O COPOM diminuiu de forma inédita os juros básicos da economia em três anos, de 13,75% para 13,25% ao ano. Na ata da reunião do Comitê, os membros sinalizaram que o plano de voo para os próximos encontros envolve reduções sucessivas de meio ponto percentual no curto prazo. Agora, os analistas voltam suas atenções para discutir a taxa terminal, ou seja, aquela que marca o fim do ciclo de baixa.
As negociações dos investidores no mercado financeiro, que já chegaram a embutir 8,75% ao ano, projetam para o encerramento de 2024 entre 9,5% a 9,75% ao ano. Essa faixa supera a mediana dos especialistas sondados pelo Relatório FOCUS, do Banco Central, em seu levantamento do dia 1º de setembro (9,00% ao ano). Entendemos que três obstáculos principais inibem a intensificação do atual movimento de declínio.
O primeiro está atrelado ao expansionismo fiscal do governo, incluindo medidas como: (1) valorização real do Salário Mínimo – e as consequências sobre os desembolsos de benefícios previdenciários; (2) a ampliação do limite de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física; (3) reajuste do funcionalismo; (4) relançamento do “Minha Casa, Minha Vida”; (4) potencialização das transferências sociais via “Bolsa “Família”, entre outros. Diante da dificuldade existente para buscar fontes de receita que permitam que a nova regra de controle da despesa funcione minimamente, há ceticismo sobre a capacidade de contenção do avanço do endividamento do Setor Público como proporção do PIB ao longo do tempo.
Trajetória esperada da Dívida Bruta do Setor Público
(Em % do PIB)
Fonte: Banco Central / Relatório FOCUS (01/09/2023). Tesouro Nacional. *Projeção para o cenário de referência realizada no mês de julho. | Elaboração: AE/CDL POA.
O segundo motivo é o desempenho do nível de atividade. As perspectivas para o PIB de 2023, por exemplo, continuam sendo revisadas para cima. Em janeiro, os prognósticos acusavam +0,8%, enquanto que o cenário para +3,0% hoje é bastante realista. O acontecimento não é um caso isolado. No ápice da pandemia, as estimativas apontavam que a recessão em 2020 poderia atingir -9,0%, mas o recuo foi de “somente” 3,9%. Em 2021 e 2022, o grau de surpresa positiva em relação ao imaginado no início de cada ano pelo Relatório FOCUS e o dado efetivo foi de cerca de 2,5 pontos percentuais. Fenômeno igualmente importante diz respeito à robustez da ocupação, com a sustentação de taxas de desemprego relativamente deprimidas para os padrões históricos e certa resiliência das vagas com carteira assinada. Tal fato naturalmente pressiona os preços dos serviços (IPCA variou +5,6% nos últimos 12 meses até julho).
Por sua vez, o ambiente externo permanece incerto. Temos observado o aumento do retorno dos títulos da dívida dos Estados Unidos (treasuries de 10 anos), cujo pico em uma década e meia (4,34% ao ano) foi alcançado recentemente. Por um lado, a inflação americana segue expressiva, a despeito da desaceleração verificada desde meados de 2022. Além disso, a complexidade do panorama para o futuro das contas públicas colaborou para o rebaixamento da nota de crédito por parte da agência internacional Fitch. Ademais, o próprio desaquecimento da China e a depreciação do Yuan fizeram com que o comando do país asiático vendesse treasuries para proteger sua moeda, o que também influenciou na alta dos rendimentos dos papéis em função do encolhimento da procura.
Em suma, os vetores listados representam desafios para o COPOM. A soma das forças impossibilita que a política monetária seja mais frouxa, afetando negativamente o crescimento do produto.