Como mudanças nos preços dos combustíveis, alimentação e energia afetam o consumo?

O Banco Central do Brasil divulga periodicamente estudos sobre temas de interesse no âmbito econômico. No Relatório Trimestral de Inflação publicado no final de março, os técnicos investigaram uma questão relevante para os lojistas: o impacto de variações nos combustíveis, da alimentação no domicílio e da energia elétrica nos gastos de diferentes classes de mercadorias.

A hipótese subjacente é a de que as alterações nos valores dos três grupos supracitados ocorrem predominantemente por conta de choques negativos de oferta. Nos dois primeiros casos, as cotações internacionais das commodities apresentaram forte aumento desde o início da pandemia, em função da disparidade existente entre a limitação no provimento de bens e serviços e o conjunto sem precedentes de medidas de estímulo governamentais para conservar a demanda aquecida. No que tange ao terceiro, o custo registrou crescimento notável em 2021, como resposta à escassez de chuvas, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com a metodologia empregada através de um modelo específico, se o poder de compra das famílias diminuir em um ponto percentual (p.p), a procura cairá em 1,5 p.p. em um espaço relativamente curto de tempo – cerca de 1 trimestre. Ou seja, a cada redução de R$ 100 à disposição pelos agentes, a queda nas despesas é de R$ 150. É fundamental atentar também para outro aspecto de suma importância: para prazos maiores, de 6 a 9 meses, o efeito é inferior nos artigos não duráveis, que incluem hipermercados, farmácias e postos de abastecimento, conforme recortes selecionados da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.  Já os segmentos menos essenciais – móveis, eletrodomésticos, lojas de departamento, tecidos, vestuário e calçados, por exemplo – são justamente os mais prejudicados, pois o recuo estimado após um semestre é de R$ 310.

As implicações do exercício conduzido pelo BC são diversas. Entendemos que os resultados sugerem que o barateamento esperado para as bandeiras tarifárias em maio, fruto da melhora significativa dos reservatórios, deve beneficiar o varejo e o nível de atividade como um todo. Porém, a manutenção de commodities em patamares elevados – catapultadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e pelas adversidades climáticas na América Latina – constitui elemento de baixa.

Data

06 abril 2022

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