Recentemente, o FMI divulgou seus prognósticos atualizados para diversas variáveis relevantes. Entendemos que as análises contribuem para a construção de cenários para o futuro e para orientar a tomada de decisão dos agentes.
A estimativa para o PIB global em 2024 permaneceu em +3,2% em comparação com o exercício preditivo realizado em julho, enquanto para 2025 tivemos uma leve redução (de +3,3% para +3,2%). Logo, o ritmo prosseguirá substancialmente inferior ao verificado entre 2000 e 2019, antes do coronavírus (média anual de +3,7%).
No entanto, a composição regional apresentou mudanças. O desempenho calculado para os Estados Unidos no presente ano subiu de +2,6% para +2,8%, graças à expansão dos salários reais. Já para 2025, a expectativa alcança +2,2%, a partir da perda de tração esperada para o mercado de trabalho americano. No caso da Zona do Euro, a situação é inversa. O ponto de mínimo ocorreu em 2023 (+0,4%), de modo que o bloco acelerará, ainda que de maneira modesta, amparado pelas exportações de manufaturados em 2024 (+0,8%) e pelos rendimentos da mão de obra e o barateamento do crédito em 2025 (+1,2%).
Especificamente a respeito dos emergentes, parte sofreu revisão para baixo. Somado ao clima desfavorável, existem territórios importantes para a oferta de commodities, especialmente petróleo, envolvidos em guerras. Porém, houve uma compensação oriunda de certos países asiáticos em função dos recursos aplicados em inteligência artificial para a fabricação de semicondutores e eletrônicos. No que se refere à China, o movimento é de frenagem gradual: +4,8% em 2024 e +4,5% em 2025.
O Fundo chama a atenção para o balanço de riscos do nível de atividade, cujos vetores negativos se sobrepõem aos benignos: (1) eventuais choques de volatilidade; (2) aumentos repentinos de preços em virtude, entre outros fatores, da geopolítica; (3) persistência da recessão no setor imobiliário chinês, transbordando para os demais segmentos e também para além das próprias fronteiras via comércio exterior; (4) recrudescimento do protecionismo e os impactos para os custos da cadeia de insumos e suprimentos.
A boa notícia é que depois de ter atingido incremento anual de +9,4% no terceiro trimestre de 2022, a inflação mundial computada para o encerramento do ano que vem é de 3,5%, ou seja, aquém da média pré-pandemia (3,6% ao ano). Apesar da estabilização dos bens, os serviços continuam pressionados em muitos locais, fruto da realocação dos orçamentos após a reabertura pós-COVID. O fato é positivo, pois tem viabilizado cortes de juros pelas nações com estágio avançado de desenvolvimento.
No que tange ao Brasil, o PIB previsto para 2024 passou de +2,1% em julho para +3,0%. O forte crescimento do consumo das famílias e dos investimentos, provocados pelas taxas de desocupação deprimidas, transferências da União e efeitos menores do que o antecipado em um primeiro momento das enchentes no Rio Grande do Sul determinaram a alteração. Por sua vez, o patamar antevisto para 2025 diminuiu de +2,4% para +2,2%, em linha com o desaquecimento do emprego e da renda causados pela política monetária restritiva.
Entre as recomendações para os governos estão: (1) reformas estruturais para fomentar a produtividade; e (2) a contenção da trajetória ascendente das dívidas públicas. Esse é um tema que ganhou notabilidade devido às consequências das medidas adotadas para o enfrentamento da crise sanitária de 2020/2021 e das necessidades decorrentes do envelhecimento populacional, da transição para o uso de matrizes de energia limpas, etc. Desafios à vista, portanto.