Quais as consequências do recorde da safra de soja para o Rio Grande do Sul?
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ABRIL, 2021
Notícias
O setor primário e todas as cadeias conexas na indústria e nos serviços apresentam notável relevância na estrutura da economia gaúcha. No Brasil, por exemplo, a participação do agronegócio no PIB em 2019, conforme a CEPEA e a CNA, alcançou 19,4%. Já para o Rio Grande do Sul, a parcela correspondente é ainda maior: 40%. Entre as culturas, destaque principal para a soja, cuja razão no somatório de grãos é de 56,4%.
Estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dão conta de que a receita de venda da mercadoria em questão atingirá R$ 50,7 bilhões em 2021, ou seja, patamar inédito na série histórica. Em primeiro lugar, a cotação internacional está elevada, em função dos estoques mundiais deprimidos e da ávida demanda da China. O país asiático não só foi proporcionalmente menos afetado pela pandemia em relação a outras nações, como também atravessa por um momento de recomposição do rebanho de porcos, que acabou, em boa parte, dizimado pela peste suína africana – o farelo é utilizado na alimentação dos animais –. Em segundo, a taxa de câmbio exibiu considerável depreciação desde o começo de 2020, gerando ganhos expressivos de rentabilidade aos exportadores, o que diminui o provimento doméstico.

Ademais, de acordo com os dados da FARSUL, nunca houve um descolamento tão substancial entre os preços pagos aos produtores (+91,0% nos últimos 12 meses até fevereiro) e os custos da lavoura (+14,6% em igual base de comparação).
Apesar desse cenário, é necessário atentar para dois pontos. Tivemos, no ano passado, perdas significativas no campo, decorrentes da estiagem, resultando em queda de 29,2% na produtividade. Tal fato dificultou a situação financeira dos ofertantes, que, em muitos casos, precisarão encaminhar os empréstimos e despesas restantes em atraso. Além disso, o Dólar alto pressiona os gastos com defensivos, fertilizantes e demais químicos oriundos do exterior. Nesse sentido, haverá drástico aumento dos desembolsos para a viabilização do próximo ciclo de colheita, de modo que o efeito sobre o PIB – medida de valor adicionado – será atenuado.
Portanto, acreditamos que o impacto seja positivo, embora localizado no tempo.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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