Poupança precaucional: o que é e qual o seu destino?

Poupança precaucional: o que é e qual o seu destino?

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JANEIRO, 2021

Notícias

Em situações de incerteza, muitas famílias optam pela postergação de despesas com bens e serviços. Esse tipo de comportamento é uma reação natural ao aumento da probabilidade de eventos negativos no futuro, incluindo a perda da renda.

Diante da importância do tema, a Fundação Getúlio Vargas conduziu, em novembro de 2020, uma sondagem para investigar um pouco mais sobre a chamada “poupança precaucional” – valores acumulados pelos agentes em cenários de imprevisibilidade –. Além do componente relacionado à dificuldade de antecipar o amanhã em um contexto de pandemia, vale ressaltar que nem todos os recebimentos decorrentes da injeção maciça de liquidez promovida pelo governo federal para amenizar a crise, principalmente via auxílio emergencial, se transformaram em desembolsos.

Como resultado dessa dupla combinação, somente a modalidade tradicional da caderneta foi responsável pela captação de R$ 167,5 bilhões (deflacionados pelo IPCA) entre março e dezembro de 2020. Trata-se do equivalente a 2,26% do PIB de 2019, segundo o IBGE.

Em primeiro lugar, a pesquisa mostra que 37,7% constituiu reservas, adotando assim uma postura previdente, contra 60,7% que não procederam da mesma forma (não houve retorno de 1,6%).

Especificamente a respeito da alocação da sobra de recursos, apenas 25,6% deseja gastá-la parcialmente, e uma parcela ínfima (1,4%) em sua integralidade. A esmagadora maioria (73,0%) deve manter o capital guardado, sugerindo uma leitura cautelosa no tocante à evolução do panorama.

Entre as finalidades apontadas para o dinheiro, destaque para os pagamentos correntes (31,2%). Essa necessidade denota um aperto no fluxo de caixa, sobretudo nas classes baixas, em que o percentual ultrapassa 40%. Já os itens que podem favorecer o comércio são: viagem de férias (15,0%), aquisição de artigos duráveis (11,6%), quitação de dívidas (8,0%), cuidados pessoais (6,8%) e lazer (1,0%).

Ainda nesse sentido, 65,4% acreditam que a utilização do excedente ocorrerá nos próximos 6 meses, o que, na nossa interpretação, é outro sinal de desconforto com a condição financeira.

Em suma, o levantamento evidencia a reticência dos entrevistados com o quadro da economia. Se considerarmos o exercício hipotético onde 27% da poupança gerada fosse inteiramente revertida em compras, teríamos um impulso de 0,61% no PIB. Esse montante, todavia, representa o teto dentro da atual conjuntura. Logo, a melhora da questão sanitária e das perspectivas do mercado de trabalho é fundamental para normalizar o consumo.

*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA

 

Data

13 janeiro 2021

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