BREVE ANÁLISE DO PANORAMA:
Conjuntura externa: perspectivas seguem desafiadoras. Por um lado, Estados Unidos e Zona do Euro ainda terão de ampliar consideravelmente o custo do crédito para evitar deteriorações mais significativas do poder de compra de suas moedas. Por outro, diversos países no Velho Continente também sofrem com os efeitos da paralisação no fornecimento do gás russo, enquanto a China lida com problemas no ramo imobiliário e com a tentativa de controlar a COVID-19 através de medidas de restrição à mobilidade. A exacerbação dos riscos poderá fortificar a inflação no Brasil via desvalorização da taxa de câmbio, ao passo que o desaquecimento da geração de renda, ou até uma recessão global, colaborarão para o recuo dos preços. Por fim, julgamos que a deliberação de hoje do FED (BC dos EUA) não trouxe surpresas para a trajetória aguardada no tocante aos juros americanos.
Quadro doméstico: as projeções para o IPCA em 2022 e 2023 apresentaram quedas expressivas desde a reunião do COPOM de agosto – de 7,14% para 6,00% e de 5,33% para 5,01%, respectivamente, conforme as estimativas de mercado do Relatório FOCUS. No primeiro caso, o corte da tributação sobre bens e serviços essenciais e o alívio verificado nos alimentos e nos manufaturados tem contribuído para tanto. Já o segundo, provavelmente, embute o impacto da redução da indexação. Vale destacar igualmente o arrefecimento dos indicadores que capturam a dinâmica no atacado, influenciada por algumas commodities, como o barril de petróleo. A tendência, portanto, é de que o comportamento benigno no curto prazo para o produtor tenha reflexo positivo para as famílias.
O crescimento do PIB continuou robusto entre abril e junho (+1,2% contra os três meses imediatamente anteriores, após o ajuste sazonal, acima dos prognósticos de +1,0%). Além disso, as evidências apontam para avanço consistente em julho, em linha com a divulgação do Índice do Banco Central (IBC) – +1,2% sobre junho. Por sua vez, o emprego permanece vigoroso, repercutindo favoravelmente na massa de salários real. No entanto, os termômetros preliminares relativos ao desempenho no mês de agosto acusam desaceleração (PMI). De toda a forma, entendemos que a atividade econômica e a ocupação fomentam pressões de demanda sobre o IPCA.
QUAL É A NOSSA APOSTA?
Acreditamos na tese de manutenção (13,75% ao ano) com probabilidade de 70%. Não descartamos, porém, um incremento adicional de 0,25 ponto percentual (30%).
Para a política monetária, a variável relevante diz respeito aos juros reais. Independentemente do cômputo utilizado, os patamares subiram nos últimos 45 dias, de acordo com as estatísticas do Relatório FOCUS. Ou seja, o Banco Central elevará o grau de aperto mesmo com a conservação da Taxa SELIC em 13,75%.
Taxa de juros real ex-post: (SELIC – inflação efetiva):
- 03/ago: 13,75% ao ano – 11,9% (IPCA acumulado nos últimos 12 meses até jun/22) = +1,7%;
- 16/set: 13,75% ao ano – 8,73% (IPCA acumulado nos últimos 12 meses até ago/22) = +4,6%;
Taxa de juros real ex-ante: (SELIC – expectativas suavizadas do IPCA para os próximos 12 meses):
- 03/ago: 13,75% ao ano – 5,64%= +7,7%;
- 16/set: 13,75% ao ano – 5,04%= +8,3%;
A IMPORTÂNCIA DO COMUNICADO:
Na hipótese de confirmação da nossa crença, é fundamental sinalizar a possibilidade de novos aumentos no futuro se houver agravamento do cenário. A mensagem subjacente envolve o reconhecimento das abundantes incertezas no âmbito nacional – resultado das eleições e evolução das contas públicas, por exemplo – e internacional.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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Veja também:
- Perguntas e respostas sobre o aumento dos combustíveis
- Análise da fase 2 da reforma tributária federal
- Análise do modelo de financiamento do transporte público de POA sugerido pela EPTC