A vitória acachapante de Donald Trump para o cargo máximo do Executivo nos Estados Unidos veio acompanhada também do domínio do Congresso (Câmara e Senado) por parte do Partido Republicano. Convém, portanto, analisar as possíveis tendências a respeito da condução da maior economia do planeta nos próximos 4 anos e as eventuais repercussões para o Brasil.
Em primeiro lugar, o corte de impostos para as empresas americanas instituído pelo então Presidente em 2017, cuja validade expiraria no ano que vem, será renovado. Ademais, não parece haver qualquer predisposição para a contenção significativa de despesas, sobretudo em áreas sensíveis, como os gastos com saúde e com defesa. Logo, além da pressão de demanda para os preços, a sustentabilidade das contas públicas seguirá trazendo preocupação aos investidores.
Em segundo, o endurecimento do controle de imigração é bastante provável. Cabe lembrar que a oferta de trabalho é fundamental para a formação dos salários. Com menos pessoas, o equilíbrio acaba se transferindo para um nível superior.
Por fim, a volta da imposição de tarifas de importação entrará no radar, principalmente de produtos com origem da China. O tipo de protecionismo praticado entre 2017 e 2020 trouxe volatilidade aos mercados em diversos momentos.
Os aspectos supracitados são vetores de aumento da inflação e, consequentemente, de juros mais elevados em comparação com um cenário alternativo. Como resultado, mantidos os demais fatores constantes, o retorno das aplicações em Dólar na renda fixa ganha atratividade, algo que depreciaria as outras moedas, incluindo o Real.
A implementação de sanções do ponto de vista das transações de bens e serviços deve gerar retaliações dos envolvidos, o que pode nos beneficiar pelo redirecionamento da procura por commodities daqui. No entanto, caso o governo Trump consiga obter renegociações que lhe sejam favoráveis, o efeito a médio e longo prazos é negativo para o Brasil.
É importante verificar se, efetivamente, as promessas de campanha serão cumpridas. De todo o modo, entendemos que a relação existente com o Brasil não sofrerá mudanças. Apesar do natural distanciamento ideológico para Lula, julgamos que o pragmatismo continuará sendo predominante. O panorama descrito reforça a necessidade de fazermos o tema de casa através, por exemplo, da minoração dos riscos fiscais domésticos. Tais medidas, como a limitação dos dispêndios, contribuirão justamente para fornecer estabilidade visando a atenuação de choques externos.