Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (03/02/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: a estimativa para 2023 caiu levemente ao longo da semana, passando de +0,80% para +0,79%. Entre os termômetros setoriais divulgados, destaque para:
→ Produção industrial em dez/22: em linha com o esperado pelos agentes entrevistados pelo Valor Data (estabilidade em comparação com novembro após o ajuste sazonal);
→ Índice de Gerentes de Compras (PMI) para o agregado dos segmentos secundário e terciário em jan/23: pequena queda (49,9 pontos) em relação a dezembro depois da correção pela sazonalidade, lembrando que os 50 pontos representam a neutralidade. Recuo menos intenso, portanto, do que aquele verificado na janela precedente (49,1 pontos);
→ Saldo da geração de empregos formais em dez/22 de acordo com o CAGED: -431,0 mil, aquém do consenso dos especialistas sondados pelo Projeções Broadcast (-340 mil).
Logo, a ausência de surpresas positivas provavelmente determinou a retificação para baixo do PIB.
IPCA: o prognóstico subiu pela oitava oportunidade consecutiva para 2023 (de +5,74% para +5,78%) e pela terceira vez ininterrupta para 2024 (de +3,90% para +3,93%). Especificamente sobre o presente ano, julgamos que o comportamento do indicador ao consumidor da FGV relativo à quarta quadrissemana de janeiro (+0,80%) possa ter exercido certa influência nessa revisão, sobretudo por conta do aumento expressivo ante a leitura imediatamente anterior (+0,62%).
Comentários acerca do panorama – COPOM
Economia internacional: apesar da moderação, os preços seguem pressionados. Crescimento do PIB global em 2023 será inferior ao patamar que equilibra oferta e demanda.
Quadro doméstico: o nível de atividade apresenta sinais de desaquecimento. Enquanto o IPCA corrente persiste elevado a despeito da desaceleração recente, as predições para o futuro se distanciaram ainda mais dos alvos definidos para 2023 (3,25%) e 2024 (3,00%).
Por que não há espaço para diminuir a Taxa SELIC no curto prazo?
1) O Comitê observou que as expectativas de inflação estão se deteriorando também em 2025 e 2026, ou seja, em intervalos onde a política monetária já não consegue interferir nos preços. Em uma conjuntura como a descrita, o custo para frear o IPCA é maior;
2) Na simulação do modelo que assume a trajetória da Taxa SELIC conforme o Relatório FOCUS de 27/01 (12,50% ao ano no fim de 2023 e de 9,50% no encerramento de 2024), o IPCA computado para 2024 é de 3,4%: 0,4 ponto percentual acima da meta (3,0%). Em uma hipótese alternativa, o Banco Central calculou qual seria a inflação caso não ocorra alteração da Taxa SELIC até a conclusão do ano que vem. O incremento totalizaria +2,8% em 2024.
3) Na esteira do item (2), o comunicado registrou modificação relevante: a frase “O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado (grifo nosso) será capaz de assegurar a convergência da inflação” foi substituída por “O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado (grifo nosso) do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação”. A mudança demonstra que os membros do COPOM acreditam que a flexibilização da política monetária sugerida pelo Relatório FOCUS em 2023 e 2024 não tende a garantir o cumprimento do objetivo de 2024.
Em suma, a margem para eventuais cortes de juros em 2023 é inexistente, em um contexto marcado pela exacerbação dos riscos internos, tanto no âmbito fiscal – expansão de gastos sem contrapartida adequada em termos de reduções de outras despesas – quanto monetário – questionamentos sobre a magnitude da meta de inflação e sobre a independência do BC. Cremos que a Taxa SELIC deverá estacionar em 13,75% ao ano por bastante tempo, de modo que algum afrouxamento talvez aconteça em meados de 2024.
COPOM mantém a Taxa SELIC em 13,75% ao ano
Observação: relatório escrito antes da decisão.
Qual o balanço de riscos para a inflação?
Os últimos 45 dias foram marcados por deterioração considerável das expectativas para o IPCA. Tanto para 2023 (de 5,06% para 5,74%) quanto para 2024 (de 3,50% para 3,90%), ou seja, no horizonte relevante de atuação da política monetária, a distância dos prognósticos para os respectivos objetivos do Sistema de Metas para Inflação (SMI), de 3,25% e 3,00%, subiu.
Entendemos que as incertezas fiscais determinaram esse movimento, em decorrência: (1) da aprovação da chamada “PEC da Transição”; e (2) de uma resposta insatisfatória para o reequilíbrio das contas públicas, que priorizam o ajuste pelo lado da receita. Também houve sinalizações ruins advindas do governo Lula no que se refere à condução da economia, incluindo críticas do atual Presidente à independência do Banco Central e ao SMI, assim como sua intenção em garantir a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para quem ganha até R$ 5.000 mensais. Além disso, as leituras oficiais surpreenderam negativamente o mercado: o indicador de dezembro (+0,62%) superou a mediana do Relatório FOCUS (+0,46%), enquanto que a prévia de janeiro (+0,55%) veio acima do consenso dos analistas sondados pela Bloomberg News (+0,51%).
É bem verdade que existem vetores positivos no curto prazo. Em primeiro lugar, a taxa de câmbio saiu de R$ 5,22 para R$ 5,09, a partir da queda do Dólar em nível mundial. Em segundo lugar, a inflação no atacado, que pode ser interpretada como um termômetro que antecede a dinâmica para as famílias, segue comportada no Brasil. Por fim, o ímpeto do produto doméstico no quarto trimestre de 2022 apresentou recuo expressivo.
Parecer da Assessoria Econômica da CDL-POA: diante do panorama descrito, o COPOM optará pela continuidade da Taxa SELIC em 13,75% ao ano com probabilidade de 99%. É importante lembrar que a fragilização dos fundamentos fiscais fez com que a taxa aproximada que iguala oferta e procura, de acordo com a definição do próprio BC, aumentasse. Logo, o esforço exigido para que a política monetária atinja seus alvos é maior, o que gera repercussão desfavorável não só com relação à extensão como à magnitude do ciclo de juros elevados.
Estimativa para a taxa neutra de juros – % ao ano em termos reais
(Diferença entre as projeções para Taxa SELIC e IPCA em 2026)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (27/01/2023). *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
Avaliação do Novo CAGED – dezembro de 2022
Ponderações para o Brasil:
→ Em dezembro, a diferença entre recrutamentos e demissões totalizou -431,0 mil, abaixo, portanto, do consenso dos respondentes sondados pelo Projeções Broadcast (-340 mil);
o Tipicamente os valores no intervalo em questão são negativos em virtude das seguintes características sazonais: (a) encerramento de contratos temporários visando o atendimento da demanda inerente às festividades como Natal e Ano Novo; (b) entressafra de determinadas culturas no âmbito do setor primário.
Entendemos que o dado consideravelmente inferior às previsões dos especialistas reforça o cenário de redução do ímpeto da atividade econômica no quarto trimestre de 2022, tanto nos serviços, mas, principalmente, na indústria. Por sua vez, a moderação ante igual janela de 2021 continua ocorrendo, entre outras razões, pelos motivos que vínhamos apontando ao longo dos relatórios recentes sobre o tema:
1) Aumento do volume de cargos nos últimos 12 meses: foram 2,04 milhões criados em 2022. Quanto maior é a base de comparação, maior a dificuldade em gerar expansões adicionais;
2) Cerca de 2,13 milhões de vínculos ainda usufruíam de estabilidade provisória assegurada pelo Benefício Emergencial (BEm). A referente política da União serviu à época como um freio aos desligamentos em resposta às consequências da pandemia.
Análise para o Rio Grande do Sul:
No território gaúcho houve a destruição de 27.824 postos em dezembro. Entre as diversas aberturas disponíveis, é possível ponderar o desempenho do saldo no período pelo tamanho da mão de obra com carteira assinada constatado na leitura imediatamente anterior por Unidade da Federação. As estatísticas demonstram que o RS apresentou o 11º pior resultado (recuo de -1,64% nessa métrica).
Já no acumulado de 2022, as 100.773 vagas contribuíram para elevar em 3,94% nosso estoque, ou seja, o mínimo registrado entre os estados. Parte da explicação deriva dos enormes prejuízos na colheita de grãos de verão: mesmo que o PIB não feche nos -6,6% verificados entre o primeiro e terceiro trimestre em relação a 2021, por conta da produção recorde de trigo, a recessão deverá ser intensa.
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência. | Elaboração: AE/CDL POA.