Recentemente o Banco Central divulgou a nova edição do Relatório de Política Monetária (RPM), que traz a atualização do cenário percebido pela autarquia. O levantamento apresenta valiosas informações a respeito do futuro da economia brasileira.
De todos os temas abordados, chamou a atenção não só o decréscimo do PIB estimado para 2025 como também a primeira leitura para 2026. Agora, a previsão é de +2,0% no presente ano, em contraposição aos +2,1% computados em junho. Já para 2026, a variação aguardada é de +1,5%. Caso se confirme, essa será a menor taxa desde 2020, quando a crise determinada pela COVID-19 provocou uma recessão de -3,3%. O objetivo é analisar o que fundamentou a projeção do BC para o ano que vem.
A ausência de impulso semelhante ao de 2025 por conta da supersafra de grãos é apontada como uma das justificativas. Ademais, é possível que tenhamos a incidência do fenômeno meteorológico “La Niña”, que pode prejudicar a dinâmica no campo, especialmente na Região Sul.
Cabe ressaltar que o arrefecimento do PIB deve ocorrer mesmo com inflação e juros inferiores em 2026 no confronto com 2025. De acordo com as expectativas de mercado, o IPCA transitará de 4,83% para 4,29%, enquanto a Taxa SELIC cairá de 15,00% para 12,25% ao ano no encerramento dos respectivos períodos. Além do prognóstico de que o ciclo de queda seja conduzido de forma lenta e gradual, o mecanismo da política monetária opera com defasagem, levando até 18 meses até sua plena materialização.
Outro aspecto refere-se à “baixa ociosidade dos fatores de produção”. Hoje, a mão de obra é cada vez mais escassa, de modo que a taxa de desemprego vem sistematicamente renovando suas mínimas históricas. Parte da explicação do movimento passa pelas transformações demográficas, limitando a quantidade de entrantes.
Por fim, o BC alega a perspectiva de moderação do crescimento global. Conforme o Fundo Monetário Internacional, o PIB mundial subirá +3,0% em 2025 e +3,1% em 2026. No entanto, ambos os números permanecem abaixo do verificado em 2024 (+3,3%) e da média pré-coronavírus entre 2000 e 2019 (+3,8%). Apesar da redução da incerteza em virtude dos pactos comerciais firmados entre Estados Unidos e diversas nações relevantes, o patamar segue acima do usual. Logo, o setor externo não tende a ser uma mola propulsora da demanda por nossos bens e serviços.
Em suma, o BC detalhou alguns dos obstáculos para um melhor desempenho do PIB em 2026. É importante atentar às implicações do quadro para: (1) o bem-estar da população em um contexto de eleições gerais; (2) a arrecadação de impostos, que depende do nível de atividade, inserida em uma conjuntura desafiadora para o atingimento das metas fiscais.