BC decide patamar de juro sob risco de perder meta da inflação e confirmar recessão - CDL POA

BC decide patamar de juro sob risco de perder meta da inflação e confirmar recessão

Copom define taxa hoje tentando equilibrar reação ao avanço do IPCA e preocupação com a retração econômica

 

Os holofotes estarão direcionados hoje para a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) neste ano. A variação acumulada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 10,67%, nos 12 meses anteriores, já confirma que o país descumprirá o teto da meta inflacionária, fixado em 5,25%, em 2021. Será a primeira vez que isso ocorre, desde 2015. E, naquela ocasião, houve recessão no Brasil que se prolongou até o ano seguinte.

Diante do cenário, a exemplo do que ocorreu em outubro, nova elevação de 1,5 ponto percentual da taxa Selic é esperada por analistas do mercado financeiro. A decisão elevaria o juro básico, dos atuais 7,75% ao ano, para 9,25%.

O objetivo seria começar a combater, agora, o descontrole da inflação que ameaça também os tetos estipulados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2022 (5%) e 2023 (4,75%). O problema é equilibrar a reação com o quadro de recessão que se desenha no país. Recessão significa o encolhimento da economia, afetando produção, investimentos e emprego.

Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank explica que os países que adotam o sistema de metas para controlar a inflação, assim como o Brasil (desde 1999), fazem-no porque, com estabilidade e previsibilidade, a economia pode crescer mais. Sempre que a incerteza é menor, comenta, as pessoas planejam melhor o futuro, as famílias não têm sua renda corroída e os empresários investem mais em expansão e contratações.

Por outro lado, ao extrapolar a meta, a inflação atua como espécie de imposto extra sobre os salários. Quebra-se a confiança no BC e, com dúvidas, diz Frank, os mesmos agentes tendem a ficar retraídos e a repassar as inseguranças aos preços, o que acaba por repercutir negativamente na atividade econômica e no IPCA.

Choque

Não bastassem esses ingredientes, na semana passada, em dois períodos seguidos no campo negativo, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,1% no terceiro trimestre e ingressou na recessão técnica. Neste cenário, caso o BC decida por choque mais enérgico nos juros, para preservar as metas futuras de inflação, poderá, na prática, dar o empurrão que faltava para frear de vez a economia.

É o que diz o professor de economia da Universidade Federal do RS (UFRGS) Flávio Fligenspan, ao resumir que subir a Selic pressupõe encarecer o crédito, na tentativa de desaquecer a economia e, por consequência, derrubar os preços. O problema, argumenta, é seguir a mesma cartilha quando a atividade já está enfraquecida. 

– O irônico é que temos a economia andando para trás e, assim, considero absurdo aumentar a Selic. Nossa inflação não está no consumo das famílias. Passa, sim, pela crise hídrica que aumenta os custos de energia, pelos derivados do petróleo no mercado internacional e pela taxa de câmbio, que, em razão das falhas de condução interna, gera mais atração pelo dólar e pouco capital estrangeiro aplicado no país – considera.

Economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo verifica relação entre o descumprimento das metas inflacionárias e recessões. Em situação normal, diz, a desaceleração da economia acompanharia o recuo dos preços, mas não é o que ocorre hoje. Diferentemente de 2015, quando os preços administrados de energia e combustíveis dos anos anteriores foram repassados de uma só vez, o estouro da meta em 2021 é derivado, segundo ela, de um cenário mundial e doméstico: 

– Os fretes marítimos subiram, houve interrupções das cadeias produtivas e existe depreciação cambial no Brasil que joga os preços para cima. Tivemos taxas de juros baixas por muito tempo e jogamos bilhões de reais na economia em estímulos fiscais. Isso tudo gera as condições ideais para as pressões inflacionárias.

Dilema acentuado pela campanha eleitoral

Ainda que o fator recessão pese para a decisão do Banco Central (BC) hoje, com a inflação superior a 10% em 2021, os prognósticos do mercado sugerem que a busca por um patamar inferior a 5% no ano que vem será bastante difícil, se não impossível. Por outro lado, comenta o professor de economia da UFRGS Marcelo Portugal, as ações de política monetária, como a alteração na taxa básica de juro, levam de seis a nove meses para surtirem efeito. 

Portugal avalia que o BC demorou demais para dar início ao ciclo de alta – a primeira elevação foi em março deste ano. Até aquele momento, os juros permaneciam em 2% ao ano, mas a inflação já dava indícios de descontrole desde setembro de 2020, argumenta.

– No início, o BC achava que o problema era relativamente pequeno e postergou os aumentos. Achou que era temporário e tardou muito para acordar – analisa. 

Para Portugal, o “duplo erro” do passado gera o dilema do presente. O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, acrescenta que, agora, seria necessário choque brusco na atividade para garantir o cumprimento das metas inflacionárias dos anos seguintes. 

Frank lembra ainda que, em anos eleitorais, como é o caso de 2022, dificilmente o Copom modifica taxas nos meses que antecedem o pleito. A ideia, diz, é evitar o uso da política monetária nas campanhas presidenciais. Portanto, este é mais um fator que reduz o intervalo de tempo, no presente, para o combate da inflação futura. 

– Cresce o dilema para a última reunião do ano. A tendência é ter alta de juros até meados de 2022, em patamares próximos de 12%. É bastante complicado, porque, para sonhar com inflação comportada, o espaço de manobra já é relativamente curto, também em razão da eleição – argumenta.

Fonte: Jornal Zero Hora | Portal Gaúcha ZH – Economia

 

Data

08 dezembro 2021

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