COPOM deve manter a Taxa SELIC em 2,00% ao ano

COPOM deve manter a Taxa SELIC em 2,00% ao ano

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OUTUBRO, 2020

Notícias

Os membros do Comitê de Política Monetária decidem, periodicamente, os juros básicos da economia brasileira. Nesse sentido, a Taxa SELIC representa o custo basilar para a tomada de dívida no governo no curto prazo, bem como um balizador para as mais variadas linhas de empréstimos destinadas aos consumidores e às firmas.

Apontamentos sobre o panorama:

Atividade doméstica: desde a última reunião do COPOM, realizada nos dias 15 e 16 de setembro, a queda projetada para o PIB de 2020 passou de -5,09% para -4,81%. Para 2021, a estimativa caiu de +3,50% para +3,42%.

Dois fatos sobre os indicadores de alta frequência divulgados nesse ínterim chamam a atenção. Em primeiro lugar, a recuperação seguiu desigual. A análise setorial evidencia que indústria e comércio lideram esse processo, com destaque para os segmentos ligados aos bens essenciais (não-duráveis) e commodities em geral. Entendemos que a combinação entre injeção de liquidez da parte da União, o barateamento do crédito e o Real desvalorizado são fundamentais para justificar esse fenômeno. Por sua vez, os serviços registram maiores dificuldades, pois muitos ramos dependentes de interação humana ainda enfrentam restrições ao seu andamento.

Em segundo lugar, notamos algum decréscimo no ímpeto na retomada. Essa acomodação era aguardada, após o reestabelecimento de bases superiores de comparação. Cremos, similarmente, que a diminuição do coronavoucher pela metade e a antecipação de repasses que seriam efetuados ao longo do segundo semestre, como o 13º dos aposentados, são elementos explicativos. Por seu turno, as empresas, apesar da possibilidade de prorrogação dos acordos de preservação da mão de obra até o encerramento do ano, precisam lidar com a normalização do recolhimento dos tributos federais diferidos e do FGTS dos funcionários.

A conjuntura atual é permeada por ampla ociosidade, sobretudo no mercado de trabalho. Estatísticas do IBGE mostram que, no trimestre entre maio, junho e julho de 2020 frente ao mesmo período de 2019, 11,5 milhões de pessoas, entre formais, informais e por conta-própria, perderam suas ocupações. Já a utilização efetiva do maquinário instalado na indústria nacional em setembro está um pouco acima da usual.

Preços: as pressões se intensificaram, de modo que o IPCA-15 de outubro (+0,94%) foi o maior para o respectivo mês desde 1995. As principais fontes de influência permanecem, pela ordem de importância, nos grupos de “alimentos e bebidas” e “transportes”.

Além do encarecimento dos itens primários e do Dólar elevado, que incentiva as exportações, a entressafra de grãos limita a produção. Por fim, a mudança de hábitos, como o home office, aumentou a demanda pela alimentação do domicílio, catapultada também pelo pagamento do auxílio emergencial.

O consenso dos integrantes do Relatório FOCUS para o índice oficial de inflação de 2020 saltou de +1,95% para +2,99% em 2020, e de +3,01% para +3,10% em 2021. A aceleração de hoje repercute negativamente sobre a dinâmica futura, em função do mecanismo da indexação: diversos contratos promovem a correção automática de preços e salários, causando a “inércia”.

Cenário internacional: nos Estados Unidos, as idas e vindas das negociações no Congresso envolvendo o pacote de estímulo, e o acirramento da disputa entre Joe Biden e Donald Trump pela Casa Branca têm grande relevância.

Na Europa, o Reino Unido e a França endureceram as quarentenas, enquanto a Espanha decretou estado de calamidade para conter o avanço do coronavírus. Medidas adicionais de isolamento também estão sendo pensadas para a Itália, depois do recorde de casos. As notícias do ponto de vista sanitário, portanto, impactarão desfavoravelmente sobre o PIB da região no quarto trimestre.

Por outro lado, conforme a declaração do primeiro ministro da Grã-Bretanha, Boris Johnson, existe uma boa probabilidade de pacto com a União Europeia, reduzindo a chance de um Brexit desorganizado.

Taxa de câmbio: a cotação voltou a subir recentemente, graças a deterioração do quadro atinente à COVID-19 no exterior e da falta de sinalizações concretas no que se refere à busca pelo equilíbrio das contas públicas via cortes de despesas, em um contexto onde a remuneração ofertada pelos títulos é pequena. No dia 13 de outubro, quando se aproximou de R$ 5,70, o Banco Central interveio, com o intuito de segurar a depreciação.

Fiscal: os investidores continuam nutrindo incertezas sobre a capacidade do governo em honrar seus compromissos, ao exigirem prêmios de risco nos financiamentos. As dúvidas residem, entre outros exemplos, nos recursos que viabilizariam novos programas sociais, como o Renda Cidadã. Da mesma forma, a tentativa de “descarimbar” fundos específicos para ajudar no resultado não resolve o problema.

Avaliação da Assessoria Econômica da CDL-POA:
Acreditamos que o COPOM opte por manter a Taxa SELIC em 2,00% ao ano. Consequentemente, a carga de fomento à renda e ao emprego via política monetária prosseguirá alta, dado o efeito do incremento das expectativas de inflação sobre o juro real.

O que esperar daqui em diante?

A majoração considerável do IPCA, embora temporária, e situação fiscal determinarão o início do ciclo de crescimento da Taxa SELIC antes do que o previsto até então: provavelmente no término do primeiro semestre de 2021, e não mais em meados do segundo. Todavia, esse ritmo deve ser lento e gradual.

*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA

 

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Data

28 outubro 2020

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