Os efeitos econômicos das políticas de Donald Trump nos EUA

Os efeitos econômicos das políticas de Donald Trump nos Estados Unidos

Os primeiros dias do mandato de Trump como Presidente dos EUA foram marcados pela edição de uma série de decretos e diversos tipos de declarações a respeito das medidas que tendem a ser adotadas no futuro. Um dos temas de destaque envolveu a atualização das diretrizes que tornam mais rígido o processo de imigração, como por exemplo: (1) uso das Forças Armadas nas regiões de fronteira; (2) suspensão momentânea do programa de refugiados; (3) inviabilidade de concessão de cidadania automática para os filhos dos que estão com situação irregular ou são visitantes temporários; (4) reforço de barreiras físicas. O endurecimento das regras deve repercutir sobre o emprego e outras variáveis relevantes.

De acordo com o levantamento da National Foundation for American Policy, os nativos responderam por uma parcela muito pequena da expansão da oferta de mão de obra entre 2019 e 2024: o contingente atingiu 479 mil pessoas, o que representa apenas 12% do total. Já os imigrantes adicionaram à força de trabalho 3,6 milhões de indivíduos, abocanhando 88% do conjunto. Quanto maior a escassez de recursos humanos, maior é a disputa entre as firmas por esse importante fator de produção, o que aumenta os ganhos de salários e, por sua vez, as pressões de demanda.

Além disso, Trump afirmou que pretende instituir tarifas nos artigos trazidos do México e do Canadá (da ordem de 25%), assim como da China (10%), a partir de 1º de fevereiro. A estimativa do PIIE acusa que em 2021 a participação dos importados do país asiático na cesta de consumo das famílias americanas nos principais índices de preços (CPI e PCE) alcançava 2,0% e 2,7%, respectivamente. Os impactos potenciais dependerão não só da efetiva aplicação como do tamanho do repasse dos custos ao valor de venda e do grau de substituição (quando possível). Em contrapartida, Christopher Waller, diretor do FED (autoridade monetária dos EUA), disse recentemente que não acredita que a majoração das alíquotas reverberará significativa e persistentemente do ponto de vista da inflação.

Por fim, Trump deve estender o corte de impostos para pessoas físicas e jurídicas instaurado em 2017 e que expiraria no presente ano. Conforme o Congressional Bugdet Office (CBO), o governo deixará de arrecadar US$ 4,6 trilhões ao longo de 10 anos, lembrando que o déficit orçamentário dos EUA em 2023 chegou a US$ 1,65 trilhão, ou seja, 6,2% do PIB. Logo, existe um duplo efeito: incentivo ao crescimento por um lado e continuidade dos desequilíbrios fiscais por outro.

As políticas supracitadas guardam relação porque contribuem para alimentar os preços. Como resultado, o Banco Central precisa manter os juros mais elevados com o intuito de preservar o poder de compra da moeda, algo que colabora para a atração de capitais para os EUA em busca de rentabilidade. A discussão é pertinente por conta do contexto de reaceleração da inflação, de modo que as últimas leituras no acumulado em 12 meses voltaram a se distanciar da meta de 2,0%.

O panorama descrito ratifica a necessidade do Brasil em fazer seu dever de casa, atuando de forma prudente na gestão das contas públicas visando a atenuação de choques externos.

Data

27 janeiro 2025

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