Como interpretar o recorde da captação de poupança?
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AGOSTO, 2020
Notícias
O surto do novo coronavírus mudou completamente a dinâmica esperada para diversos indicadores econômicos em 2020. Recentemente, ganhou destaque na imprensa a captação líquida sem precedentes da caderneta de poupança, conforme divulgação do Banco Central. A ideia do presente artigo é tentar compreender as razões do fenômeno em consideração.
O gráfico abaixo mostra a diferença entre aplicações e resgates da modalidade. Todos os valores mensais desde março, período que coincide com a instituição das medidas de distanciamento social para controlar a COVID-19, foram os maiores da história do Plano Real.
Cabe notar que o processo ocorreu a despeito da queda da Taxa SELIC – balizadora da remuneração do capital nesse tipo de alocação. De acordo com a regra vigente, o rendimento equivale a 70% da taxa básica de juros, acrescido da Taxa Referencial (TR), hoje em zero. Sob as premissas atuais – rentabilidade de 1,4% ao ano e IPCA projetado nos próximos 12 meses de 2,95% –, o retorno real é negativo.
Entendemos que três causas ajudam a explicar o avanço tão vertiginoso das estatísticas.
1ª) O auxílio emergencial (coronavoucher), segundo cálculos do Banco do Brasil, mais do que compensou a diminuição da massa salarial determinada pela pandemia.
2ª) Houve redução do consumo de bens e serviços.
3ª) Em um cenário marcado por grande incerteza, os agentes tendem a adotar um comportamento previdente, economizando recursos de forma precaucionária. O objetivo é dispor de dinheiro para fazer frente a eventuais problemas no futuro, incluindo a perda do emprego.
O montante acumulado deve amortecer o impacto do fim das políticas governamentais de combate à crise, o que representa um fator positivo. No entanto, existe um claro limite ao uso desse expediente, de modo que somente o estímulo ao crescimento através de reformas favorecerá a recomposição saudável do mercado de trabalho e da demanda.
Observação: a expectativa de inflação supracitada é do Relatório FOCUS de 14/08/20.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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