Por que os indicadores de inadimplência estão recuando?
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OUTUBRO, 2020
Notícias
De acordo com as instituições participantes do Relatório FOCUS, do Banco Central, o PIB do Brasil encolherá -5,03% em 2020 – maior retração para um único ano em toda a série histórica, iniciada em 1901. Apesar do tombo projetado para a atividade econômica, os índices de restrição ao crédito apresentaram declínio nos últimos meses. A situação, portanto, é instigante: como pode a inadimplência ter caído em plena crise?
Quatro elementos ajudam a explicar esse fenômeno no tocante aos consumidores:
1) Coronavoucher: estudos mostram que o auxílio emergencial mais do que compensou o impacto da recessão sobre a massa de salários.
2) Comportamento previdente das famílias: em cenários caracterizados pela incerteza, os agentes costumam guardar recursos de forma precaucional. Os dados de captação da caderneta de poupança comprovam a tese, pois os depósitos têm superado as retiradas como nunca antes visto desde março. Dito de outra maneira, quanto mais difícil for antever o futuro, menor é o estímulo para o gasto com bens e serviços hoje. Logo, essa “sobra” acaba, em determinadas circunstâncias, direcionada para a quitação de dívidas.
3) Redução da Taxa SELIC: com a queda dos juros básicos, os devedores conseguem renegociar seus débitos a um custo inferior.
4) No pior momento da pandemia, os bancos permitiram o adiamento dos pagamentos por 60 dias.
Também é importante mencionar o fato de que muitas empresas aumentaram os investimentos em estruturas de cobrança e no desenvolvimento de produtos para reaver os valores em atraso. Algumas organizações, inclusive, flexibilizaram suas políticas de crédito, com o intuito de fortalecer o relacionamento junto aos seus respectivos clientes.
A mesma tendência é verificada no que diz respeito à insolvência das pessoas jurídicas. Nesse caso, os programas do governo federal voltados para amparar as firmas contribuíram para o movimento.
Contudo, é necessário monitorar o quadro de perto, uma vez que diversas das medidas fiscais do poder público postas em marcha no período vigente perderão sua validade a partir de 2021, em um contexto marcado por um mercado de trabalho ainda bastante combalido.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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