Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira

PIB: a projeção para o crescimento em 2022 permaneceu praticamente inalterada nos últimos 14 dias, gravitando em torno de +0,5%. Nem mesmo o resultado do Índice do Banco Central de atividade econômica de janeiro bem aquém do esperado (dado efetivo de -0,99% contra estimativa de -0,25%, de acordo com a Reuters) e a queda considerável da confiança das famílias em março (-3,1 pontos ante fevereiro, na série com correção pela sazonalidade), segundo a FGV, provocaram mudanças nos números. O que pode ajudar a explicar essa aparente dicotomia é o pacote de estímulo anunciado pelo governo federal, que inclui as seguintes medidas:
- a) Saque extraordinário do FGTS de até R$ 1.000 para 40 milhões de trabalhadores;
- b) Acréscimo de 35% para 40% da margem de contratação de crédito consignado tendo como garantia transferências de renda (como Auxílio Brasil e o BPC) ou salários;
- c) Microcrédito Digital Simplificado de até R$ 1.000 para pessoas físicas e de R$ 3.000 para MEI’s com taxas de juros levemente inferiores a 2,00% ao mês e prazo de 24 meses;
IPCA: o cômputo para 2022 avançou de +6,59% para +6,86%. Entendemos que parte da modificação diz respeito à divulgação da prévia da leitura de março (+0,95%), que veio acima das expectativas dos agentes sondados pela Reuters (+0,87%).
Taxa SELIC: a ata do encontro do COPOM dos dias 15 e 16 de março sinalizou a intenção dos respectivos membros em concluir o ciclo de aperto da política monetária na reunião subsequente, a ser realizada entre 03 e 04 de maio, com aumento complementar de um ponto percentual – dos 11,75% ao ano vigentes para 12,75% ao ano. Todavia, o Comitê não está limitado ao cenário descrito, abrindo as portas para ampliações superiores caso tenhamos uma deterioração das perspectivas futuras para a inflação – crença de boa parcela do mercado. Julgamos que o risco altista crucial para os preços envolve o comportamento das matérias primas. Por sua vez, a apreciação do Real em comparação com o Dólar constitui fator positivo.
Taxa de câmbio: as causas fundamentais que justificam o movimento supracitado são: (1) entrada de divisas propiciada pelos ganhos das commodities; (2) elevação dos juros domésticos em ritmo significativamente mais veloz do que em outros países, favorecendo o chamado carry trade – fenômeno em que os investidores internacionais tomam dinheiro emprestado a taxas baixas para destinar seu capital onde os retornos são substancialmente maiores, como o Brasil. É possível que os valores descontados das ações nacionais, a realocação de portfólio dos fundos que aplicavam na Rússia para o Brasil, a diminuição de surpresas negativas no front fiscal e no âmbito das eleições também estejam por trás da referida dinâmica.