Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (29/07/2022). *Mediana.
Elaboração: AE/CDL POA.
Nível de atividade: a mediana dos prognósticos para o PIB em 2022 subiu pela quinta semana consecutiva, avançando de +1,93% para +1,97% nos últimos sete dias. Em alguns casos as taxas ultrapassam 2,0% – XP (+2,2%), Bradesco (+2,3%) e BNP Paribas (+2,5%), por exemplo. As revisões vêm sendo determinadas por dados correntes melhores do que o esperado e pela ampliação dos estímulos fiscais. Em virtude dos fatores supracitados, entendemos que a desaceleração aguardada por nós ao longo do segundo semestre ficará mais concentrada no quarto trimestre.
Por outro lado, o mercado pressupõe ainda menos crescimento para 2023 (decréscimo de +0,49% para 0,40%). Entre os obstáculos presentes no panorama estão: (1) a possibilidade de uma recessão global, gerando o arrefecimento da demanda externa e incertezas adicionais; (2) o esgotamento das medidas de expansão da liquidez oriundas do governo; e (3) o provável ciclo brando de redução do custo do crédito.
IPCA: parte da queda da estimativa para 2022 (de +7,30% para +7,15%) ocorreu por conta da divulgação da prévia de julho, pois o resultado do IPCA-15 (+0,13%) não superou o consenso dos entrevistados pela Reuters (+0,17%). Por sua vez, o IGP-M do mês passado (+0,21%) veio igualmente aquém das projeções (+0,34%), refletindo o barateamento de certas commodities – com especial impacto no âmbito do atacado – e o corte de impostos sobre bens e serviços considerados essenciais no tocante às famílias.
Porém, as expectativas para o IPCA em 2023 aumentaram pela décima sétima oportunidade seguida (de +5,30% para +5,33%). As desonerações tributárias, cabe lembrar, têm prazo de validade até 31 de dezembro, o que deve provocar encarecimento dos preços em janeiro. A inércia inflacionária carregada de 2022 também constitui um desafio, em função dos efeitos dos mecanismos de indexação, responsáveis por retroalimentar reajustes que se disseminam pela cadeia produtiva.
Taxa SELIC: conforme o modelo que permite extrair a probabilidade das apostas dos investidores da B3 com relação à reunião do COPOM de amanhã e quarta-feira, o cenário majoritário envolve incremento de 0,50 ponto percentual com 87,00% de chances, para 13,75% ao ano. Já para o encontro de setembro, a crença é de elevação residual de 0,25 p.p.. Todavia, não está descartada a manutenção, o que demonstraria neutralidade da política monetária para as eleições de outubro.
Análise dos primeiros dados econômicos de julho: prévia da inflação e sentimento das famílias
1) IPCA-15:
→ A leitura preliminar a respeito dos preços subiu +0,13%;
• Trata-se do menor patamar desde junho de 2020;
• A desaceleração em comparação com o período imediatamente anterior (+0,69%) é atribuída à deflação nos administrados (-1,51%) – grupo para o qual existe interferência estatal via regulação / contratos;
♦ Nesse sentido, os destaques foram os combustíveis veiculares (-4,88%) e a energia elétrica (-4,61%), em função do início dos efeitos da diminuição do ICMS e da redução dos impostos federais sobre gasolina e etanol;
♦ Como o anúncio dos cortes sucedeu a partir de 01/07, o IPCA-15 não capturou o impacto completo, em decorrência da janela de coleta das informações (14/06 a 13/07);
♦ Além disso, a queda da gasolina determinada pela Petrobrás junto às refinarias ocorreu no dia 20;
• Por sua vez, a métrica relativa aos serviços variou +0,84%;
♦ O fenômeno pode ser explicado, em parte, pela retomada do mercado de trabalho e pela recomposição das margens do setor com a demanda ainda reprimida por algumas categorias;
2) Confiança dos consumidores:
→ A sondagem de julho, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), entrevistou domicílios espalhados pelo território nacional entre os dias 1º e 21;
→ Houve avanço ante junho de 0,5 pontos (de 79,0 para 79,5) nas estatísticas ajustadas pela sazonalidade;
• O componente da situação atual teve estabilidade (de 70,4 para 70,3 pontos), ao passo que as expectativas (85,9 para 86,6 pontos) puxaram o resultado agregado para cima;
Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em julho/22 – Brasil*
(Em pontos*)
Fonte: FGV/IBRE. *Com correção sazonal. *A referência (100) corresponde à média entre junho de 2010 e junho de 2015.
Elaboração: AE/CDL POA.
→ Hoje o índice encontra-se 9,5% aquém do registrado em fevereiro de 2020 –previamente às restrições de mobilidade da população.
→ Por um lado, as classes baixas, com recebimentos até R$ 2.100 e entre R$ 2.100 e R$ 4.800 justificaram o crescimento: +1,8 ponto e +1,2 ponto, respectivamente;
• Entendemos que o conjunto de políticas responsáveis por injetar liquidez oriundas do governo, especialmente direcionadas para ambos os estratos, estão por trás do movimento;
→ Já as parcelas mais ricas apresentaram recuo;
Análise do IGP-M de julho e do Novo CAGED em junho
1) IGP-M:
Metodologia: O Índice Geral de Preços – Mercado, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, é constituído por: (1) 60% do Índice de Preços no Atacado (IPA); (2) 30% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC); e (3) 10% do Índice Nacional da Construção (INCC).
Principais resultados:
→ Em julho, o IGP-M subiu +0,21% (consenso das instituições sondadas pela Refinitiv era +0,30%);
→ A variação acumulada em 12 meses caiu de +10,7% para +10,1%: menor patamar desde julho de 2020 (+9,3%);
IGP-M – Brasil
(Variação % acumulada nos últimos 12 meses)
Fonte: FGV.
Elaboração: AE/CDL POA.
O que explica a desaceleração em comparação com junho (+0,59%)?
1) No âmbito do produtor (+0,21%), houve queda expressiva do minério de ferro (-11,98%), do milho (-5,00%) e da soja (-2,05%);
→ O fenômeno está atrelado à possibilidade de uma recessão global, provocando diminuição da procura por itens básicos;
2) A deflação no tocante às famílias (-0,28%) ocorreu em virtude do corte de ICMS para alguns bens e serviços;
→ Os destaques de baixa foram energia elétrica (-3,11%) e gasolina (-7,26%);
→ Sem a política aprovada pelo Congresso, o grupamento registraria crescimento;
2) Novo CAGED – junho/22:
Brasil:
→ As admissões com carteira assinada excederam os desligamentos em 277.944;
• Número superior em relação à mediana dos entrevistados pelo Projeções Broadcast (234 mil);
Rio Grande do Sul:
→ Saldo de 8.037 postos em junho;
• Total inferior a igual período de 2021 (11.553);
♦ O estoque de mão de obra formal à época encontrava-se 5,0% aquém do atual, o que favorecia, em função do efeito estatístico, a geração de montantes maiores;
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho.
Elaboração: AE/CDL POA.
Comentários:
Julgamos que o progresso do mercado de trabalho é robusto. O primeiro semestre contou com o alívio da situação sanitária, o impacto da alta das commodities sobre o PIB e as medidas do programa Renda e Oportunidade do governo. Por sua vez, a dinâmica para o RS também foi positiva, sobretudo quando levamos em consideração os prejuízos da safra de grãos de verão.
Perspectivas:
Para o segundo semestre, a injeção de recursos no caixa das pessoas físicas provavelmente será relevante para a sustentação do emprego. Já a transitoriedade dessas ações (até a virada do ano-calendário), as consequências negativas dos juros em elevação e as incertezas no cenário atuarão para impedir que o desempenho seja melhor.