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MAI, 2020
Notícias
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira

As previsões para o PIB do Brasil em 2020 se deterioraram outra vez do dia 30/04 para 08/05: de -3,76% para -4,11%. Desde o início do processo de revisão do crescimento, quando a estimativa acusava +2,30% em meados de fevereiro, já são 6,41 pontos percentuais (p.p.) em perdas, equivalentes a R$ 465,1 bilhões em bens e serviços produzidos nacionalmente em 2019. Por sua vez, a variação antevista para 2021 continuou em +3,20%.
No tocante aos índices de preços, o IPCA esperado para 2020 desacelerou de +1,97% para +1,76%. A causa está atrelada à deflação de abril (-0,31%), mais intensa do que a imaginada pelo mercado, sobretudo em função do comportamento dos combustíveis. Todavia, vários grupamentos também registraram os menores níveis para o mês na história do Plano Real, como Artigos de Residência, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas Pessoais e Educação.
Comentários sobre a decisão do COPOM:
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (COPOM) optou, por unanimidade, em diminuir a taxa básica de juros em 0,75 p.p.: de 3,75% ao ano para 3,00% ao ano, surpreendendo uma parcela expressiva dos agentes. Duas razões, no nosso entendimento, foram cruciais para que a dosagem do estímulo ultrapassasse os 0,50 p.p..
Em primeiro lugar, como o último encontro havia ocorrido em 17 e 18 de março – período em que as medidas de distanciamento social começaram a ser adotadas em larga escala no Brasil –, as estatísticas até então disponíveis capturaram apenas uma parte dos efeitos da crise. Agora, o conjunto de informações é maior, e sinaliza para uma recessão mais profunda do que em comparação com o cenário de 45 dias atrás.
Em segundo lugar, os modelos do Banco Central para o IPCA mostram uma situação bastante confortável. Seguem os resultados e as hipóteses assumidas a respeito de algumas variáveis-chave. Vale lembrar que as metas são de +4,00% em 2020, e de +3,75% em 2021.
a) Taxa SELIC em 2,75% ao ano até dezembro de 2020, subindo para 3,75% ao ano até 2021. Taxa de câmbio constante em R$ 5,55, e incremento de 40% do barril de petróleo até o encerramento do presente ano: IPCA em 2020: +2,4% / IPCA em 2021: +3,4%;
b) Taxa SELIC constante em 3,75% ao ano. Premissas sobre câmbio e barril de petróleo iguais à simulação a): IPCA em 2020: +2,3% / IPCA em 2021: +3,2%.
Quais os vetores relevantes para a dinâmica da inflação na visão do COPOM?
Baixa: o encolhimento da atividade econômica acarreta na ampliação da ociosidade, tanto de mão de obra quanto do maquinário instalado nas indústrias. Além disso, diante do recrudescimento da incerteza, consumidores e empresários tendem a agir de forma previdente, poupando uma fração adicional dos seus rendimentos. Por conseguinte, a demanda cai, assim como a pressão sobre os preços.
Alta: o Comitê enfatizou a importância da trajetória fiscal para determinar seus próximos passos. Nesse sentido, o acréscimo de gastos para amenizar a contração da renda, aliado à queda da arrecadação de impostos, devem provocar um forte déficit nas contas públicas em 2020, além de um rombo pior do que o antecipado em 2021. Ademais, o momento é de paralisia no que tange às reformas: não só pelos desdobramentos da pandemia, mas em decorrência da turbulência política. Como consequência, os prêmios de risco podem aumentar sobremaneira, elevando o IPCA.
O que aguardar para o futuro?
O comunicado abre espaço, dependendo da evolução da conjuntura, para uma nova rodada de flexibilização monetária, não superior aos 0,75 ponto percentual dos dias 05 e 06/05. De acordo com a Assessoria Econômica da CDL Porto Alegre, nossa expectativa é de repetição desse corte na reunião de junho.
Comitê de Política Monetária (COPOM) reduz a Taxa SELIC em 0,75 ponto percentual
Apontamentos sobre o panorama econômico:
Taxa de câmbio: as semanas mais recentes foram marcadas por certo alívio nos mercados financeiros por duas grandes razões. Em primeiro lugar, houve o abrandamento da contaminação e da letalidade do coronavírus em importantes polos, como a Europa. Além disso, pacotes de ajuda foram aprovados para amenizar os impactos da atual crise em diversas partes do planeta. Entretanto, o Dólar prosseguiu sua escalada, fruto da perspectiva de que os juros no Brasil sejam ainda mais baixos e por uma extensão de tempo maior do que a imaginada anteriormente. Ademais, novos elementos passaram a compor o cenário: (i) a turbulência política no Brasil; e (ii) a disputa entre Estados Unidos e China sobre a responsabilidade pela pandemia. Dito isto, cremos que os vetores de alta da moeda americana permanecem fortes no curto prazo.
Embora a depreciação cambial exerça influência sobre os indicadores de inflação, através do encarecimento dos produtos importados e da restrição à concorrência com os similares nacionais, acreditamos que o efeito resultante não deverá ser um problema para a continuidade da dinâmica benigna do nível geral de preços. A causa principal é a gravíssima recessão que alveja a economia brasileira e o mundo.
Inflação: o IPCA de março (+0,07%) e o IPCA-15 de abril (-0,01%) foram os menores para os respectivos períodos de toda a história do Plano Real. Diante do tombo da atividade econômica, a pressão de demanda sobre o índice declina consideravelmente. Temos, por outro lado, outras medições mais relevantes para a oferta com incremento significativo, incluindo o IGP-M, cujo movimento está mais suscetível à taxa de câmbio. Todavia, a capacidade de repasse desses custos para a ponta final, seja pela valorização do Dólar ou por disrupções em determinadas cadeias, é muito pequena. Hoje, a conjuntura é caracterizada pelo arrefecimento da renda dos trabalhadores, deterioração da confiança e estrangulamento do canal de crédito, motivado pelo aumento da probabilidade de inadimplência.
No tocante às expectativas para o futuro, houve desaceleração das projeções ao longo dos últimos 45 dias tanto para 2020 (de +3,07% para +1,97%) quanto 2021 (+3,60% para +3,30%). Ambas as estimativas, portanto, estão mais distantes das respectivas metas de +4,00% e +3,75%. Convém lembrar que a variável decisiva para os agentes econômicos não diz respeito à taxa de juros nominal, mas à taxa real, ou seja, aquela que desconta a inflação. Como a SELIC se manteve intacta desde março, a taxa real cresceu, dado que as previsões para o IPCA diminuíram:
Taxa real de juros (ex-ante): SELIC – expectativa para o IPCA 12 meses à frente
Taxa real em 18/03/20: 3,75% ao ano – 3,46% = +0,28% ao ano
Taxa real em 30/04/20: 3,75% ao ano – 2,48% = +1,24% ao ano
Logo, o estímulo advindo da política monetária enfraqueceu, uma vez que a taxa real subiu. Para restabelecer, ao menos em parte, o patamar antigo, faz-se necessário reduzir os juros básicos.
Atividade econômica: a indústria em março sofreu o maior recuo (-9,1% sobre fevereiro, na série com ajuste sazonal) desde a greve dos caminhoneiros de 2018. Por sua vez, o Índice Cielo de vendas do varejo ampliado evidencia que o faturamento nominal cedeu 29,3% no acumulado entre primeiro de março e 29 de abril.

Naturalmente, o prejuízo entre as diferentes categorias é distinto: bens não duráveis caíram apenas -1,4, enquanto os duráveis (-44,6%) e os serviços (-58,4%) sucumbiram. O primeiro recorte contém itens mais essenciais para a sobrevivência e conforto humano, como hiper e supermercados (+16,9%) e drogarias e farmácias (-1,9%), ao passo que o segundo admite a possibilidade de postergação, como vestuário (-64,2%), móveis, eletro e lojas de departamento (-39,7%) e turismo e transporte (-72,9%).
No que se refere ao PIB nacional, alguns organismos preveem quedas iguais ou superiores a -5,0% para 2020. Entre essas instituições, estão: a Unidade de Inteligência da revista The Economist (-5,5%), o FMI (-5,3%) e o Banco Mundial (-5,0%). Já o Relatório FOCUS de 30/04 acusa -3,76% nesse ínterim. Em todos os casos, o ano de 2021 não devolverá todas as perdas relativas a 2020.
Cenário internacional: o PIB global deverá encolher -3,0% em 2020, de acordo com o FMI. Trata-se de uma retração bem mais intensa do que aquela verificada na crise financeira (-0,1% em 2009). Países mais afetados pela COVID-19, e, por consequência, que adotaram cerceamentos mais severos ao funcionamento dos estabelecimentos e à circulação de pessoas, deverão arcar com os maiores danos.
Na separação entre as nações por estágio de desenvolvimento, as avançadas tendem a ser mais atingidas (-6,1% em 2020 e +4,5% em 2021), pois os Estados Unidos e a Zona do Euro foram duramente desestabilizadas pelo colapso sanitário. Já os emergentes devem contrair -1,0% em 2020, e se expandir +6,6% em 2021, posto que a China apresenta peso expressivo em sua constituição, puxando esse conjunto para cima.
A recuperação após a pior fase da recessão deverá ser lenta e gradual. Essa é a sinalização dada no gráfico a seguir, que exibe a trajetória calculada do nível de atividade para os próximos trimestres antes do choque negativo (linhas pontilhadas) e depois (linhas contínuas). Dois fatores sustentam essa leitura: (a) a retirada das quarentenas deve ocorrer paulatinamente; (b) famílias, empresários e o governo precisarão atravessar por um processo de desalavancagem (abatimento de dívidas), em função da escolha pelo consumo presente em detrimento do futuro. Desse modo, todos carecerão de poupança para poder cumprir com suas obrigações, o que reverbera desfavoravelmente sobre a produção, o emprego e os rendimentos.

IPCA registra o menor patamar para abril de toda a história do Plano Real
O IPCA sofreu deflação de -0,31% em abril. Foi a primeira vez, desde o início do Plano Real, em que o nível geral de preços da economia brasileira diminuiu nesse período. A estatística veio aquém do consenso de mercado e das 5 instituições com reconhecida assertividade nas previsões do Relatório FOCUS, do Banco Central: -0,17% e -0,14%, respectivamente, realizadas no dia 30/04 (últimas informações disponíveis). Ademais, se compararmos com a média dos valores ao longo da vigência do regime de Metas para a Inflação, instituído a partir de 1999, houve um distanciamento de -0,86 ponto percentual, segundo com o gráfico a seguir.

O principal destaque foi a queda de -2,66% de “Transportes”, determinada pela redução da cotação do barril de petróleo nas semanas recentes. O do tipo “Brent”, por exemplo, declinou fortemente em fevereiro, março e abril (-12,6%, -42,5%, e -42,6%, respectivamente) em relação aos meses imediatamente anteriores. Cabe lembrar que o acordo entre os membros da OPEP+, envolvendo cortes na oferta para adequá-la à nova realidade da demanda, foi anunciado no dia primeiro de maio. Também ajudaram na contenção do indicador os Artigos de Residência (-1,37%), Saúde e Cuidados Pessoais (-0,22%), Despesas Pessoais (-0,14%) e Educação (+0,00%), que, da mesma forma, exibiram as menores variações de todo o Plano Real.
Por sua vez, “Alimentação e Bebidas” (+1,79%) evitou um recuo ainda maior do IPCA, avançando no ritmo mais intenso em 25 anos. De fato, esses produtos são menos afetados em tempos de crise, dada sua essencialidade para a sobrevivência / conforto humano. Além disso, muitas famílias antecipam consumo diante de momentos de incerteza, construindo estoques. Nesse sentido, se considerarmos o Índice Cielo do Varejo Ampliado, é possível notar que apenas “Hiper e supermercados” registrou expansão significativa entre todos os ramos: entre 05 de abril a 02 de maio, o faturamento nominal cresceu, em média, +18,4% sobre períodos igualmente confrontáveis de fevereiro.
No acumulado em 12 meses, o IPCA retraiu de +3,30% em março para +2,40% em abril: abaixo do limite inferior da meta definida para esse ano, de +2,50%. Em muitos casos, a classe empresarial tem de compensar o atual cenário de fraqueza da procura através de uma compressão da margem financeira, tornando o custo dos bens e serviços mais baratos na ponta final.

IPCA da Região Metropolitana de Porto Alegre: O IPCA da Região Metropolitana de Porto Alegre mostrou deflação de -0,05%, mais branda, portanto, do que a média do Brasil (-0,31%). No ranking nacional, exibiu o terceiro maior valor entre os 16 recortes investigados pelo IBGE, sendo superado apenas por Aracaju (+0,15%) e Rio de Janeiro (+0,18%). Já nos últimos 12 meses até abril, a inflação na RM de POA subiu +1,74%, ou seja, 0,66 ponto percentual inferior ao do BR (+2,40%).
INPC – Brasil: O INPC, usado, entre outros objetivos, para balizar reajustes salariais, encerrou abril com -0,23% de queda, acumulando +2,46% na janela de 12 meses.