Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (20/10/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: o crescimento esperado para 2023 caiu de +2,92% para +2,90%. Conforme os números diários, a baixa ocorreu na sexta-feira (20), coincidindo com a divulgação do Índice do Banco Central (IBC) de atividade econômica de agosto, cujo declínio no confronto com julho, na série corrigida pela sazonalidade (-0,77%), veio inferior ao consenso dos especialistas entrevistados pela Reuters (-0,30%).
A surpresa foi causada, predominantemente, por conta do termômetro dos serviços, calculado pelo IBGE. Nessa métrica, o indicador apresentou queda de -0,9%, contrariando o prognóstico dos analistas sondados pela Reuters (+0,4%). A abertura dos dados evidencia que boa parte do decréscimo pode ser explicado pela retração de “alojamento e alimentação” (-2,0%) e de “transportes” (-1,2%). No primeiro caso, agosto não teve fatores pontuais capazes de impulsionar a categoria, como feriados prolongados. Já o segundo naturalmente reagiu à acomodação do choque positivo provocado pelo desempenho dos setores menos cíclicos, como agropecuária e indústria extrativa.
IPCA: a mediana das projeções para o presente ano cedeu de 4,75% para 4,65% entre os dias 13 e 20, em decorrência do comportamento dos preços administrados (regulados pelo governo ou com reajustes determinados por contratos), que passaram de +10,10% para +9,68%. Recentemente, a Petrobras anunciou mudanças nos valores praticados junto às refinarias: barateamento de 4,1% da gasolina e elevação de 6,58% do óleo diesel. No entanto, o peso relativo do primeiro na cesta de consumo das famílias, referente a setembro, atingiu 5,06%. Por sua vez, a relevância do segundo totalizou apenas 0,23%. Além disso, estudo da Austing Rating aponta que o grau de repasse à demanda final costuma ser de 70% quando há diminuição e de 80% para incrementos. Portanto, a influência para o IPCA se dá pela multiplicação dos componentes:
Gasolina: = -0,145 ponto percentual; Óleo diesel: = +0,012;
Logo, a soma entre os impactos resulta em -0,133 ponto percentual, ou seja, quase o tamanho do recuo verificado na estimativa do FOCUS (-0,1 ponto percentual). Ambos estão com uma defasagem de 7% para o mercado internacional, de acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis.
É necessário atentar também às consequências do conflito entre Israel e Hamas, sobretudo em virtude do efeito na cotação do petróleo. O FMI afirma que uma alta sustentada do barril de 10% aumenta a inflação global em 0,4 ponto percentual e reduz o PIB mundial em 0,15 ponto percentual.
Análise das vendas do varejo em agosto de 23
Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) / Variável: faturamento corrigido pelo IPCA / Fonte: IBGE.
Base: Ago-23 / Jul-23, após o ajuste sazonal
Brasil:
→ Conceito restrito: -0,2% – expectativa era de -0,7%, de acordo com o consenso dos especialistas sondados pelo Valor Data;
→ Conceito ampliado: -1,3%;
Rio Grande do Sul:
→ Conceito restrito: +2,0%. Logo, as transações atingiram o segundo maior patamar desde o começo do levantamento, em 2000;
→ Conceito ampliado: +1,1%, de modo que a série alcançou o seu pico desde 2003;
AVALIAÇÃO GERAL:
O comércio restrito gaúcho retomou a trajetória de desaceleração no acumulado dos últimos 12 meses (de +3,7% para +3,3%). Temos agora o menor ritmo de crescimento desde dezembro de 2021 (+2,9%). A acomodação já era aguardada: não só pelo quadro de desaquecimento desse e de outros setores cíclicos, como a indústria de transformação e os serviços, como pela base de comparação elevada. Em 2022, houve aumento de +7,1% sobre 2021, bem acima da média brasileira (+1,0%), apesar dos efeitos da gravíssima estiagem sobre o produto da agropecuária à época. A majoração local foi bastante influenciada pelo salto incomum – desprovido de fundamentação na nossa visão – de combustíveis e lubrificantes (+30,4%).
Por seu turno, o varejo ampliado registrou incremento de +3,4% nos últimos 12 meses, encerrando o quinto mês consecutivo na faixa entre +3,0% e +3,6%. Por um lado, o ramo de veículos seguiu avançando (de +9,6% para +10,3%), embora seja necessária cautela com a interpretação dos números: além da base deprimida (em parte pela disrupção das cadeias logísticas internacionais entre 2021 e meados de 2022), ainda existe descompasso entre oferta e procura. Paralelamente, os materiais de construção permaneceram caindo na referida métrica (-3,0%), não obstante a intensidade das quedas venha diminuindo gradativamente.
ABERTURA DAS ESTATÍSTICAS:
Volume de vendas do comércio varejista* – Brasil e Rio Grande do Sul
(Em variações percentuais)
Fonte: IBGE. *Faturamento deflacionado. | Elaboração: AE/CDL POA.
Discurso do presidente do FED: cenário econômico e perspectivas para os juros americanos
Em manifestação realizada ontem em Nova York, o presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Jerome Powell, expôs um breve panorama sobre os vetores importantes para a condução da política monetária americana.
1) Preços: tendência inequívoca de desaceleração, apesar da leitura menos animadora em setembro.
2) Emprego: uma das causas da resiliência diz respeito à combinação entre ampliação da participação de mão de obra local e imigração. Embora o mercado de trabalho permaneça apertado, termômetros como a abertura de vagas retornaram ao pré-pandemia. Da mesma forma, o avanço dos salários está gradualmente declinando para os objetivos do FED.
3) Atividade econômica: no terceiro trimestre, o PIB deve vir muito forte (+5,4% em termos anualizados contra o período imediatamente anterior, de acordo com o FED de Atlanta), desaquecendo entre outubro e dezembro e também em 2024. A convergência dos preços para 2,0%, com base no comportamento histórico, provavelmente requer o arrefecimento do crescimento da renda para níveis abaixo do potencial.
4) Outros elementos: tensões geopolíticas, como o recrudescimento do conflito entre Israel e Hamas, criam incertezas. Além disso, a escalada dos rendimentos dos títulos da dívida do Tesouro de 10 anos tem colaborado para restringir as condições financeiras.
5) Futuro dos juros: a avaliação é de que o ciclo rápido de elevação ao longo de 2022 e 2023 é capaz de apresentar efeitos defasados para desestimular a atividade. Ademais, o FED seguirá comprometido em manter o balizador do custo do crédito em um terreno que gere moderação da inflação. No entanto, sinais desfavoráveis possivelmente exigirão um novo esforço.