Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela) Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (14/10/2022) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: a projeção para 2022 subiu marginalmente entre os dias 07 e 14 (de +2,70% para +2,71%). Cabe destacar que a surpresa positiva relacionada ao desempenho dos serviços no mês de agosto, cujo resultado contra julho (+0,7%, depois do ajuste sazonal) superou a expectativa coletada pela Reuters (+0,2%), não impediu que os cômputos tanto para o produto do setor terciário em 2022 (de +3,45% para +3,40%) quanto 2023 (de +0,75% para +0,73%) caíssem. Por sua vez, o crescimento esperado no agregado para 2023 avançou de +0,54% para +0,59%.
Vale lembrar que, recentemente, o FMI revisou para cima o PIB do Brasil em 2022 (de +1,7% para +2,8%) e para baixo o de 2023 (de +1,1% para +1,0%). Tal fato pode ter exercido impacto sobre as estimativas.
IPCA: parcela da correção do prognóstico para 2022 (de 5,71% para 5,62%) ocorreu devido à divulgação do dado oficial para setembro. A deflação no período (-0,29%) veio mais forte do que a aguardada pelo consenso (-0,26%). Já para 2023 também se verificou queda (de 5,00% para 4,97%), provavelmente em função de uma menor inércia inflacionária herdada do presente ano via atenuação dos mecanismos de indexação.
Taxa SELIC: o tom adotado pelo Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é de cautela no tocante à dinâmica dos preços. Julgamos que a ênfase no compromisso de convergência do IPCA para as respectivas metas representa uma tentativa de afastar a possibilidade precificada por parte das negociações no mercado de juros de que o início do ciclo de redução acontecerá a partir de março de 2023, e não em junho, conforme o Relatório FOCUS.
Avaliação dos indicadores de inflação às famílias em setembro
Observações Gerais
→ O IPCA registrou -0,29% em setembro;
• Menor taxa para o período desde o início da série histórica, em 1980;
• Número veio levemente acima do consenso dos especialistas sondados pela Refinitiv (-0,34%);
• Apenas em 1998 tivemos três deflações consecutivas ao longo do Plano Real;
→ Houve moderação na métrica dos últimos 12 meses pela quinta oportunidade seguida: de 8,7% para 7,2% – ou seja, ritmo mais lento desde abril de 2021 (6,8%);
Quais foram os principais determinantes?
1) Transportes (-1,98%):
→ Influência destacada sobre o agregado: -0,41 ponto percentual;
→ Queda motivada pelos combustíveis (-8,50%);
→ Dados não incorporaram o corte recente da produção da commodity anunciado pela OPEP+;
2) Alimentação e bebidas (-0,51%):
→ Leite longa vida decaiu 13,7%, em virtude do encerramento da entressafra;
→ Já o óleo de cozinha diminuiu 6,3%, na esteira do recuo da soja no mercado internacional;
3) Comunicações (-2,08%):
→ Resultado provavelmente é reflexo da desoneração de ICMS sobre serviços como “acesso à internet” (-10,5%) e “telefonia, internet e TV por assinatura” (-2,7%);
O que impediu um decréscimo maior?
1) Despesas pessoais (+0,95%):
→ As altas de “hospedagem” (+2,88%) e “pacotes turísticos” (+2,30%) estão conectadas à demanda reprimida causada pelo isolamento social.
2) Vestuário (+1,77%):
→ É possível que o incremento seja uma resposta defasada ao encarecimento do algodão em agosto;
→ Também não podemos descartar o efeito gerado pelo retorno das atividades presenciais desde o começo do ano;
IPCA – Variação e influência por grupos
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE. | Elaboração: AE/CDL POA.
Análise da conjuntura internacional e nacional
1) Índice de Preços ao Consumidor (CPI) nos Estados Unidos em set/22;
→ Nova surpresa negativa;
→ O indicador cheio avançou +0,4%, contra elevação esperada de +0,3% pela sondagem do The Wall Street Journal;
→ Todavia, o descasamento que chamou a atenção adveio da métrica relacionada ao núcleo, gerada a partir da exclusão de alimentos e energia – tipicamente voláteis;
• O recorte subiu +0,6%, ao passo que os especialistas apontavam incremento de +0,4%;
• Os principais aumentos ocorreram em itens como hospedagem, aluguel de carros, seguros para veículos e passagens aéreas;
♦ Convém lembrar que, apesar de duas retrações consecutivas no PIB americano, o desempenho do mercado de trabalho permanece robusto, causando pressões de demanda em função das majorações salariais;
• Tal fato sinaliza para uma resiliência da inflação, suscitando temores de que o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) tenha de ser mais agressivo para conter a perda do poder de compra da moeda;
2) Termômetros setoriais brasileiros:
VAREJO – faturamento corrigido pelo IPCA. Fonte: IBGE / PMC.
Ago-22 / Jul-22, após o ajuste sazonal:
Brasil:
→ Conceito restrito: -0,1% – expectativa era de -0,5%, conforme o consenso obtido pelo Valor Data;
→ Conceito ampliado: -0,6% (mediana das projeções era de -0,2%);
Rio Grande do Sul:
→ Conceito restrito: +0,4%;
→ Conceito ampliado: -0,4% – nível é praticamente idêntico em comparação com fevereiro de 2020, ou seja, do intervalo que antecede o início do distanciamento social utilizado para tentar controlar a COVID-19.
Observação: entendemos que as estatísticas de “combustíveis e lubrificantes” são demasiadas altas, e não refletem sua dinâmica recente.