente (+1,0%);
• O segmento primário seguiu contribuindo positivamente entre abril e junho, embora num ritmo menor;
• A dissipação de parcela dos efeitos benignos da safra de grãos, a desaceleração da geração de empregos formais e os juros elevados continuaram exercendo influência de baixa;
E o Rio Grande do Sul?
→ Jun-23 / Mai-23: -0,50%;
• Desempenho por categorias: produção industrial (-0,5%), vendas do varejo ampliado (+1,7%) e faturamento real dos serviços (+0,7%);
→ 1º semestre de 23 / 1º semestre de 22: +5,3%;
• Mesmo com todos os problemas decorrentes da estiagem, a tendência é de que a safra de grãos 22/23 supere a passada. Segundo estimativa da CONAB em agosto, a produtividade subirá +9,3%. No entanto, caso a previsão esteja certa, ainda ficaremos 28,4% inferiores ao patamar verificado no ciclo 2020/2021;
• Indústria permanece sendo o destaque negativo (volume ofertado pelo parque fabril caiu 6,0%), em função do enfraquecimento da demanda externa e do custo do crédito caro;
• No sentido oposto temos os serviços (+7,4%), que se beneficiam do mercado de trabalho resiliente e dos desdobramentos da acomodação do choque provocado pela pandemia – realocação dos gastos das famílias de bens para o ramo terciário na medida em que o quadro sanitário melhorou;
Índice do Banco Central (IBC)
(Var. % em relação ao período anterior)
Fonte: Banco Central. *Com ajuste sazonal. | Elaboração: AE/CDL POA.
Conjuntura econômica: PNAD do 2º trimestre de 2023
→ Taxa de participação do Brasil, de 61,6% – estável em relação à leitura imediatamente precedente –, segue distante do patamar pré-pandemia. O indicador mostra o percentual de pessoas em idade ativa (acima de 14 anos) ocupadas ou que estão buscando vaga sem lograr êxito;
Taxa de participação – Brasil
(Em %)
Fonte: IBGE / PNAD Trimestral. | Elaboração: AE/CDL POA.
• A medida pode ser interpretada como um termômetro da atratividade do mercado de trabalho;
• Conforme levantamento da consultoria LCA, o movimento difere do verificado em boa parte dos países do continente americano, cujos níveis já são comparáveis à época anterior à COVID-19, incluindo Estados Unidos, Chile, Colômbia e Canadá (exceções são Uruguai e México);
• Uma possível explicação para o fenômeno diz respeito ao efeito da potencialização dos programas sociais na oferta de mão de obra;
• Por um lado, houve expansão significativa do benefício médio do Auxílio Brasil / Bolsa Família: de R$ 224 em dezembro de 2021 para R$ 705 em junho de 2023;
• Ademais, o desenho de política pública não é adequado: como a distribuição dos recursos ocorre para cada domicílio, muitos casais passaram a declarar que moravam sozinhos, quando na realidade isso não acontecia;
→ Ambos os fatores provavelmente geraram desestímulos à procura por um serviço, sobretudo para o contingente de baixa qualificação;
Rio Grande do Sul:
→ Dinâmica da taxa de participação gaúcha não é a mesma do quadro nacional: os 66,1% no 2ºT/23 (majoração de 0,2 ponto percentual sobre o 1ºT/23) são praticamente idênticos ao valor constatado em igual janela de 2019 (66,2%);
→ Taxa de desemprego: 4ºT22 (4,6%); 1ºT23 (5,4%); 2ºT/23 (5,3%):
• Elevação no primeiro trimestre no confronto com os três últimos meses do ano prévio é sazonal, pois diversos contratos temporários para dar conta da demanda das festas de fim de ano terminam. Além disso, existe uma retomada natural a partir de março/abril com o encerramento do período de férias de verão para estudantes e colaboradores;
→ População ocupada entre o segundo trimestre de 2022 e 2023: de 5,795 para 5,941 milhões.
• Avanço teve influência fundamental dos celetistas da iniciativa privada (de 2,297 para 2,466 milhões) que, via de regra, ganham mais do que aqueles que não possuem carteira assinada;
• Tal fato, aliado à desaceleração da inflação, contribuiu para que a massa de salários registrasse aumento real: de R$ 17,3 bilhões para R$ 18,7 bilhões;