O presidente da CDL Porto Alegre, Irio Piva, foi entrevistado, nesta terça-feira (08/11), no programa “Atualidade”, da Rádio Gaúcha, dentro da série que está ouvindo líderes de entidades empresariais a respeito das expectativas para a atuação dos novos governos estadual e federal. “Independentemente de termos gostado ou não do resultado, precisamos olhar para a frente. Acredito que o segmento do comércio, em um primeiro momento, será beneficiado porque a manutenção do auxílio de R$ 600 tende a ir diretamente para o consumo. A preocupação é a médio e longo prazos, porque esta conta vai chegar. O remédio para ajudar as pessoas, se não for bem controlado, pode trazer problemas. É necessário dizer às pessoas que a conta chegará com juros e correção monetária. Ainda que o governo federal tenha o intuito de atender os mais necessitados, precisa ter esse cuidado no esclarecimento e também em relação ao déficit fiscal”, ponderou o presidente.
Diante do questionamento sobre medidas como isenção de Imposto de Renda, cuja tendência é pressionar as contas públicas, e redução de tributos a fim de estimular a atividade econômica e aumentar a arrecadação, Irio Piva defendeu que toda a iniciativa que incentivar o empreendedorismo, a produção e o consumo na medida certa é bem-vinda. “Quanto maior a atividade na economia, maior o benefício coletivo, pois há mais tributo e renda também. É um ciclo virtuoso que vimos aqui no Estado, com a diminuição dos tributos de energia e combustível, pois não criou um problema tão grave, ajudou a arrefecer a inflação, e o mercado voltou a se movimentar”, argumentou.
No âmbito estadual, o presidente avaliou a continuidade de Eduardo Leite à frente do governo como superpositiva, pois, independentemente do lado, o fato de os gaúchos terem reelegido o governador denota uma certa maturidade: “Ele é uma pessoa aberta e sensata, já sai na frente porque conhece os problemas e os desafios que precisamos enfrentar em 2023, como o déficit próximo a R$ 3,7 bilhões no orçamento e o início do pagamento do regime de recuperação fiscal do Estado”, detalhou Piva, que defendeu a privatização da Corsan. “Isso é muito importante, pois, além de a Corsan ser administrada de forma mais eficiente, os recursos que vão entrar no cofre poderão ajudar a desburocratizar, incentivar a livre iniciativa e a gerar emprego e renda”, complementou.
A respeito da reforma tributária ser realmente implementada pelo novo Congresso, Piva tem convicção de que há condições, porém, dúvida se haverá vontade política: “Um dos grandes problemas das empresas hoje não é só a carga tributária – que, claro, também não pode aumentar – mas a burocracia para pagar os impostos. Dentro das empresas, nós deslocamos muita gente apenas para controlar tributos, sendo uma improdutividade a ser resolvida. Então, essa simplificação do sistema traria mais eficiência às empresas e à máquina pública, colocando o Brasil em um patamar de competitividade internacional muito maior.”
O presidente também abordou as dificuldades na cadeia de suprimentos, que contribuíram para o aumento da inflação. Para ele, os países, em geral, cometeram um erro grave nos últimos 20 anos ao entregarem à China a posição de grande supridora da produção industrial. “Agora, com os problemas causados pela pandemia, o mundo percebeu que não pode ser tão dependente. Por isso, em âmbito federal, o governo precisa reindustrializar o Brasil e estimular o empreendedorismo. Ao produzir aqui mesmo, gerando emprego, renda e tributos, o País ficaria livre dessas oscilações na cadeia de logística. É verdade que tivemos muitas ocorrências fora do nosso controle, como a guerra na Ucrânia, no entanto, se tivéssemos uma produção estabelecida, nossos problemas seriam menores”, finalizou Irio Piva.