Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (10/02/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
Produto Interno Bruto: a projeção caiu pela segunda semana consecutiva, ao recuar de +0,79% para +0,76%. Ao longo dos últimos sete dias, foram divulgados indicadores setoriais referentes a dezembro de 2022. Por um lado, o comércio varejista ampliado (+0,4%) em relação ao período imediatamente precedente, na série após a correção pela sazonalidade, cresceu aquém do consenso dos especialistas sondados pelo Valor Data (+0,8%). Por outro, o desempenho do ramo terciário nessa mesma base de comparação (+3,1%) surpreendeu positivamente, ao ultrapassar, inclusive, o teto das expectativas (+2,2%).
Logo, apesar do resultado superior do segmento cuja representatividade é maior para o PIB, o prognóstico no agregado acabou encolhendo. Uma das possíveis explicações do fenômeno diz respeito à nova piora do quadro para a Taxa SELIC, fato que atravanca o processo de criação de renda e emprego através do encarecimento do crédito para consumidores, empresários e o governo.
IPCA: a estimativa subiu pela nona oportunidade seguida para 2023, avançando de +5,78% para +5,79%. É interessante notar que a elevação ocorreu a despeito do dado oficial de janeiro (+0,53%) inferior ao aguardado pelo próprio Relatório FOCUS (+0,55%). Do ponto de vista qualitativo, o índice veio bom, mostrando desaceleração de componentes mais sensíveis ao comportamento do nível de atividade, como os serviços. No entanto, o mercado permanece cauteloso no tocante às incertezas que permeiam a economia, o que naturalmente atinge a inflação via depreciação dos ativos.
Taxa SELIC: conforme a ata da reunião do COPOM de 31 de janeiro e 1º de fevereiro, as medidas de ajuste anunciadas pelo Ministério da Fazenda ainda em janeiro podem ajudar a atenuar os riscos fiscais. A mensagem traz um tom menos duro acerca do futuro do atual ciclo de juros altos que não foi mencionada no comunicado emitido depois da decisão.
Todavia, assim como abordado em análises anteriores, o pacote apresenta um problema de diagnóstico, em virtude do foco excessivo na arrecadação, ao passo que a causa dos sucessivos desequilíbrios das contas públicas sempre esteve atrelada à expansão da despesa.
Houve majoração tanto para o patamar esperado no fim de 2023 (de 12,50% ao ano para 12,75% ao ano) quanto para o encerramento de 2024 (de 9,75% ao ano para 10,00% ao ano).
Análise de indicadores selecionados da economia brasileira
1) IPCA em jan/23:
→ Índice totalizou +0,53% em janeiro, resultado levemente aquém da mediana das estimativas de mercado coletadas pelo Relatório FOCUS, do Banco Central (+0,55%).
IPCA – Variação e influência por grupos
(Em var. % e pontos percentuais)
Fonte: IBGE | Elaboração: AE/CDL POA.
→ Das nove categorias pesquisadas, somente “vestuário” caiu (-0,27%);
• Vale ressaltar que o barateamento dos artigos no primeiro bimestre (especialmente em janeiro) é sazonal, em virtude do provável impacto do período de férias sobre a demanda;
→ Nos “transportes” (+0,55%), um dos destaques foi o aumento da gasolina (+0,83%);
• Convém lembrar que a Petrobras determinou o repasse de +7,47% ao custo do combustível junto às refinarias no dia 25;
• Logo, por conta da janela de obtenção dos dados (entre o 1º e o último dia útil), o efeito foi capturado apenas em parte;
→ As duas principais influências para a alta no agregado vieram de “alimentação e bebidas” (+0,59%) e “comunicação” (+2,09%):
• Julgamos que o primeiro deve arrefecer lentamente durante 2023, refletindo: (a) o crescimento abaixo da média recente para o PIB mundial e seus desdobramentos sobre a cotação das commodities; e (b) a safra positiva de grãos para o BR;
• Já para o segundo, o incremento é típico dessa época, pois muitos prestadores promovem reajustes dos respectivos serviços em função de contratos que procuram repor as perdas do poder de compra da moeda;
→ No acumulado em 12 meses não houve praticamente alteração: de +5,79% para +5,77%;
2) Vendas do comércio em dez/22:
Variável: faturamento corrigido pelo IPCA. Fonte: IBGE / PMC.
Dez-22 / Nov-22, após o ajuste sazonal:
Brasil:
→ Conceito restrito: -2,6% – expectativa era de -0,8%, conforme o consenso obtido pelo Valor Data;
→ Conceito ampliado: +0,4% (projeções acusavam +0,8%);
Rio Grande do Sul:
→ Conceito restrito: -2,5%;
→ Conceito ampliado: +0,5%;
4º trimestre de 2022 / 3º trimestre de 2022, após o ajuste sazonal:
Brasil:
→ Conceito restrito: -0,7%;
→ Conceito ampliado: +0,9%;
Rio Grande do Sul:
→ Conceito restrito: -3,8%;
→ Conceito ampliado: -1,0%;
Especificamente para o caso gaúcho, as quedas em maior intensidade no varejo restrito seguem bastante afetadas pela base de comparação elevada. Assim como abordado em relatórios anteriores, março de 2022 exibiu majoração de 10,2% sobre fevereiro, o que não encontra precedente com quaisquer outros termômetros que ajudam a descrever a situação do RS.
Volume de vendas do comércio varejista* – Brasil e Rio Grande do Sul
(Em variações percentuais)
Fonte: IBGE. *Faturamento deflacionado. | Elaboração: AE/CDL POA.
Entre os desafios para a expansão futura das transações temos: (1) IPCA próximo a 6,0%; (2) ausência de espaço para cortes da Taxa SELIC; (3) inadimplência em trajetória ascendente; (4) redução da poupança formada pelas famílias desde o início da pandemia. Como consequência do item (2), os segmentos mais sensíveis ao crédito tendem a continuar com dificuldades adicionais para avançar no confronto com os que dependem fundamentalmente de renda, até porque o governo potencializou as transferências no sentido de fortalecer o caixa dos consumidores pobres.