O comércio do Rio Grande do Sul confirma a desaceleração, com os números recentes da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados de junho têm queda no volume de vendas nas duas comparações, com maio e o mesmo mês de 2024, logo após as cheias históricas.
O recuo foi de 0,5% no confronto mensal no comércio geral – de supermercado a livrarias e farmácias – e de 1,9% no ampliado, que tem materiais de construção, veículos e atacarejos. Frente a julho de 2024, a queda foi de 2,2% (restrito) e de 5,7% (ampliado). No Brasil, os dados vieram com queda também: -0,1% no restrito e -2,5% no ampliado frente a maio, e -0,3% e -3% ante 2024, respectivamente nos dois recortes.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank, cita que o grupo ampliado teve a maior queda desde fevereiro de 2021. Ele lembra que o segmento chegou a subir 9% em 2024. A PMC indicou recuo de 20,4% em veículos, de 9,9% em materiais de construção e de 1,9% em atacarejos.
Nos setores, apenas confecções e farmácias não sentiram a esfriada frente a 2024 – com 6% e 3,4% de avanço, respectivamente, no volume. Confecções chama a atenção e está ligada a reposições de roupas mais quentes, parte associada a doações que marcaram o mesmo período do ano passado associadas aos impactos das cheias históricas.
Mas os demais segmentos passaram junho no vermelho, materiais para escritório e equipamentos (-25,8%), eletros e móveis (-21,4%), livros e papelaria (-13,2%), postos de combustíveis (-3,6%) e supermercados e hipermercados. “As estatísticas estão inseridas em um cenário de perda da tração do comércio”, crava Frank.
A conjuntura continua desafiando as operações. Inflação mantém nível que pressiona gastos – mesmo com alívio em alguns segmentos de alimentos, cita o economista -, juros – perspectiva de recuo da taxa Selic é apenas no fim do ano, mas efeitos mesmo só em 2026 -, e inadimplência. Emprego mantém nível de aquecimento, mas a renda também é mais afetada.
Frank cita que os números do Rio Grande do Sul são mais testados, ao serem confrontados com o cenário do ano passado, quando, nessa época, houve reposição pós-cheias e injeção de recursos via medidas federais e estaduais para contrapor aos impactos de negócios fechados e pessoas que perderam vestuário a mobiliário, além de moradias inteiras.
O cenário para a reta final do ano vai exigir mais controles e ações mais precisas de varejistas, tanto pelo fluxo de caixa (vendas que, na média, estão deprimidas), custo de giro e consumidores que vão ser seletivos na hora de gastar. Mas, claro, a PMC coleta dados de empresas acima de 200 empregados. Pequenos negócios podem ter vantagens de maior conhecimento de seus mercados e relacionamento.
Esses tópicos foram destacados em entrevistas que os dirigentes lojistas deram, ao analisar o ambiente, para o especial do Dia do Comércio. Os dois presidentes – SindilojasPOA (Arcione Piva) e CDL POA (Irio Piva) – acenaram para um desfecho de 2025 nada fácil, mesmo que as principais datas estejam nesse período – Black Friday e Natal.
Fonte: Jornal do Comércio