Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (09/08/2024) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
O grande destaque da edição ficou por conta da revisão altista da previsão para o IPCA em 2024: de +4,12% para +4,20%, ou seja, superando o antigo pico da série histórica de 4,19% no dia 17 de abril de 2023. Hoje o número está distante apenas 0,3 ponto percentual do limite máximo de tolerância de 4,5% estabelecido no Sistema de Metas de Inflação. Boa parte do ajuste ocorreu na sexta-feira (09), coincidindo com a divulgação da leitura oficial de julho. O dado avançou +0,38%, enquanto o consenso entre os analistas que enviaram seus prognósticos ao BC acusava +0,33%.
Também é fundamental chamar a atenção para as aberturas qualitativas. As medidas de núcleo, mais aderentes ao comportamento da renda em virtude da exclusão de grupos tipicamente voláteis, como alimentos e energia, exibiram pressão. Além disso, os manufaturados surpreenderam negativamente, provavelmente refletindo o impacto da depreciação cambial observada desde junho.
No tocante ao PIB, não houve alterações (+2,20% em 2024 e +1,92% em 2025), talvez pela agenda fraca de indicadores de atividade setoriais. O principal deles envolveu o Índice de Gerentes de Compras (PMI), calculado pela S&P Global. Em julho, o termômetro composto, que congrega a indústria e os serviços (sem o varejo) registrou 56,4 pontos, de modo que os 50 denotam a separação entre expansão ou queda contra o período imediatamente precedente. O recorde desde junho de 2022 corrobora com um quadro de aquecimento da produção na largada do 3º trimestre e de uma possível continuidade de um viés ascendente para o crescimento.
O Real apresentou valorização ao longo da última semana, com desempenho melhor em relação aos pares emergentes. Por um lado, o componente externo foi positivo: a autoridade monetária do Japão não espera voltar a subir os juros no curto prazo. Convém lembrar que a elevação do balizador do custo do crédito da nação asiática deflagrou uma turbulência significativa nos mercados, aliada à percepção dos investidores de que os Estados Unidos venham a enfrentar uma recessão.
Já no âmbito doméstico, a ata da reunião do COPOM de julho trouxe um endurecimento do tom a respeito do atual panorama em comparação com o comunicado da decisão. Existe preocupação do Comitê quanto à dinâmica do Dólar e à instabilidade dos ativos. Ademais, mesmo em um cenário alternativo onde a Taxa SELIC permanece estacionada em 10,50% ao ano, o IPCA seguirá acima de 3,0%. Nesse sentido, a retomada do ciclo de aumento da Taxa SELIC é perfeitamente factível em caso de necessidade para assegurar o objetivo de preservar o poder de compra da moeda.
Avaliação do IPCA de julho de 2024
Observações gerais:
→ O IPCA subiu +0,38% em julho;
• Conforme a Reuters, a mediana das estimativas acusava +0,35%;
→ A média móvel acumulada do trimestre dos dados com ajuste sazonal em ritmo anualizado – métrica que fornece a tendência de curto prazo da série – passou de +4,49% para +5,20%;
→ Já a variação em 12 meses acelerou pela terceira oportunidade seguida: de +4,23% para +4,50% – limite máximo de tolerância estabelecido no Sistema de Metas para a Inflação;
Discriminação das informações:
IPCA – Variação e influência por categorias
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE. | Elaboração: AE/CDL POA.
“Alimentação e Bebidas” (-1,00%):
→ Primeira retração depois de nove altas consecutivas;
• Tomate (-31,2%), cenoura (-27,4%), cebola (-9,0%) batata inglesa (-7,5%) e frutas (-2,8%) colaboraram de forma significativa para a redução;
• De acordo com o gerente da pesquisa, a expansão da oferta colaborou para o fenômeno;
• A continuidade do movimento de recuperação do choque provocado pelas enchentes no Rio Grande do Sul em maio também exerceu sua contribuição (na Região Metropolitana de Porto Alegre houve diminuição de -1,62%);
“Transportes” (+1,82%):
→ Gasolina (+3,15%) foi um dos destaques;
• Majoração reflete o efeito (embora não integral) do reajuste da Petrobras junto às refinarias (+7,11%) desde 09 de julho;
• O restante do impacto aparecerá na prévia (IPCA-15) de agosto;
→ Outro fator importante diz respeito às passagens aéreas (+19,39%);
• A pressão decorre da época de férias escolares, o que naturalmente suscita um aquecimento da demanda;
“Habitação” (+0,77%):
→ Eletricidade residencial apresentou elevação de +1,93%;
• Encarecimento pode ser explicado pela mudança da bandeira tarifária (de verde para amarela), acarretando em cobrança adicional de R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos;
• No entanto, o regime determinado pela ANEEL para agosto não embute custos extras;
Aspectos qualitativos:
→ Serviços subjacentes: a parcela do IPCA que exclui componentes marcados por relevante variabilidade no setor terciário cresceu +0,63%, praticamente em linha com as expectativas +0,59%;
• Média móvel acumulada do trimestre das estatísticas com ajuste sazonal em ritmo anualizado: de +4,48% para +5,82%;
• Queda da taxa de desemprego (de 7,1% para 6,9% na transição entre o trimestre móvel com término em maio para junho) sinaliza que a competição por mão de obra escassa pelas empresas é cada vez mais acirrada, causando a ampliação da massa salarial real, e consequentemente, dos preços;
→ Média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central: +0,43%
• Os recortes que desconsideram membros tipicamente voláteis, como alimentação e energia, vieram acima do esperado (+0,35%);
→ Difusão: de 52,3% para 46,9%;
• É o menor nível desde setembro de 2023 (42,7%);
• Cálculo demonstra o percentual de itens com aumento de qualquer ordem e provê uma ideia do quão robusto é o processo de deterioração do poder de compra da moeda;
→ Bens industriais: +0,31%, ou seja, excedendo, e muito, o consenso entre os analistas sondados pela Agência Estado (+0,14%);
• Surpresa provavelmente está atrelada à depreciação cambial;
Perspectivas:
Nossa projeção para o IPCA em 2024 é de 4,3%.