PIB: o prognóstico para o produto em 2022 subiu pela 7ª oportunidade consecutiva, ao avançar de +1,98% para +2,00%. Com base na abertura das projeções pela ótica da oferta, o incremento foi puxado pelo setor terciário (de +2,31% para +2,36%). A mudança ocorreu depois da divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de junho, cuja variação em comparação com maio – +0,7% após o ajuste sazonal – veio acima do consenso dos especialistas sondados pelo Valor Data (+0,4%).
IPCA: a estimativa para 2022 caiu pela 7ª vez, ao diminuir de +7,11% para +7,02%. Entendemos que o recuo, ao menos em parte, pode ser atribuído à leitura oficial de julho, de sorte que a deflação registrada no período (-0,68%) foi ainda maior do que a aguardada pela mediana do mercado (-0,65%, conforme a Refinitiv). Já o cômputo para 2023 conservou-se em trajetória ascendente (+5,36% para +5,38%). Um dos desafios para o ano que vem tem a ver com a dinâmica dos preços administrados – determinados ou regulados pelo poder público –, pois a elevação desse grupamento (+7,04%) deve superar a média. Tal fato está atrelado à temporalidade da medida que reduziu o ICMS de diversos itens considerados essenciais.
Taxa SELIC: de acordo com o modelo que permite extrair a expectativa das apostas dos investidores da B3 com relação à reunião do COPOM de setembro, o cenário majoritário envolve a manutenção dos juros em 13,75% ao ano, com 69% de probabilidade. O caminho alternativo se refere a um aumento de 0,25 ponto percentual (com 26,86% de chances). A continuidade do barateamento das commodities em moeda local atua para reforçar a primeira possibilidade. No tocante à segunda, pressões adicionais de demanda com a sustentação da retomada e dúvidas sobre os fundamentos fiscais constituem riscos.
→ De acordo com a base de informações restritivas da Boa Vista Serviços S.A. – a maior disponível para o Rio Grande do Sul –, o percentual de pessoas físicas com algum tipo de limitação em crédito, cheque ou protesto somou 29,4% no RS e 31,6% em Porto Alegre no encerramento de julho de 2022;
• Além de superarem a média nacional (28,7%), ambos os percentuais são os maiores desde o início do levantamento, em fevereiro;
Indicador de Inadimplência da CDL Porto Alegre
(Em %)
Fonte: Boa Vista SCPC.
Elaboração: AE/CDL POA.
→ Nossas estimativas sinalizam que a população adulta (acima de 18 anos) inadimplente é de 2,634 milhões no RS, e de 368,4 mil em POA;
• Na passagem de junho para julho, 8.959 gaúchos passaram a integrar esse grupo;
Avaliação dos Dados: entendemos que, mesmo com o alívio da inflação no mês, os preços seguem bastante elevados considerando intervalos de tempo mais longos, pressionando o orçamento das famílias. Os efeitos defasados do aumento de juros sobre a atividade continuam a pesar negativamente. Além disso, o mercado de trabalho, a despeito da forte retomada, segue gerando renda inferior ao patamar pré-pandêmico, em função dos patamares consideráveis de informalidade e da inflação alta. Vale destacar que o indicador não capturou o efeito da chamada “PEC dos Benefícios”, uma vez que a aceleração transferências de renda via Auxílio Brasil, vale-caminhoneiro, vale-taxista, entre outros, começou apenas em agosto.
Outras caracterizações:
Quase metade das pessoas com restrição no Rio Grande do Sul tem entre 25 e 44 anos.
Avaliação dos indicadores de inflação às famílias em julho
Observações gerais:
→ O IPCA registrou -0,68% em julho;
• Trata-se do valor mínimo da série histórica, iniciada em 1980;
• Número veio inferior ao consenso dos especialistas sondados pela Refinitiv (-0,65%);
→ Houve desaceleração no acumulado dos últimos 12 meses, porém a taxa permaneceu em dois dígitos: de 11,89% para os atuais 10,07%;
→ A medida de difusão – percentual dos itens com crescimento nos preços – diminuiu de 67% para 63%, ou seja, a menor desde março do ano passado;
O que determinou o resultado?
1) Lei Complementar 194/22, responsável pelo corte de ICMS em combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público;
2) Redução de R$ 0,20 da gasolina anunciada pela Petrobrás no dia 20 de julho, em função do barateamento da cotação do barril de petróleo;
• Consequentemente, gasolina (-15,48%) e etanol (-11,38%) apresentaram recuo expressivo;
3) Autorização de Revisões Tarifárias Extraordinárias das contas de luz de dez distribuidoras em nível nacional por parte da ANEEL;
• Tal fato, aliado à queda de tributação, provocou retração de 5,78% no fornecimento ao consumidor final;
4) Baixa do algodão, afetando o ritmo dos avanços de roupas masculinas (de +2,19% para +0,65% e femininas (de +2,00% para +0,41%);
• Movimento está em linha com a reprecificação das commodities, refletindo a possibilidade de uma recessão global e, por conseguinte, o arrefecimento da procura;
O que impediu um decréscimo ainda maior?
1) Leite longa vida (+25,46%) e seus derivados, como queijo (+5,28%) e manteiga (+5,75%), encareceram sobremaneira;
• Entressafra e custos de produção altos ajudam a explicar essa dinâmica;
Análise de outros recortes:
→ O segmento atrelado aos serviços, mais sensível ao mercado de trabalho, subiu +0,80%, contra +0,90% em junho;
• Passagens aéreas (+8,02%), por exemplo, seguiram pressionadas pela questão cambial e pela demanda reprimida com a melhora do quadro sanitário;
• Do ponto de vista qualitativo, o índice agregado continua resiliente no curto prazo;
IPCA – Variação e influência por grupos
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE.
Elaboração: AE/CDL POA.
Avaliação das vendas do varejo em junho de 2022
Variável analisada: faturamento corrigido pelo IPCA. Fonte: IBGE / PMC.
NÚMEROS DO RIO GRANDE DO SUL:
Confronto: jun-22 / mai-22, após o ajuste sazonal:
→ Conceito restrito: -1,8%;
→ Conceito ampliado: -2,0%;
Comentários:
→ É fundamental ponderar que o RS vinha de quatro altas consecutivas (entre fevereiro e maio), conforme o gráfico abaixo:
Volume de vendas do comércio varejista restrito* – Rio Grande do Sul
(Variação % em relação ao período imediatamente anterior – com ajuste sazonal)
Fonte: IBGE. *Faturamento deflacionado.
Elaboração: AE/CDL POA.
No referido intervalo, segmento registra aumento de 16,2%;
• Julgamos que o desempenho não encontra amparo com a evolução de indicadores relevantes;
• Vale lembrar que, nesse ínterim, o Rio Grande do Sul sofreu com uma estiagem severa da safra de grãos – no primeiro trimestre, o recuo do PIB foi de -3,8% contra os três últimos meses de 2021;
→ Consequentemente, o efeito estatístico gerado pela base bastante elevada é um dos motivos que ajuda a explicar a retração do comércio gaúcho em junho;
→ Além disso, a pesquisa não capturou o impacto da redução de ICMS para certos bens e serviços, pois a queda da tributação passou a vigorar a partir de julho;
• Da mesma forma, a aceleração das transferências sociais via “PEC dos benefícios” começou somente em agosto;
Volume de vendas do comércio varejista* – Brasil e Rio Grande do Sul
(Em variações percentuais)
Fonte: IBGE. *Faturamento deflacionado.
Elaboração: AE/CDL POA.