Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (01/09/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: revisão da perspectiva para 2023 – de +2,31% para +2,56% – foi o grande destaque da edição. A mudança aconteceu depois da divulgação do dado referente ao segundo trimestre, cujo incremento no confronto com primeiro (+0,9%), na série com correção sazonal, excedeu substancialmente o consenso dos analistas sondados pela Refinitiv (+0,3%). A desaceleração menor do que a esperada da agropecuária (-0,9%) é uma das causas da surpresa positiva, lembrando que o segmento apresentou elevação de +21,0% na leitura anterior. Além disso, a indústria expandiu +0,9%, alavancada pela parte de extração de petróleo e minério de ferro (+1,8%). Já os serviços continuaram exibindo resiliência (+0,6%), em virtude da conjuntura marcada por: (1) acréscimos da massa salarial real dos trabalhadores; (2) potencialização das transferências sociais do governo; (3) sequência do movimento de realocação dos gastos dos consumidores, responsável por favorecer a categoria em detrimento do mercado de bens, ainda como resposta à melhora do quadro sanitário após a pandemia.
Como a estatística do IBGE foi lançada na sexta-feira, cremos que não houve tempo hábil para que todos os especialistas revisitassem seus modelos de projeção. Logo, acreditamos em nova alta no próximo levantamento. De acordo com o efeito carregamento, o PIB registrará avanço de +3,1% em comparação com 2022 caso o nível de atividade permaneça estagnado entre julho e dezembro. Na nossa visão, a probabilidade de que tenhamos crescimento superior a 3,0% subiu notavelmente, muito embora sigamos aguardando por desaquecimento no segundo semestre.
Inflação: o prognóstico para o IPCA em 2023 moveu-se de +4,90% para +4,92% nos últimos sete dias, puxado pelos preços monitorados – aqueles regulados pelo Setor Público ou com reajustes definidos por contratos –, que saíram de +9,97% para +10,02%. Ao longo da semana passada, a União anunciou a volta da cobrança parcial do PIS / COFINS sobre o diesel no ano-calendário 2023, programada para ocorrer integralmente em 1º de janeiro de 2024. Os aumentos serão escalonados da seguinte forma: R$ 0,11 por litro a partir de 05 de setembro e mais R$ 0,13 por litro de 1º de outubro em diante. Os R$ 0,11 por litro restantes para o retorno da alíquota cheia (R$ 0,35 por litro) sucederão na virada do ano.
Por sua vez, o IGP-M para 2023 caiu de -3,44% para -3,56%, na esteira do número oficial de agosto. A variação no período (-0,14%) veio abaixo da mediana das expectativas obtida pela Reuters (+0,15%).
Taxa SELIC: os patamares computados para o encerramento de 2023 (11,75% ao ano) e 2024 (9,00%) não sofreram alterações. Em evento do LIDE – Grupo de Líderes Empresariais – em Washington (Estados Unidos), o Presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a batalha contra a deterioração do poder de compra da moeda não está ganha, citando certa piora em recortes como os alimentos.
Novo CAGED – julho de 2023
O Novo CAGED abarca o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o ESocial e o Empregador Web. Todos os números representam as movimentações formais de celetistas, bolsistas, servidores públicos, autônomos e dirigentes sindicais.
BRASIL:
→ Em julho, a diferença entre recrutamentos e demissões somou 142.702;
• Estatística veio praticamente de acordo com o consenso dos especialistas sondados pela Reuters (142.000 postos);
• A média móvel em 12 meses – métrica utilizada para capturar a tendência da série –, caiu de 137,4 mil para 130,6 mil. É o mínimo registrado desde março de 2021 (48,2 mil);
RIO GRANDE DO SUL:
O saldo no território gaúcho foi de –2.129. Trata-se da terceira retração consecutiva mensal. É importante ressaltar que, no ápice do isolamento social, houve quatro resultados negativos sucessivos entre março e julho de 2020. Conforme a metodologia antiga, cuja quantidade de observações é maior, maio, junho e julho são janelas com sazonalidade desfavorável. Porém, a magnitude dos recuos ininterruptos em 2023 é relevante. Além disso, o fenômeno não ocorreu em 2021 e 2022. Logo, existe um indicativo de que o grau de desaceleração na esfera local é superior em comparação com o nacional. Também é possível checar a variação do estoque de trabalhadores no acumulado do ano entre janeiro e julho no confronto com o mesmo intervalo de 2022. Enquanto tivemos alta de +1,90% para o RS (a quinta menor entre os estados da Federação), no Brasil a expansão atingiu +2,75%. Entre as questões que ajudam a justificar a discrepância está o fato de que o PIB do RS sofreu com duas estiagens recentemente, responsáveis por prejuízos severos às safras de verão e, consequentemente, ao crescimento do produto.
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho. | Elaboração: AE/CDL POA.
Destaques setoriais:
Chama a atenção a disseminação das baixas na indústria, construção e comércio varejista. As categorias citadas, diretamente ligadas ao mercado de bens, apresentaram piora bem mais significativa em relação aos serviços. Entendemos que a dicotomia ainda diz respeito à recuperação pós-COVID 19, que gerou forte procura pelo último por conta: (1) da normalização sanitária; e (2) das transformações nos ramos de tecnologia da informação e da intensificação do e-commerce, gerando estímulos aos transportes, por exemplo.
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 em setores selecionados – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho. | Elaboração: AE/CDL POA.
ANÁLISE:
Os dados de julho reforçam o cenário de perda do ímpeto da ocupação com carteira assinada, em linha com o nível de atividade dos principais segmentos. Por um lado, alguns vetores pesam contrariamente, incluindo: (1) arrefecimento global, afetando, sobretudo, as exportações de manufaturados; (2) taxas de juros elevadas, com impactos sobre as despesas financeiras dos agentes; (3) pressão da inflação dos serviços, a despeito da trajetória de acomodação – segundo o IBGE, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses até julho é de 5,64%; (4) encolhimento da demanda reprimida provocada pela pandemia.
Por outro lado, temos fatores positivos como: (1) deflação no atacado; (2) continuidade do ciclo de queda da Taxa SELIC; (3) incentivos ao consumo, determinados pela potencialização das transferências sociais do governo, Desenrola e aumento do limite de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para 2024; (3) progresso expressivo da situação envolvendo a cadeia logística internacional de insumos / suprimentos.
Análise do PIB do Brasil no segundo trimestre de 2023
De acordo com o IBGE, o nível de atividade nacional exibiu crescimento de +0,9% no segundo trimestre de 2023 no confronto com o período imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. O número superou, e muito, o consenso das instituições sondadas pela Refinitiv (+0,3%).
Acreditamos que grande parte da surpresa decorreu novamente da agropecuária, que praticamente não apresentou desaceleração (-0,9%) após o ganho de +21,0% na leitura precedente. Também é possível constatar o fenômeno através do comparativo interanual, que mostrou forte majoração de +17,0% sobre a janela entre abril e junho de 2022. Os resultados ainda se devem aos efeitos da safra de grãos de verão, com proeminência da soja e do milho.
No tocante à indústria (+0,9%), destaque para a extração (+1,8%), alavancada por petróleo e minério. Em contraposição, a parcela da transformação avançou +0,3%. A categoria sofreu as consequências da Taxa SELIC em patamares elevados em função de sua relevante necessidade de financiamento – o início do ciclo de queda dos juros básicos começou somente em agosto. Pesou igualmente o desaquecimento da economia global, exercendo especial influência negativa sobre os manufaturados.
Os serviços continuaram resilientes (+0,6%). Um dos fatores que colaborou para o acréscimo diz respeito à robustez do mercado de trabalho. Além disso, entendemos que o movimento espelha a realocação das despesas das pessoas físicas, que favoreceu o segmento em detrimento dos bens como resposta ao choque provocado pela pandemia. Já o comércio teve alta de apenas +0,1%. Especificamente sobre o varejo, a dicotomia entre o desempenho benigno de recortes de maior essencialidade, ligados ao comportamento da renda, como hiper e supermercados, e aqueles sensíveis ao custo do crédito caro manteve-se. Os incentivos às vendas de veículos zero quilômetro “populares” ajudaram.
No que se refere à demanda, o consumo das famílias (+0,9%) refletiu, em primeiro lugar, a potencialização das transferências sociais: o benefício médio do Programa Bolsa Família saiu de R$ 630 entre janeiro e março para R$ 682 entre abril e junho. Ademais, a inflação medida pelo IPCA caiu no acumulado em 12 meses de +4,65% em março para +3,16% em junho. Esse componente, somado ao aumento da população ocupada, contribuiu para a ampliação da massa salarial.
Os investimentos permaneceram estáveis (+0,1%). A despeito do progresso de reformas no Congresso, como o arcabouço fiscal e a modernização da legislação tributária, as condições financeiras, não obstante o alívio no risco-país, seguiram apertadas. Por sua vez, os gastos do governo (+0,7%) estão em linha com a postura expansionista dos dispêndios da União. Por fim, as importações (+4,5%) subiram mais do que as exportações (+2,9%), em virtude do cenário internacional complexo, afetando assim a procura.
PIB do Brasil pela ótica da oferta e da demanda
(Var. %)
Fonte: IBGE. *Com ajustamento sazonal. | Elaboração: AE/CDL POA.