Para fechar a segunda temporada do podcast C(ON)versão, o sexto episódio fala sobre a educação financeira: o que educação tem a ver com inadimplência? As pessoas financeiramente alfabetizadas são capazes de tomar decisões mais inteligentes sobre suas finanças pessoais. O que leva a uma redução da inadimplência e também na prevenção do endividamento excessivo.
Os convidados Wendy Carraro, professora da UFRGS/Educadora Financeira, e Irio Piva, presidente da CDL Porto Alegre, compartilham conhecimento, experiências e dão dicas essenciais para o desenvolvimento financeiro das famílias e das empresas. A mediação do C(ON)versão é realizada pela jornalista e empresária Alexandra Zanella.
O Indicador de Inadimplência CDL POA aponta que as empresas negativadas a partir de cheques, protestos e ações judiciais somam 13,92% no Rio Grande do Sul e 15,19% especificamente em Porto Alegre, em julho de 2023. E, para as pessoas físicas, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em uma divulgação de 5 de setembro, revelou que oito em cada 10 famílias brasileiras estão endividadas. Destas, 29,6% estão inadimplentes e 10,8% informaram que não terão condições de pagar as dívidas que já estão em atraso.
Alexandra afirma que são números preocupantes e provoca: “Como a gente insere uma educação financeira, para quem está fora dos bancos escolares? Como a CDL POA e esse olhar envolvendo empreendedores e empreendedoras vai nos ajudar a levar informação e melhorar a vida financeira das pessoas?”
O presidente da CDL POA, Irio Piva, considera o tema da educação financeira de extrema relevância: “Um dos meus grandes sonhos para a minha gestão na CDL POA é poder aprofundar o tema da educação financeira com os nossos associados e levar isso para as pessoas que trabalham nas empresas. Considero que a pessoa precisa ter poder de compra, para isso ela tem que estar com a vida em dia, e a melhor maneira para isso é trabalhar esse aspecto da educação financeira. Como a pessoa lida com suas finanças pessoais é algo extremamente importante”.
A professora Wendy Carraro conta que, em 2019, assumiu a coordenação da Olimpíada de Educação Financeira para a gurizada de escola, desde os pequenos até o Ensino Médio. E, na época, teve muita dificuldade em divulgar e sempre dependeu muito de sua rede social e dos próprios meios para conseguir alcançar seu público. Na pandemia, mesmo sem saber como seriam as aulas, a professora decidiu não parar. “Sou muito tecnológica e já coloquei os alunos em link. Tínhamos que nos manter ativos, produtivos e conectados. Eu decidi disseminar o conteúdo de finanças e desenvolvi uma pesquisa e um mural digital colaborativo e com as respostas das pesquisas, comecei a fazer e divulgar cards nas redes da minha unidade”.
Seu trabalho deu um salto em termos de divulgação naquele período. Saiu a notícia no site da Faculdade de Ciências Econômicas e, no dia seguinte, a assessoria de imprensa da UFRGS a procurou. A partir disso, foram mais de 150 aparições dando entrevistas, produzindo conteúdo e curso online gratuito pela plataforma UFRGS. Hoje, Wendy também comanda um programa na rádio da Universidade sobre o tema e, de forma inédita, foi criada a disciplina de gestão de finanças pessoais na graduação.
Irio Piva destaca que a CDL POA conta com uma rede de 164 entidades parceiras que estão de alguma maneira conectadas com a Entidade, consumindo soluções, principalmente de análise de crédito. A CDL POA tem todas as condições de ajudar e entende a responsabilidade porque consegue ter voz. “Nós temos esse senso de responsabilidade. Se assessoramos as nossas associadas a fim de tomarem as melhores decisões para a concessão de crédito, nada melhor do que interferirmos, de alguma maneira, na educação financeira das pessoas para tomarem o crédito. Na medida em que a pessoa tem responsabilidade quando busca o crédito, todo mundo sai ganhando. Aumenta o poder de compra, mais gente tem condições de comprar e também é positivo para o varejo, com possibilidade de vender com mais segurança”, garante.
A palavra crédito representa confiança, por isso dizemos ‘tenho crédito na praça’, ou seja, confiam em mim. Para todo débito, tem um crédito. “Muitas vezes, quando pergunto a uma pessoa quanto cabe no orçamento a parcela de renegociação, ela não sabe dizer. Tem que se ter uma lista de tudo que entra e quanto sai. Educação financeira é saber o quanto ela pode colocar dentro do seu orçamento”, descreve Wendy.
Irio lembra que o cartão de crédito pode ser um perigo para o superendividamento. Quando se tira o dinheiro do bolso, é mais fácil ter um controle. É importante entender como funciona o psicológico das pessoas. Dentro da empresa, vamos dizer que um livro custe R$10. Uma pessoa não é capaz de desperdiçar uma nota de R$10, mas deixa o livro desperdiçado, a pessoa não percebe que está perdendo o valor ou até muito mais. Existem muitas formas de desperdiçar, economizar, organizar a vida financeira, independentemente de serem coisas tangíveis.
Segundo a educadora, existe o conceito da alfabetização financeira que se constitui basicamente sob quatro pontos: 1 – fazer contas de matemática; 2 – entender a questão dos juros; 3 – ter ideia do que é o impacto de uma inflação e; 4 – Risco, saber tomar riscos.
O presidente da CDL POA reforça que é defensor ferrenho da educação financeira e que uma das responsabilidades das entidades é contribuir para a sociedade: “Primeiro, porque está na essência do nosso negócio de análise de crédito. Temos dentro da CDL POA uma área de recuperação de crédito, esse assunto está no nosso dia a dia. A gente defende a classe de lojistas. Mas, para que o lojista possa andar bem, ele precisa vender. Fazer com que as pessoas comprem de forma responsável. Faz parte do nosso projeto do trabalho de educação financeira que não fique somente dentro da CDL POA, tem que reverberar, levar para fora e ajudar as pessoas”.
Ao final do episódio os convidados dão dicas de educação financeira:
• Colocar na agenda o dia e a hora que a pessoa vai parar para olhar para as finanças. É importante ter esse tempo. Vale também para os negócios.
• Não importa o quanto você ganha, importante é ter em mente que um pequeno percentual deve se transformar em poupança para que se possa atender a uma necessidade ou realizar um sonho.
• Muitas vezes, as pessoas vão transformando tudo que ganham em padrão de vida e assim vão sempre gastando tudo que tem. Então, quando vem um aumento, guarde e não assuma mais custos fixos.
• Mapear todas as despesas. Saber qual é o seu custo de vida e, às vezes, fazer revisões dos supérfluos.
• Buscar conhecimento. A prosperidade é garantida quando se começa a dar atenção para as próprias finanças.
