Há 10 anos, era difícil encontrar vaga para estacionar na Rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento. Conhecida pela variedade de restaurantes, bares e casas noturnas, ela foi, por anos, a via mais badalada de Porto Alegre. Contudo, desde antes da pandemia, o movimento mudou. Marcas transferiram suas operações para outros bairros, seguindo uma tendência natural de criação de novos points da noite porto-alegrense, ou apenas trocaram de ponto em busca de aluguéis mais baixos.
Hoje, ainda há boas opções para comer na Padre Chagas, mas a rua se aquietou. Está mais voltada a atender os moradores do próprio bairro. Neste cenário, surgiram novos serviços, como farmácia, academia e ótica, além de empreendimentos imobiliários.
De olho nesse novo movimento, os empresários Arthur Bolacell e Gabriel Drumond, sócios do mercado Brasco, locaram, há dois anos, um imóvel de 1948 na esquina da Padre Chagas com a Luciana de Abreu.
“Construímos algo ali já pensado para o bairro. Quando alugamos esse ponto, entendemos que a Padre Chagas estava numa baixa, mas vimos que são fases. Foi uma aposta na baixa para colher na alta depois. Estamos começando a ver isso.” – ARTHUR BOLACELL
Agora, eles estão dobrando a aposta. Bolacell e Drumond assumiram o imóvel ao lado, onde funcionava uma loja de bijuterias, com o intuito de ampliar o mercado. A obra, que começou este mês, deve ficar pronta até o final do ano, projetam os sócios. Com o aumento da área, a operação ganhará uma hamburgueria da marca Lucho Burguer, que já possui uma loja na Rua Mostardeiro.
No Brasco da Padre Chagas estão sendo atendidas, em média, 300 pessoas por dia. Aos finais de semana, o número dobra. Para efeito de comparação, na loja do Bom Fim, são atendidas 2 mil pessoas por dia de segunda a sexta-feira e 4 mil pessoas aos finais de semana.
Perfil residencial e diurno
Antes de abrir — e agora ampliar — a loja da Padre Chagas, os sócios do Brasco consultaram seus clientes por meio do aplicativo Brasco +, para receber sugestões e ideias dos clientes.
— Na fachada, colocamos um QR Code onde as pessoas poderiam nos dar ideias. O público desta loja é mais diurno, pessoas que vão ao local para trabalhar ou apenas tomar café. Não é como na loja do Bom Fim, mas a hamburgueria deve mudar isso — projeta Bolacell.
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Irio Piva considera que a Padre Chagas também foi impactada pelo fechamento de negócios nas ruas de seu entorno. Além disso, credita ao esvaziamento da rua as condições atuais dos edifícios residenciais na região.
“O Moinhos de Vento, como um todo, está sendo transformado. As construções foram ficando mais antigas, não existia mais prédios novos. O público dali se deslocou para a região mais próxima do Iguatemi. Agora, tem muitos prédios sendo construídos, isso estimula a volta do comércio. Esta região deve ser mais procurada nos próximos anos.” – IRIO PIVA, Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA)
Na esquina da Padre Chagas com a Fernando Gomes, a construtora Woss está erguendo um complexo de moradias que terá lojas no térreo. Para viabilizar a obra, foram demolidos os imóveis onde funcionavam os restaurante Paris 6, Constantino Café e Banca 40.
Junto ao novo condomínio, foram preservadas e restauradas as casas históricas onde funcionava o Dado Bier e o Bar do Gomes. Os pontos estão sendo negociados para receber novas operações.
Um projeto anunciado em 2023 traria maior fluxo de pessoas para a Padre Chagas: o novo campus da ESPM. Previsto para ser instalado em um prédio em frente ao Brasco, o empreendimento nunca saiu do papel. Neste ano, o letreiro da universidade foi retirado do local. Procurada, a universidade diz que mantém o plano, mas não dá detalhes.
Endereço consolidado
Já no Bom Fim, o Brasco tem um mercado que pulsa tanto no dia como na noite. Inaugurada em 2020, a unidade acaba de ganhar uma nova operação da Ciao Slice Shop, de pizzas, instalada no lugar da gelateria Freddo, que, por sua vez, foi para outro imóvel na Rua Fernandes Vieira.
A nova marca vem para somar junto com a Doralice (comida saudável) e a Oak’s (burritos), que já estavam no local, além da cafeteria e da padaria operadas pelo próprio Brasco.
No começo de 2026, esta loja passará por uma reforma completa, que exigirá investimento de mais de R$ 500 mil. A ideia, segundo os sócios, é incrementar a parte da cozinha para ampliar o cardápio, assim como foi feito em outras lojas.
— Nesta loja nós atendemos o público que vai do café da manhã à noite. Aquela pessoa que faz seu pré-treino e depois volta para beber vinho — diz o sócio Arthur Bolacell.
Ao todo, o Brasco emprega cem pessoas. Também tem operações no Viva Open Mall, no Instituto Caldeira e na Rua Doutor Florêncio Ygartua, a primeira unidade da marca, que também será completamente reformada em 2026.
Fonte: GZH