Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (23/05/2025). *Mediana. Elaboração: AE/CDL POA..
No cenário internacional, a semana entre 16 e 23 de maio ficou marcada pela atualização da nota de crédito (rating) dos Estados Unidos pela Moody’s: de AAA, ou seja, a classificação mais elevada, para AA+ (um nível inferior). O fenômeno decorreu da avaliação quanto ao enfraquecimento dos fundamentos das contas públicas americanas, de modo que a combinação entre sucessivos déficits e os juros provocou aumento significativo do endividamento. Além disso, a perspectiva é de que os desembolsos continuem subindo durante a próxima década, enquanto a tendência para a tributação é de estabilidade.
O pacote fiscal proposto pelo Presidente Donald Trump foi aprovado pela Câmara dos Deputados e segue agora para o Senado. Afora a extensão do corte de impostos para empresas em vigor desde 2017 e que expiraria em 2025, as medidas garantem isenções extras para o setor empreendedor, a ampliação da quantidade de deduções para heranças e a eliminação de recolhimentos incidentes nas gorjetas. O plano também reduz o Medicaid (cobertura médica para cidadãos vulneráveis), os programas de assistência alimentar e os subsídios para energia limpa. Por sua vez, a segurança de fronteira e a área militar ganharão reforço. De acordo com os prognósticos do órgão CBO (Congressional Budget Office), o impacto esperado é de cerca de US$ 4 trilhões em dívidas ao longo de 10 anos, que se somarão ao estoque corrente de US$ 36 trilhões.
Já no Brasil, destaque para a situação preocupante apresentada no Relatório de Receitas e Despesas do 2º Bimestre de 2025 da Secretaria de Orçamento Federal. Ao revisar a trajetória futura da arrecadação para baixo e os gastos para cima, a União anunciou um contingenciamento (bloqueio) de dispêndios da ordem de R$ 31,3 bilhões. Ademais, optou pelo acréscimo de IOF para operações de crédito, câmbio e previdência privada visando ao fortalecimento do seu caixa. No entanto, a grande polêmica abrangeu a cobrança na alocação de fundos de investimentos no exterior. A deliberação, vista como uma tentativa de controlar os fluxos de dólares, foi muito mal recebida. Diante da repercussão negativa, o governo voltou atrás, porém a majoração de 1,88% para 3,95% na contratação de empréstimos / financiamentos por PJ’s e de 0,88% para 1,95% no caso do Simples permaneceu. A mudança potencializa as consequências da Taxa SELIC em 14,75% ao ano, de tal sorte que o efeito deve ser maior no âmbito dos pequenos negócios, pois estruturas como MEI’s não conseguem acessar outros meios de levantamento de recursos, como o mercado de capitais. Mesmo que parcial, o repasse dos custos aos consumidores finais resultará em pressões sobre a inadimplência.
No que se refere às previsões para 2025, a principal modificação envolveu o PIB (de +2,02% para +2,14%). Acreditamos que o avanço pode ser explicado em função da surpresa positiva com o Índice do Banco Central (IBC) de atividade econômica em março, cujo incremento em comparação com fevereiro (+0,80% na série com ajuste sazonal) praticamente coincidiu com o teto das estimativas dos agentes sondados pelo Broadcast+ (+0,81%).
Avaliação do IPCA-15 em maio de 2025
Observações:
→ A prévia oficial dos preços em maio avançou +0,36%;
• Dado veio inferior em relação ao consenso entre os especialistas sondados pelo Broadcast+ (+0,44%);
→ Consequentemente, o acumulado dos últimos 12 meses passou de +5,49% para +5,40%;
• É a primeira desaceleração registrada depois de três majorações ininterruptas;
• Entretanto, o número permanece elevado (segundo maior patamar desde fevereiro de 2023);
Discriminação das informações:
IPCA-15 – Variação e influência por categorias – Brasil
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE. Elaboração: AE/CDL POA.
O grupo de alimentação e bebidas sempre requer monitoramento, fruto do seu peso relevante para a composição do indicador (cerca de 22% do total). Alguma moderação no crescimento já era aguardada no confronto com abril (+1,14%), mas não na magnitude da leitura (+0,39%). O resultado é o menor desde setembro de 2024 (+0,05%). Outro aspecto que serviu para a contenção do índice envolveu as passagens aéreas (-11,18%), subitem dos transportes (-0,29%). Cabe lembrar que a deflação sucedeu a queda de 14,38% no mês imediatamente anterior, de modo que recuos sucessivos no respectivo bimestre não são comuns de acordo com o comportamento sazonal da série histórica.
Todavia, a energia elétrica sofreu acréscimo de +1,68%, impactando a habitação (+0,67%). O incremento está atrelado à mudança da bandeira tarifária (de verde para amarela) em maio, responsável pela instituição de uma cobrança adicional de R$ 1,88 a cada 100 kWh junto aos consumidores. Por sua vez, destaque para os artigos farmacêuticos (+1,93%) dentro de saúde e outros cuidados pessoais (+0,91%). O encarecimento diz respeito ao reajuste aprovado pela ANVISA de até 5,06% em 31 de março dos medicamentos, cujo efeito costuma ser diluído ao longo do tempo.
No que se refere aos recortes mais sensíveis aos ciclos econômicos, tivemos surpresas positivas no mês, ao contrário da dinâmica recente. Ainda assim, o movimento não foi suficiente para reverter a tendência de alta nas variações anuais, o que mostra que o panorama segue bastante desafiador para a preservação do poder de compra da moeda.
→ Média dos 5 núcleos acompanhados pelo BC: +0,40% (esperado era de +0,47%);
• Acumulado em 12 meses: de +5,02% para +5,12%;
→ Serviços subjacentes: +0,45% (previsão era de +0,56%);
• Acumulado em 12 meses: de +6,40% para +6,56%;
→ Manufaturados: +0,41% (projeção era de +0,50%);
• Acumulado em 12 meses: de +3,92% para +4,07%;
Acreditamos que o caráter benigno da estatística do ponto de vista quantitativo e qualitativo fortalece nosso cenário-base de que a Taxa SELIC não deve voltar a subir. Contudo, vemos espaço limitado para eventuais cortes em 2025.