Por que comer fora está mais caro na Grande Porto Alegre - CDL POA

Por que comer fora está mais caro na Grande Porto Alegre

Trabalhando no centro de Porto Alegre, a captadora Ester de Matos, 23 anos, escolhe a dedo os dias nos quais troca a marmita por um lanche no horário de almoço. Já a técnica em enfermagem Carla Pires, 57, viu algumas das refeições rápidas que costuma consumir fora de casa ficarem mais caras ou perderem tamanho nos últimos meses. Na outra ponta, donos de bares e restaurantes fazem malabarismo para equilibrar o orçamento diante do aumento de custos.

Esses são alguns dos retratos do encarecimento da alimentação fora de casa. Em um ambiente com inflação persistente e juro em patamar histórico, trocar a comida feita em casa por refeições na rua ficou ainda mais pesado no bolso dos brasileiros e dos gaúchos.

O preço da alimentação fora do domicílio subiu 8,57% na região metropolitana de Porto Alegre no acumulado de 12 meses fechados em maio. Essa alta é a maior para esse recorte de tempo nos últimos cinco anos e acima do índice geral de inflação no período (4,66%) na região. O patamar também está acima da média nacional (7,70%).

Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aumento de custos nas operações de bares e restaurantes, demanda que ainda segue aquecida com emprego resiliente e recomposição após perdas ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

Mudanças de hábitos

Citada no início da reportagem, a técnica em enfermagem Carla Pires prefere preparar a maior parte das refeições que consome no dia a dia. Além de conseguir uma qualidade mais próxima dos seus gostos pessoais, essa opção também está relacionada ao aumento dos preços de pratos feitos e lanches na rua, segundo a moradora do bairro Parque Santa Fé, na zona norte da Capital. Na sexta-feira (13), por volta das 12h30min, Carla comia um prato com carne, ovos, batatas fritas, torradas e salada no segundo piso do Mercado Público de Porto Alegre.

— Eu normalmente venho aqui porque eu gosto da comida, dos lanches. Eu sempre tiro assim, uma vez ao mês, ou de 15 em 15 dias, para comer uma “bobagem”. Há dois meses, eu estive aqui e eu comparei os preços. Achei que estão bem diferentes. É diferente também até as porções. Achei que diminuiu a qualidade, teve uma diferença na quantidade também — analisa.

A captadora Ester de Matos apreciava um xis em uma das lancherias que ficam defronte ao Mercado Público. Junto dela, estavam duas colegas, Priscila Salvatori, 35 anos, que também comia um xis, e Carla Adams do Nascimento, 58, que saboreava uma porção de salada em um pote pequeno, enquanto esperava a marmita esquentar no micro-ondas do bar.

As três afirmam que, com o preço dos lanches cada vez maior, a marmita ganha ainda mais protagonismo nas refeições diárias em meio ao trabalho. O lanche acaba ficando para o dia de pagamento, sexta-feira e fim de semana, segundo Ester:

— A gente dá prioridade para comer um lanche no final da semana, em casa. No dia a dia, é marmita para economizar. Mas chega sexta-feira, vamos comer um negócio diferente, sabe. A gente também merece.

Moradores de Florianópolis (SC) e em Porto Alegre a passeio, o casal Sidnei Dias, 56 anos, e Célia Bittencourt, 64, sente a alta de preços para comer fora em ambas as capitais. Diante desse cenário, as refeições em casa acabam ganhando força, com as saídas ficando para viagens ou ocasiões especiais, segundo Dias:

— A gente, quando sai, às vezes dá uma viajada e come fora, mas, na maioria das vezes, ficamos em casa. Fazemos uma pizza, refeições em casa mesmo. Porque se for fazer tudo fora, se torna muito caro.

Motivos para a alta

As recorrentes altas nos preços de alguns produtos e serviços que o país vem enfrentando pressionam o ramo de alimentação fora de casa, obrigando donos de bares e restaurantes a repensar os preços no cardápio.

— Nós temos que incorporar o efeito de diversos custos que os empresários acabam tendo, incluindo, por exemplo, insumos, energia, mão de obra, que é algo extremamente relevante — cita o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank.

Frank também lembra que o setor foi duramente impactado pela pandemia de covid-19 e pela enchente de maio de 2024, perdas pelas quais os empresários ainda buscam recomposição.

João Melo, conselheiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio Grande do Sul e proprietário do tradicional Gambrinus, reforça esse peso na estrutura dos bares e restaurantes:

— Eu sempre comento que não reajustar preço no cardápio é morrer no longo prazo, porque tudo está subindo no Brasil. É um imposto novo a cada semana, é uma alíquota majorada a cada hora, é uma nova regra trabalhista. Tudo penaliza muito o empresário e isso acaba gerando um índice inflacionário lá na ponta. Se não reajustar preço, você vai acabar perdendo o negócio. A margem no setor de restaurantes já é mínima.

Melo afirma que os custos com mão de obra estão no topo dos que pressionam o setor.

Emprego aquecido

O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a pressão no preço da alimentação fora de casa também responde ao mercado de trabalho ainda aquecido:

— Apesar da inflação estar alta, o desemprego está baixo. Então, com o desemprego baixo, as famílias acabam consumindo mais, principalmente a alimentação fora de casa. Esse aquecimento do mercado de trabalho se traduz em demanda mais aquecida e uma pressão mais forte sobre serviços, que é de onde tem observado a maior resistência à queda de preços.

No trimestre móvel encerrado em abril de 2025, a taxa de desemprego ficou estável, em 6,6%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Além disso, o emprego com carteira assinada bateu recorde.

Segundo Braz, o segmento de serviços como um todo, pegando outras áreas, como venda de seguros, serviços de educação, serviços médicos, vem mostrando uma persistência inflacionária maior, “traduzindo uma demanda mais aquecida”.

— Então, enquanto a demanda estiver forte e ela é sustentada pela baixa taxa de desemprego, esses segmentos vão apresentar uma resistência maior à desaceleração da inflação — pontua o economista.

Próximos meses

Esse movimento de alta dos preços em bares e restaurantes ocorre em um momento em que os valores de alguns alimentos básicos começam a desacelerar. No acumulado de 12 meses fechados em maio, a alimentação no domicílio apresentou alta de 1,24% na Grande Porto Alegre, abaixo dos 3,05% verificados no mesmo período do ano passado. A descompressão nesse grupo ocorre em meio a uma série de tentativas do governo para baratear alguns itens — como zerar tarifas de importação e desburocratizar de regras de comercialização — e safra melhor em algumas regiões.

No caso da alimentação fora de casa, o economista-chefe da CDL Porto Alegre projeta preços ainda pressionados em razão da demanda:

— A gente imagina que a alimentação fora de casa ainda vai variar bastante. Talvez não na mesma proporção que estamos vendo agora, mas ainda deve ser bem significativo. Porque isso está muito atrelado às condições de demanda. E quando a gente olha as perspectivas de demanda, a nossa expectativa é de uma desaceleração, um desaquecimento apenas gradual da economia. Isso, de alguma forma, colabora aí para que a gente tenha uma inflação fora do domicílio ainda resiliente, ainda em patamares elevados.

Fonte: GZH

Data

17 junho 2025

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