Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Central do Brasil / Relatório FOCUS (09/05/2025). *Mediana. Elaboração: AE/CDL POA..
No que se refere à onda protecionista liderada pelos Estados Unidos, tivemos o anúncio de acordos temporários importantes: Reino Unido e China. O primeiro mantém a sobretaxa de 10% para a entrada de produtos britânicos no território americano, mas promove cortes para alguns setores, como veículos (de 27,5% para 10%) e a extinção da cobrança para siderurgia (aço e alumínio). Em contrapartida, o Reino Unido concordou em reduzir suas tarifas de 5,1% para 1,8%, além de facilitar o acesso de bens provenientes dos Estados Unidos, como, por exemplo, carne bovina e etanol. O segundo caso diz respeito à queda de 145% para 30% da alíquota estabelecida pelos EUA às importações oriundas do país asiático e de 125% para 10% no que tange ao ingresso de artigos americanos na China.
Por sua vez, o IPCA previsto para 2025 saiu de 5,53% para 5,51%. Na última sexta-feira, o dado de abril (+0,43%) veio basicamente em linha com as expectativas dos analistas. Contudo, os chamados indicadores subjacentes dos preços – aqueles cuja aderência aos ciclos econômicos é maior por causa da exclusão de grupos tipicamente voláteis, como alimentos e energia – continuaram bastante pressionados, o que representa naturalmente um desafio para o COPOM. O cenário é marcado não só por um aquecimento significativo do emprego como também por diversos incentivos postos em marcha pelo governo federal para alavancar a demanda.
Outra novidade relevante da presente edição envolveu a trajetória esperada para a Taxa SELIC. É bem verdade que o nível aguardado para o encerramento de 2025 permaneceu em 14,75% ao ano, porém, agora, o mercado acredita que não haverá incremento residual de +0,25 ponto percentual na reunião de junho. Julgamos que a mudança deriva do tom utilizado no comunicado da decisão da semana passada, em que o balanço de riscos do IPCA deixou de ser altista (probabilidade de aceleração superior à de desaceleração) para ser neutro. O entendimento é de que o movimento de elevação do balizador do custo do crédito encontra-se em estágio avançado e que as incertezas na atual conjuntura exigem cautela e flexibilidade. Ademais, o Comitê reiterou que a política monetária opera com defasagem, ou seja, ainda não foram sentidos os efeitos plenos dos aumentos dos juros básicos sobre a inflação.
Já o prognóstico do PIB para 2025 seguiu em +2,0%, apesar da surpresa positiva com o desempenho do parque fabril em março. Conforme o IBGE, o volume ofertado pela indústria expandiu +1,2% em relação a fevereiro, na série com ajuste sazonal, ultrapassando o teto das estimativas obtidas pelo Broadcast+ (+0,7%). Enquanto a extração mineral subiu +2,8%, a transformação (+0,9%) contou com crescimento em 16 dos 25 ramos pesquisados. No entanto, o acumulado entre janeiro e março registrou praticamente uma estabilidade em comparação com o período imediatamente anterior (+0,1%).
Avaliação da reunião do COPOM – maio de 2025
O COPOM aumentou a Taxa SELIC pela sexta oportunidade consecutiva em 0,5 ponto percentual. De acordo com a série histórica, o patamar resultante (14,75% ao ano) remete a julho de 2006.
Por que o Comitê optou pelo movimento?
1) Nível de atividade no Brasil permanece resiliente. Existem sinais de desaquecimento, porém incipientes;
2) Mercado de trabalho continua robusto;
3) Inflação corrente pressionada, principalmente das medidas subjacentes (aquelas que excluem componentes tipicamente voláteis), como o núcleo dos serviços.
4) Expectativas para o IPCA distantes da meta de 3,0%: a despeito da melhora observada no consenso entre as projeções dos analistas (Relatório FOCUS) para 2025 (de 5,66% para 5,53%), houve deterioração para os anos de 2026 (4,48% para 4,51%), 2028 (de 3,78% para 3,80%) e 2029 (3,60% para 3,73%).
Aspectos quantitativos:
Como a política monetária opera com defasagem, a previsão do próprio BC para o IPCA dentro do “horizonte relevante” leva em consideração 18 meses à frente, ou seja, o ano de 2026. No confronto em relação ao prognóstico anterior, tivemos um recuo de 3,9% para 3,6%.
Outros destaques:
a) Balanço de riscos para o IPCA deixou de ser assimétrico para cima (probabilidade de uma aceleração maior do que de uma desaceleração) e passou a ser equilibrado. A mudança deriva da adição da possibilidade de que a baixa da cotação internacional das commodities reverbere de forma prolongada na moderação do índice;
b) Reconhecimento de que o atual ciclo de elevação dos juros encontra-se em estágio avançado;
c) Incertezas decorrentes da conjuntura (ênfase para o que vem acontecendo no exterior, em especial nos EUA) demandam cautela e flexibilidade (grifo nosso), assim como fora assinalado por alguns diretores do BC em manifestações públicas antes da decisão;
d) Nova menção ao fato de que os acréscimos recentes da Taxa SELIC não produziram os efeitos plenos;
e) Substituição do termo “firme compromisso” de trazer a inflação para 3,0% por “objetivo”.
Apontamentos finais:
Julgamos que o tom adotado pelo comunicado reforça a chance de encerramento da sequência de altas da Taxa SELIC, muito embora não se descarte um ajuste residual na próxima reunião (+0,25 ponto percentual), a ser realizada em junho.
Conjuntura internacional: análise da decisão do Banco Central dos EUA sobre os juros – mai/25
→ O FOMC manteve a taxa básica de juros dos Estados Unidos (fed funds) na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano;
→ De acordo com o comunicado emitido pela instituição:
• O nível de atividade continuou sólido. É importante lembrar que a queda de 0,3% do PIB no 1ºT/25 (taxa anualizada contra o 4ºT/24 após o ajuste sazonal) decorreu da disparada das importações em virtude do movimento de antecipação de consumo dos agentes econômicos provocado pelas tarifas. Por sua vez, a chamada demanda doméstica seguiu apresentando vigor;
• A incerteza a respeito do futuro aumentou;
• Os riscos de piora do emprego e da deterioração do poder de compra do dólar – típicos de um choque de oferta, como o atual – subiram;
→ Em sua tradicional coletiva de imprensa, o Presidente do FED, Jerome Powell, reforçou que a política monetária encontra-se bem posicionada e que não existe nenhuma pressa para flexibilizá-la;
• Entre os motivos que justificam a referida visão estão: (1) a robustez do mercado de trabalho americano; e (2) a dinâmica recente dos preços;
• Além disso, o declínio significativo da confiança das famílias e o recrudescimento das expectativas de inflação não se traduziram na moderação mais forte dos gastos;
Apontamentos finais:
Julgamos que o FOMC optou por adotar um comportamento de espera. A ideia é ganhar tempo quanto à obtenção de novos dados para estimar as consequências do protecionismo em termos da magnitude e duração para uma série de variáveis relevantes para a determinação dos juros. Logo, acreditamos que a probabilidade de recuo das fed funds na reunião de junho é bastante baixa.