Destaques Econômicos CDL POA

Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira

PIB: o prognóstico para 2021 continuou em +5,30% ao longo dos últimos sete dias, interrompendo uma sequência de quinze avanços ininterruptos. Acreditamos que a divulgação do volume de produção da indústria para o mês de junho, cuja estatística veio em linha com o consenso dos especialistas sondados pela Refinitiv – variação nula em comparação com o período imediatamente anterior, na série corrigida pela sazonalidade – foi crucial para a inalteração.

Já para o ano que vem, a expectativa caiu de +2,10% para +2,05%. Essa mudança ocorreu no dia 05, quando os agentes elevaram a projeção esperada para a Taxa SELIC no encerramento de 2021 e 2022: de 7,00% ao ano (a.a.) para 7,25% a.a., na esteira da deliberação do COPOM, que aumentou o referencial de 4,25% para 5,25% a.a.. De acordo com o comunicado, o ciclo, iniciado em março, só estará completo com a prática de juros que sirvam para desacelerar a atividade, algo que, até então, não era admitido pelos membros do Comitê.

Preços: o IPCA calculado para 2021 moveu-se de +6,79% para +6,88% entre 30 de julho e 06 de agosto. As métricas de curto prazo, como o IPC-S da Fundação Getúlio Vargas, seguiram pressionadas: o incremento na quarta quadrissemana de julho alcançou +0,92%.

Resultado primário e taxa de câmbio: apesar do espaço dentro da Teto de Gastos para 2022, as sinalizações do governo envolvendo a ampliação do Bolsa Família e a PEC dos precatórios, que possibilita o parcelamento das obrigações acima de R$ 66 milhões, trazem dúvidas sobre a responsabilidade da União com as contas públicas.

Comentários acerca do panorama – COPOM

Cenário internacional: a variante Delta do coronavírus e a inflação nos países desenvolvidos constituem as ameaças fundamentais para a recuperação global. No entanto, a avaliação é de que o ambiente mantém-se benigno aos emergentes, em função do conjunto de estímulos promovidos pelas nações hegemônicas do planeta e da reabertura dos negócios em distintas localidades.

Quadro doméstico: termômetros setoriais reforçam a ideia de que o segundo semestre apresentará uma retomada robusta. Por sua vez, o IPCA mostra persistência e, recentemente, composição desfavorável: aliada às sucessivas majorações dos bens industriais, a parte relacionada ao segmento terciário registrou acréscimo expressivo. Ambos os fatores se somam ao encarecimento de itens tipicamente voláteis, como a bandeira tarifária elétrica e os alimentos, repercutindo as condições climáticas adversas.

O entendimento é de que entre os riscos de baixa – reversão dos ganhos das commodities – e de alta – expansionismo fiscal – da inflação, o segundo se sobressai. Em razão disso, tivemos não somente a intensificação do processo de ajuste da Taxa SELIC (de 0,75 ponto percentual para 1,00 p.p.), como também o compromisso de repetição da mesma dosagem na reunião de setembro. Ademais, abriram-se as portas para a superação do patamar considerado neutro, ou seja, daquele que equilibra oferta e demanda, hoje estimado entre 6,50% a.a. e 7,00% a.a..

 

COPOM intensifica o ciclo de ajuste da Taxa SELIC

Observação: relatório escrito antes da decisão

Cenário internacional: o Federal Reserve deu o pontapé inicial nas discussões concernentes à normalização da política monetária. Entretanto, os estímulos devem permanecer no curto prazo, enquanto os objetivos de inflação um pouco acima de 2,0% e pleno emprego não forem atingidos. Na Europa, os indicadores apontam para a consolidação da retomada no segundo trimestre, e não existe qualquer iniciativa das autoridades para a redução dos incentivos. Por fim, na China, as bolsas refletiram a apreensão dos investidores com riscos regulatórios recentemente. No âmbito da geração de renda, destaque para o setor externo, ao passo que a demanda interna registra desaquecimento.

Quadro doméstico: de acordo com o Banco Bradesco, a economia brasileira encerrou o primeiro trimestre de 2021 ainda com a presença de ociosidade dos fatores de produção, ou seja, crescendo abaixo do seu potencial. Nos períodos subsequentes, com base em termômetros de diferentes categorias, não há, pelo menos até o momento, evidências de uma aceleração expressiva da atividade. Por sua vez, a taxa de câmbio apresentou depreciação, a partir (1) das incertezas provocadas pela variante Delta do coronavírus, especialmente nos centros mais importantes do mundo; (2) dos temores de uma possível inclusão de despesas fora do Teto de Gastos e (3) das propostas da segunda fase da reforma tributária que desagradaram o mercado.

Parecer da Assessoria Econômica da CDL-POA: mesmo após três altas consecutivas nos juros básicos de 0,75 ponto percentual (p.p.) cada, o IPCA e suas expectativas seguiram em deterioração. Isto posto, cremos ser necessária a adoção de uma postura mais dura: se o Comitê realmente estiver determinado a cumprir o alvo estabelecido para o ano que vem, é fundamental sinalizar essa intenção de forma clara. Os membros, por exemplo, podem se comprometer com um aumento de 1,00 p.p. de magnitude também em setembro no comunicado à sociedade. Outra opção a ser adotada envolve a retirada do termo “neutro” para as próximas calibragens da Taxa SELIC no futuro. Consequentemente, abrem-se as portas para que tenhamos patamares que ultrapassem o equilíbrio, estimado entre 6,5% e 7,0% ao ano.

Acreditamos que a Taxa SELIC subirá em 1,00 p.p., com 80% de probabilidade. Nas hipóteses alternativas, as elevações de 0,75 p.p. e 1,25 p.p. têm 10% de chance cada.

 

Apontamentos sobre a conjuntura econômica

1)           Indicador de Incerteza da Economia – jul/21

O grau de imprevisibilidade na tomada de decisão dos agentes devolveu, em julho, a piora verificada no período imediatamente anterior. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o patamar atual (119,3 pontos) é o menor desde o início do isolamento social, de modo que a distância para o nível pré-pandemia, em fevereiro de 2020, é de apenas 4,2 pontos.

O recuo no mês, de 3,0 pontos, foi determinado, fundamentalmente, pela redução das menções à palavra “incerteza” e suas derivações na mídia, que respondem por 80% da variável (-2,4 pontos). Por sua vez, a queda da dispersão nas projeções para a taxa de câmbio, Taxa SELIC e IPCA, com peso de 20%, completou o restante do movimento (-0,6 ponto). A melhora do quadro sanitário e a continuidade da retomada sustentaram o processo.

2)           Índice de Gerentes de Compras (PMI)

Conforme a Markit, o PMI Consolidado da Produção, que conjuga indústria e serviços (sem o varejo), apresentou expansão em julho no Brasil. A leitura mais recente demonstra uma aceleração (55,2 pontos) em relação a junho (54,6 pontos), onde números acima de 50 denotam avanço. Os ganhos foram puxados tanto pelos setores secundário (56,4 pontos para 56,7 pontos) quanto terciário (53,9 pontos para 54,4 pontos).

No parque fabril, mesmo com o volume de vendas significativo, os estoques aumentaram. Esse fenômeno reflete o entendimento de que a demanda seguirá firme. Além disso, muitas empresas têm adquirido grandes quantidades de insumos com o intuito de evitar desabastecimentos, gerando pressões de custos. Todavia, o acesso às matérias primas permanece difícil em linhas gerais, impedindo que o crescimento fortifique.

Já no âmbito dos serviços, o abrandamento das restrições à mobilidade colaborou para o resultado. Chama a atenção também o fato de que o ritmo de contratações do ramo, intensivo em mão de obra em diversos nichos, bateu o recorde da série desde meados de 2010.

 

*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA

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Data

10 agosto 2021

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