Destaques Econômicos CDL POA

Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira

Produto Interno Bruto: a projeção para 2022 permaneceu em +0,30%. Ao longo dos últimos sete dias foram revelados indicadores setoriais com sinais mistos. Por um lado, tanto o varejo restrito quanto os serviços em dezembro de 2021 em relação ao período imediatamente precedente (-0,1% e +1,4%, respectivamente), nas séries com correção sazonal, vieram melhores do que o esperado pelos analistas sondados pelo Valor Data (-0,6% e +0,9%, pela ordem). Por outro, houve frustração com o desempenho do Índice do Banco Central de atividade econômica na mesma base de comparação supracitada (+0,33%), contra aumento calculado de +0,5%. Além disso, a CONAB cortou a estimativa para a safra de grãos 2021/2022: de 284,4 milhões de toneladas para 268,2 milhões, ou seja, queda de 5,7%. A causa fundamental dessa revisão é o fenômeno climático La Niña, afetando, sobretudo, os estados da Região Sul e parte do Mato Grosso do Sul.

IPCA: o prognóstico avançou pela quinta semana consecutiva (de +5,44% para +5,50%). Ainda que o dado oficial de janeiro (+0,54%) tenha vindo praticamente em linha com o consenso de mercado (+0,55%), acreditamos que alguns aspectos qualitativos da estatística criaram uma visão pior para a dinâmica aguardada no futuro. Em primeiro lugar, a difusão da alta – quantidade de itens investigados com crescimento nos preços – atingiu 73,2%, bem acima do registrado em igual intervalo do ano anterior (65,5%). Também chamou a atenção a média dos núcleos (+0,87%) – medidas que tentam minimizar a influência dos componentes tipicamente voláteis – e o incremento dos bens industriais (+1,22%). Cabe ressaltar, por fim, a continuidade do encarecimento do barril de petróleo, fruto dos desdobramentos do possível conflito entre Ucrânia e Rússia.

Taxa SELIC: o grande destaque do Relatório FOCUS foi a mudança antevista para os juros básicos em dezembro, subindo de 11,75% ao ano para 12,25% ao ano. Agora, a expectativa é de que após a elevação de 1 ponto percentual na reunião de março do COPOM, ocorra uma nova majoração de 0,50 p.p. em maio, e não apenas de 0,25 ponto percentual. Ademais, o patamar resultante, de 12,25% ao ano, deverá seguir intacto até o encerramento de 2022. Julgamos que a divulgação da ata do encontro de fevereiro motivou o ajuste, em função das demonstrações de preocupação dos membros do Comitê que no que se refere ao impacto do uso de instrumentos fiscais para controlar a inflação no curto prazo (particularmente os combustíveis), embora os efeitos de médio e longo prazo gerem o movimento oposto.

 

Avaliação dos indicadores de inflação às famílias em janeiro

– O avanço do IPCA em janeiro (+0,54%) veio em linha com o consenso dos analistas sondados pela Bloomberg (+0,55%);

Essa foi a taxa mais elevada para o período desde 2016 (+1,27%);

– A abertura dos dados mostra que o destaque de alta ocorreu em “alimentação e bebidas” (+1,11%);

Acréscimo respondeu por 42,6% da totalidade do índice;

Incrementos preponderantes em frutas (+3,40%) e carnes (+1,32%);

*No primeiro caso, julgamos que o fenômeno reflete, ao menos em parte, os efeitos dos problemas climáticos verificados em diversos estados no tocante à produção do setor primário;

*No segundo, é possível que o resultado ainda seja uma consequência do fim do embargo da China à proteína fabricada nacionalmente em dezembro;

– Por sua vez, a majoração de “artigos de residência” (+1,82%) foi determinada por eletrodomésticos e equipamentos, mobiliário e TV, som e informática.

Entendemos que os números seguem retratando a disrupção da cadeia global de insumos / suprimentos;

– Da mesma forma, “vestuário” subiu +1,07%, influenciado pelo comportamento das roupas e de calçados / acessórios;

Cremos que a pressão advém da demanda reprimida, além da necessidade do segmento em recompor margens após a imposição das medidas de distanciamento social;

– Nos últimos 12 meses, a variação passou de +10,06% para +10,38%.

IPCA da Região Metropolitana de Porto Alegre: o IPCA da RM de Porto Alegre caiu -0,53% – única entre as 16 localidades averiguadas pelo IBGE com deflação. Cabe ressaltar que, a partir de 1º de janeiro, houve a diminuição das alíquotas de ICMS no Rio Grande do Sul, abrangendo tanto as blue chips (energia, telecomunicações e combustíveis) quanto a modal. Nos últimos 12 meses, a variação atingiu +10,13%.

 

Desempenho das vendas do varejo em dezembro de 2021

– O faturamento deflacionado do comércio brasileiro na definição restrita teve queda de 0,1% em dezembro de 2021 em comparação com novembro, depois da correção pela sazonalidade, segundo o IBGE;

De acordo com o consenso dos especialistas sondados pela Refinitiv, a projeção era de recuo de 0,5% nessa base;

*Consequentemente, o resultado em 2021 apresentou elevação de +1,4%;

No tocante ao conceito ampliado, que abarca materiais de construção e veículos / motos, houve aumento de +0,3% no mês, enquanto que, no acumulado dos 12 meses do ano passado, o incremento somou +4,5%;

– Por sua vez, o Rio Grande do Sul avançou +0,4% no mês e +4,0% no ano, considerando a totalidade dos recortes;

A série referente ao nosso estado encontra-se 5,0% abaixo do patamar pré-pandemia (-5,0%).

 

A RELAÇÃO DAS ESTATÍSTICAS COM A CONJUNTURA:

– Naturalmente, a retomada econômica pós-recessão de 2020 ajudou na composição dos números anuais;

No entanto, diversos fatores atuaram para impedir que o crescimento fosse superior, incluindo: (1) mercado de trabalho deteriorado; (2) aceleração da inflação; (3) ciclo de majoração da taxa básica de juros; (4) alta dos custos dos empreendedores determinada pela disrupção das cadeias produtivas; (5) redirecionamento da demanda de bens para serviços.

 

AVALIAÇÃO POR SEGMENTOS:

– A heterogeneidade entre os ramos chama a atenção, conforme a tabela a seguir:

– Categorias que performaram bem em 2021 não estão, necessariamente, com uma situação favorável;

Por exemplo: atividades como “vestuário, calçados e acessórios” e “veículos automotores, partes e peças” no RS permanecem com níveis de receita 13,1% e 15,4% inferiores a 2019, respectivamente;

– Vale lembrar que os indicadores do IBGE capturam somente a dinâmica das lojas com pelo menos 20 funcionários, de modo que cremos ter ocorrido um deslocamento parcial da procura das pequenas para as grandes nos últimos 2 anos.

Data

14 fevereiro 2022

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