A barreira dos 32% foi ultrapassada de forma inédita na Capital, desde o início do levantamento. A inadimplência no RS também atingiu seu maior patamar
Após leve queda em novembro de 2022, o Indicador de Inadimplência CDL POA mostra que, em dezembro, a parcela dos porto-alegrenses com algum tipo de limitação em crédito, cheque ou protesto somou o maior percentual (32,2%) desde de início da séria histórica, iniciada em fevereiro de 2022. No Rio Grande do Sul, os inadimplentes também voltaram a subir após tênue declínio, totalizando 29,6%, patamar levemente maior do que o verificado em outubro de 2022 e também o mais alto da série. Ambos os níveis permaneceram acima da média nacional (29,0%). Os dados foram obtidos a partir da base de restritivos da Boa Vista SCPC, a maior disponível no Estado.
O Indicador de Inadimplência CDL POA mostra que a população adulta negativada alcançou 2,654 milhões no Rio Grande do Sul, e 375,1 mil em Porto Alegre. Entre novembro e dezembro, 18.813 gaúchos ingressaram no grupo, sendo 4.781 porto-alegrenses.
Confira a série histórica na tabela:
Retrospectiva e perspectivas:
Segundo análise do economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, o ano de 2022 foi marcado pela tendência de crescimento dos índices de inadimplência, ainda que o movimento não tenha sido linear. O fenômeno esteve atrelado ao comportamento da Taxa Selic, que seguiu aumentando até agosto e continua elevada desde então. O impacto sobre os consumidores foi atenuado por conta de uma conjuntura relativamente positiva, caracterizada pela queda do desemprego; retomada da massa salarial real dos trabalhadores; intensificação das transferências de renda oriundas do governo; e cortes de impostos, como o ICMS.
No que se refere ao futuro, Frank aponta que o cenário é desafiador em virtude da desaceleração global; da menor demanda reprimida pelos setores mais afetados pela pandemia; do uso de fração relevante da poupança constituída desde o começo do distanciamento social; da sustentação dos juros em patamares altos; e de uma possível estiagem da safra de grãos de verão no Rio Grande do Sul. “Há preocupação a respeito de como os vetores citados podem potencializar a deterioração da situação financeira das famílias em 2023 e, consequentemente, impedir melhor desempenho das vendas para o comércio varejista”, alerta o economista.
Na análise da política monetária, Frank avalia: “Os riscos fiscais têm exercido piora considerável nos prognósticos. A crença dos especialistas consultados pelo Relatório Focus envolve o abrandamento do ciclo de redução dos juros básicos. Antes das eleições, por exemplo, o consenso acusava 11,25% a.a. para a Taxa Selic no fim de 2023. Hoje, a previsão encontra-se em 12,25% a.a. com viés ascendente. Além disso, cada vez mais, agentes apostam na preservação dos atuais 13,75% a.a. até dezembro, em função da forte expansão dos gastos públicos e dos sinais de retrocesso em instituições pró-mercado”.
O economista ressalta ainda que a Taxa Selic opera com defasagem sobre a inadimplência, de modo que o ápice dos efeitos da primeira sobre a segunda ocorre de nove a 12 meses à frente. Como a última majoração por parte do Copom sucedeu em agosto de 2022, existe uma probabilidade bastante razoável de que o pico dos débitos em atraso não seja imediato.
O Indicador de Inadimplência CDL POA é elaborado pelo Núcleo Econômico da Entidade e mede mensalmente a inadimplência dos consumidores do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. O levantamento teve início em fevereiro de 2022 e mostra a parcela de pessoas físicas com algum tipo de restrição a crédito, cheque ou protesto.