Ao longo de 2024, o real fechou o ano com uma depreciação de aproximadamente 28% contra o dólar em comparação com 2023. Três razões ajudam a compreender o fenômeno. Em primeiro lugar, as incertezas fiscais pautaram a economia brasileira, em virtude da flexibilização das metas para o superávit no conceito primário em 2025 e 2026 e da decepção dos investidores com o pacote de revisão dos gastos do Governo Federal anunciado no encerramento de 2024.
Em segundo, ainda no âmbito doméstico, o mercado nutriu dúvidas a respeito da autonomia na condução da política monetária com a transição de comando no Banco Central. Em terceiro, a resiliência do nível de atividade americano e a eleição de Donald Trump geraram uma reprecificação no tocante a cortes de juros mais parcimoniosos nos Estados Unidos.
Após ter atingido o pico nominal de R$ 6,21 no dia 02 de janeiro, a taxa de câmbio apresentou tendência claramente declinante desde o dia 17 do mês passado, saindo de R$ 6,06 até ficar abaixo dos R$ 5,80. O que justifica esse movimento?
1) Trump vem adotando uma postura menos protecionista em relação ao imaginado no início do seu mandato. Acordos com o México e com o Canadá suspenderam provisoriamente as tarifas de importação. No caso da China, muito embora as alíquotas tenham subido (e o país asiático retaliado), os 10% são bem menores do que a promessa de campanha (60%).
2) O risco geopolítico caiu em decorrência do cessar-fogo entre Israel e Hamas. Além disso, os líderes da Rússia e da Ucrânia têm mostrado disposição em negociar para dar fim ao conflito entre as nações.
3) A perspectiva de manutenção da Taxa SELIC elevada por tempo adicional foi reforçada com base na divulgação da ata da reunião do COPOM realizada em janeiro. No documento, o Comitê reconhece que a desaceleração do crescimento – listada como fator que pode conter a inflação – encontra-se em estágio apenas incipiente.
4) Houve moderação dos discursos do Presidente Lula, enfatizando o compromisso com o equilíbrio das contas da União. No entanto, o aumento do limite de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil e possíveis incentivos ao crédito constituem desafios para uma trajetória sustentável das despesas.
É uma tarefa extremamente complexa acertar a cotação futura, dada a multiplicidade de vetores (internacionais e nacionais) que interferem na dinâmica da variável. Todavia, diante do atual cenário externo, é fundamental implementar medidas que reduzam nossa vulnerabilidade a choques oriundos de fora, através, por exemplo, da boa gestão do orçamento público.
