Com a enchente, dinheiro público e privado foi injetado no orçamento dos gaúchos, como adrenalina para reanimar uma economia à beira de um colapso. Ajudas que não estavam previstas. Recursos que entrariam mais tarde e foram antecipados. Bancos ofereceram pausa por até seis meses no pagamento de empréstimos. Pudera, era preciso repor o que foi levado pela água. Mas esses alívios, agora, cobram um preço: – Tivemos uma queda brusca em maio e retomada forte em junho. Porém, não sabemos o quanto esse movimento é sustentável – avalia o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank. Trocando em miúdos, ele diz que não há como saber quanto desse dinheiro foi preservado para voltar a pagar contas pausadas e equilibrá-las com as outras despesas: – Podemos estar diante de um gargalo nos orçamentos.
Com juros altos para tomar crédito (a Selic está em 10,75% e deve subir mais), pode levar a uma situação de descontrole. Para evitar isso, a dica número 1 é planejar. Um bom profissional lhe dirá que não há receita de bolo. Eis aí, talvez, o maior desafio: encontrar o que funciona para cada um. Pode ser o caderninho, planilha de Excel ou aplicativo de celular. O importante é estar confortável e comprometido. A disciplina será a grande parceira – e, às vezes, algoz – em busca de resultados, que devem ser factíveis. Nada de criar algo impossível. Comece por um diagnóstico financeiro. – Meu conselho é um raio X de tudo que entrou e saiu e das despesas. Além de projetar o que receberá e terá que pagar – afirma o planejador financeiro certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) Stefano Tremea. Depois, liste prioridades. Como um norte, ele propõe imaginar uma Pirâmide de Maslow – usada para hierarquizar necessidades.
Na base, o que deve ser atendido primeiro, como aluguel, água, luz, supermercado, educação e saúde. Despesas que podem ser ajustadas por redução de consumo. No topo, as realizações pessoais e o lazer, da ida ao restaurante às férias. São os supérfluos e desperdícios, que podem em parte ser cortados. Financeiro Fixadas as prioridades, é hora de planejar de fato e de mãos dadas com a realidade – sem metas inalcançáveis. E o orçamento que deve se adaptar à renda, e não o contrário. – Uso a analogia da água. Quando vai faltar, juntamos uma reserva e racionamos. Com o dinheiro, é igual – diz a planejadora financeira certificada pela Planejar Leticia Camargo. A parcimônia também é defendida por Tremea. Ela discorda que a virada de ano seja sinônimo de aumento das despesas. – Se vai se endividar, precisa rever. Pode ser uma boa chance de repensar sua ideia de educação financeira – defende. Outra convergência é a reserva de emergência, que deve corresponder ao custo de vida por um período médio de seis meses. – Um trabalhador de carteira assinada pode ter menos, mas um autônomo deve ter seis ou mais. Esse dinheiro deve estar em um investimento conservador, como um título de renda fixa como o CDB, que renda pelo menos 100% do CDI, ou no Tesouro Selic – alerta Tremea. Construir a reserva quando as finanças estão estranguladas pode não ser possível, mas deve ser prioridade. – Uma estratégia é ter uma aplicação automática, porque o dinheiro entra e já é destinado. Se deixar para final do mês, pode não sobrar – sugere Letícia.
Fonte: Zero Hora / Acerto de Contas