A tese de que o ciclo de alta da taxa básica de juros nos Estados Unidos chegou ao fim está cada vez mais consolidada. Além da probabilidade diminuta implícita nas negociações do mercado financeiro (cerca de 2,3% de acordo com a CME Group), um dos diretores do Banco Central dos EUA, Christopher Waller, afirmou que vê a “política monetária bem posicionada para trazer a inflação à meta de 2,0%”. Consequentemente, o nível corrente das fed funds (entre 5,25% a 5,50% ao ano) seria suficiente para alcançar o objetivo de preservar o poder de compra da moeda. Diante da superação dessa etapa, a discussão em torno da extensão do intervalo em que juros seguirão no atual patamar até que comecem a cair adquire importância.
De fato a inflação vem dando bons sinais. Se considerarmos a medida preferida do Federal Reserve, ou seja, o núcleo do PCE – preços dos gastos dos consumidores excluindo recortes tipicamente voláteis, como alimentação e energia – decresceu para terceira oportunidade consecutiva no acumulado dos últimos 12 meses: de +3,7% em setembro para +3,5% em outubro. Ademais, a média móvel em três meses corrigida pela sazonalidade e anualizada, que fornece uma noção a respeito da dinâmica de curto prazo, atingiu 2,4%. Portanto, o termômetro, apesar de sujeito a distúrbios, gravita próximo ao alvo.
Outra notícia positiva é de que após o crescimento robusto do PIB no terceiro trimestre (+5,2% em ritmo anualizado no comparativo com o período imediatamente anterior com ajuste sazonal), a tendência é de que diversos indicadores setoriais – indústria, comércio varejista e emprego – continuem perdendo ímpeto, algo que geraria menor pressões de demanda sobre o PCE. Ainda assim, existem riscos que necessitam de monitoramento, como: (1) questões geopolíticas; (2) a própria resiliência demonstrada pela economia americana, que recorrentemente surpreendeu os analistas; e (3) os embates partidários envolvendo o orçamento público e o teto da dívida.
A antecipação dos cortes das fed funds provavelmente traria fluxo de capitais para os emergentes, como o Brasil, e, mantidas todas as demais variáveis relevantes constantes, ajudaria a valorizar o Real em relação ao Dólar. Logo, o COPOM teria segurança para perseverar no processo de redução da Taxa SELIC no Brasil.
No entanto, ao contrário do que apontam as transações dos investidores (43% de chance de queda já em março de 2024), acreditamos que o início do movimento de baixa deve ficar apenas para a segunda metade do ano que vem. Por conseguinte, a autoridade monetária ganha tempo para observar o desempenho de amplo conjunto de dados e, se for o caso, inclusive acelerar o passo se o cenário estiver evoluindo conforme o esperado.