O ano de 2025 iniciou com grandes preocupações a respeito da dinâmica dos preços. É importante lembrar que o Brasil herdava não somente pressões de demanda oriundas de um crescimento do PIB muito robusto em 2024 (+3,4%), como também sofreu os efeitos de uma desvalorização cambial expressiva (de aproximadamente 28%), fruto da combinação entre as incertezas com as contas públicas, a troca do comando do Banco Central e a busca dos investidores por proteção a partir do momento em que a candidatura de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos ganhou força até sua posse, em 20 de janeiro. De acordo com o IBGE, o IPCA, que encerrou 2024 em 4,83%, acelerou para 5,53% no acumulado em 12 meses até abril de 2025.
Desde então, houve uma inflexão, e o índice tende a fechar o presente ano em cerca de 4,3%, ou seja, dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo Regime de Metas (4,5%). Nesse sentido, determinados componentes exerceram influência decisiva para o fenômeno. Em primeiro lugar, a Taxa SELIC, que já colaborava para frear o ritmo de expansão do nível de atividade (10,50% ao ano até meados de setembro de 2024), subiu até 15,00% ao ano em junho de 2025, alcançando sua máxima desde 2006. Em segundo, a supersafra de grãos nacional (350 milhões de toneladas) gerou uma ampliação considerável da oferta de alimentos. Em terceiro, as medidas adotadas nos EUA (sobretaxas às importações, restrições à imigração e rusgas com oponentes políticos internos e externos) provocaram o enfraquecimento do dólar e o barateamento significativo das commodities em virtude da diminuição da perspectiva para o PIB global.
Nosso prognóstico é de que o IPCA termine 2026 em 4,08%: caso venha a se confirmar, teremos a mínima desde 2018 (3,75%). O recuo previsto só não é maior graças à postura da União voltada para incentivar a procura, com destaque para o aumento do limite de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para quem aufere até R$ 5 mil mensais e o desconto da alíquota incidente para quem recebe até R$ 7.350 por mês.
A melhora dos dados correntes da inflação e, em menor grau, das expectativas em prazos longos, o desaquecimento do PIB em 2026 (projetamos +1,78%, contra os +2,30% estimados para 2025) e o declínio recente da taxa básica de juros americana (3 cortes de 0,25 ponto percentual cada) são alguns dos motivos que levarão o COPOM a começar a cortar o balizador do custo do crédito em janeiro ou março, atingindo 12,25% ao ano em dezembro do ano que vem.
Como é possível notar, o ciclo de redução será lento e gradual. Movimentos mais agressivos não devem ocorrer por causa dos desequilíbrios entre receitas e despesas do governo federal. Entendemos que o principal desafio envolve não apenas sinalizar, mas promover o controle efetivo dos dispêndios com o intuito de contribuir para a estabilidade macroeconômica, propiciando juros e inflação mais baixos de forma sustentada.