Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (20/01/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
As expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 avançaram pela sexta oportunidade consecutiva, passando de +5,39% para +5,48%. Julgamos que parte da alteração ainda esteja ligada à atualização dos prognósticos com base na surpresa da estatística referente a dezembro de 2022: de acordo com a divulgação do IBGE no dia 10, a majoração totalizou +0,62%, superando, portanto, o consenso dos especialistas (+0,46%).
Outra causa provável diz respeito aos resultados dos termômetros de curto prazo, como os calculados pela FGV (IPC-S). Houve aceleração tanto na 1ª quadrissemana de janeiro (+0,46%) quanto na 2ª (+0,49%) em comparação com o fechamento de dezembro (+0,35%). A principal fonte de pressão no momento reside em “educação, leitura e recreação”, puxada pelos cursos formais. Vale lembrar que o setor foi um dos últimos a retomar seus negócios depois da melhora do quadro sanitário. Nesse sentido, a combinação entre recomposição de margens pelo lado da oferta e fortalecimento da demanda decorrente do retorno às atividades presenciais pesou negativamente.
Em horizontes mais longos, o IPCA também subiu via de regra: de +3,70% para +3,84% em 2024 e de +3,22% para +3,47% em 2026, enquanto as projeções permaneceram em +3,50% para 2025. Aqui, entendemos que duas possíveis razões fundamentaram as mudanças.
A primeira delas envolveu as críticas do Presidente Lula sobre a independência do Banco Central e os objetivos do Sistema de Metas para a Inflação. Além disso, a intenção de cumprir com a promessa de campanha de isentar o Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil mensais eleva as preocupações no tocante à situação fiscal. O segundo motivo é a inércia inflacionária, decorrente da maior indexação carregada dos reajustes de contratos datados dos períodos anteriores.
A piora relativa às perspectivas para o IPCA contribuiu para deteriorar a trajetória aguardada para a Taxa SELIC no futuro. O valor esperado para os juros básicos cresceu para o encerramento de 2024 (de 9,25% para 9,50% ao ano), 2025 (de 8,25% ao ano para 8,50% ao ano) e 2026 (8,00% para 8,25% ao ano). Muito embora as estimativas para o PIB não tenham caído em nenhuma das janelas de tempo disponíveis, a probabilidade de que isso venha acontecer aumenta, uma vez que a manutenção do custo do crédito em níveis altos representa uma amarra considerável para a expansão sustentada do produto.
Avaliação do IPCA em dezembro de 2022
Observações gerais:
→ O IPCA registrou +0,62% em dezembro de 2022;
• Resultado veio bem acima do consenso dos especialistas sondados pela Refinitiv (+0,44%);
→ Houve moderação na métrica dos últimos 12 meses pela sexta oportunidade consecutiva, ao desacelerar de 5,90% para 5,78%, no ritmo mais lento desde fevereiro de 2021 (+5,20%);
• Porém, a variação superou a meta definida para 2022 (+3,50%), com margem de tolerância até +5,00%;
→ A tabela com a abertura dos dados para grandes categorias mostra que dois grupos – “Saúde e Cuidados Pessoais” e “Alimentação e Bebidas” – contribuíram com 0,35 ponto percentual para o avanço em dezembro de 2022, o que significou 56,5% da elevação no agregado;
IPCA – Variação e influência por grupos
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE | Elaboração: AE/CDL POA.
→ Com relação ao primeiro, itens como perfumes (+9,02%), artigos de maquiagens (+5,42%) e produtos para a pele se destacaram (+3,85%);
• Se analisarmos dentro de uma janela ampla, é possível termos uma pista do que aconteceu;
• Em 2021, o recorte “higiene pessoal” subiu apenas 3,14%, em um contexto de dificuldade das empresas do setor em repassar aumentos de despesas – diversas atreladas ao Dólar – por causa dos efeitos de medidas de restrição à mobilidade;
• Já em 2022, a alta foi de 16,69%, em função da melhora do quadro sanitário, que viabilizou a retomada dos eventos presenciais e a ativação da demanda que se encontrava reprimida por bens do tipo;
→ No segundo caso, hortifrutis como tomate e cebola puxaram o crescimento;
• Problemas climáticos e pressões sobre os custos dos produtores deflagrados pela pandemia e intensificados pela guerra entre Rússia e Ucrânia colaboraram para esse cenário em 2022;
→ Majoração do indicador não foi ainda maior em virtude do corte nos combustíveis, ajudando na contenção de “Transportes”;
Cabe sempre lembrar que a origem da perda do poder de compra do Real remete à expansão de moeda por parte do Estado.