Alta da inflação em julho é a maior para o mês desde 2002

Varejo vive melhor momento e projeta alta nas contratações nos próximos meses

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AGOSTO, 2021

Notícias

Avanço é puxado por energia elétrica na Grande Porto Alegre e no país. Na capital gaúcha, IPCA em 12 meses já chega a 10%

 

A inflação voltou a acelerar na região metropolitana de Porto Alegre em julho. Após fechar junho em 0,79%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 1,23%, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o percentual mais elevado para o período desde 2002, quando chegou a 1,34%. A capital gaúcha ficou atrás somente de Curitiba, que registrou avanço de 1,60%.

Com isso, o acumulado do ano na Grande Porto Alegre chega a em 5,42%. E no período dos últimos 12 meses, segue em ritmo de alta, fechando em dois dígitos, 10%.

Situação similar ocorre nos dados nacionais. Com alta de 0,96% no país em julho, é o maior percentual para o mês desde 2002. No ano, o aumento alcança 4,76%, e nos últimos 12 meses, avança 8,99%.

Habitação

Na Grande Porto Alegre, oito dos nove grupos pesquisados apresentaram alta em julho. Habitação (3,77%), transportes (2,50%) e artigos de residência (1,02%) lideram com as maiores variações mensais. Saúde e cuidados pessoais é o único segmento com queda no indicador mensal (-0,73).

O IBGE aponta reajustes de preço em serviços, como os de energia elétrica e de água e esgoto, entre os principais motivos para a elevação no grupo de habitação. Nos transportes, o instituto destaca altas na tarifa do transporte público entre os fatores que contribuíram para a aceleração.

No âmbito de saúde e cuidados pessoais, o IBGE cita que a variação negativa reflete a queda no item plano de saúde, decorrente do reajuste de -8,19% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 8 de julho, com vigência retroativa a maio de 2021 e cujo ciclo se encerra em abril de 2022.

Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank lembra que, em julho, entrou em vigor o aumento de 52% no preço da bandeira tarifária vermelha patamar 2. Essa medida somada ao reajuste na tarifa de uma das concessionárias de energia no Estado pressionou o preço da conta de luz na região.

– Na Região Metropolitana, tivemos um duplo efeito. Além daquele reajuste envolvendo a bandeira tarifária vermelha patamar 2, a gente também teve reajuste do quilowatts-hora aqui na região, com aumento de 8,02% em uma concessionária. Essa dupla combinação gerou pressão bem significativa na energia elétrica – diz Frank.

O economista afirma que a aceleração da inflação acaba arrefecendo a retomada da economia nesse segundo semestre. A reedição de algumas ferramentas assistenciais, como o auxílio emergencial e o programa de preservação de emprego, mesmo em patamares menores, ajuda a sustentar a demanda, criando pressões adicionais à inflação. Frank cita também a desorganização nas cadeias produtivas em razão da pandemia como um dos fatores que ainda impacta na alta do índice.

– Em razão dessa retomada veloz que vem acontecendo, a oferta não está dando conta da demanda. Isso acaba pressionando os preços – explica o especialista.

Combustíveis

André Almeida, analista do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, lembra que os aumentos sucessivos nas carnes e em itens monitorados, como a energia elétrica e os combustíveis, vêm contribuindo para a aceleração do IPCA em 12 meses. As carnes ficaram 34,28% mais caras nesse período. A energia elétrica acumula aumento de 20,09%. A gasolina subiu 39,65%, enquanto o etanol avançou 57,27%.

– Todos esses fatores contribuíram para aceleração no acumulado em 12 meses – afirmou Almeida.

A inflação de serviços acumulada nos últimos 12 meses no país saiu de 2,24%, em junho, para 3,03%, em julho. E a de preços monitorados subiu de 12,99%, em junho, para 13,49%, em julho.

Pressão dos preços deve se manter nos próximos meses

A inflação deve seguir em patamares elevados nos próximos meses, segundo economistas ouvidos por Zero Hora. Energia elétrica e combustíveis mais caros estão entre os fatores que ajudam a compor esse cenário menos otimista.

O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a persistência de preços mais elevados em serviços administrados, que são regulados e monitorados pelo poder público, terá a maior influência em inflação elevada até o fim do ano:

– A energia elétrica vai ser o carro-chefe da inflação neste ano e também a parte dos combustíveis. Só a gasolina já acumula alta superior a 30%, o diesel também na mesma magnitude. E o etanol, embora não seja derivado do petróleo, também já subiu 40% e pode subir mais por causa dos efeitos da seca nos canaviais.

Braz destaca que os alimentos também terão participação na continuidade de inflação alta, mas em menor patamar na comparação com energia elétrica e combustíveis.

Cesta

Produtos que compõem a cesta básica devem ser os mais afetados pela escalada nos preços, principalmente pelas mudanças climáticas, conforme o economista:

– Diria que 40% da inflação acumulada neste ano pode vir de preços administrados, especialmente de energia e gasolina, e uns 20% pode vir de alimentos. Então, 60% da inflação acumulada neste ano fica na mão de preços monitorados e alimentos.

O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal estima que a aceleração mensal da inflação deve seguir pelo menos até setembro, principalmente pela energia elétrica mais cara. Portugal destaca a possibilidade de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) subir novamente o valor da bandeira vermelha patamar 2. Ele projeta desaceleração a partir de outubro, mas com variação acumulada em 12 meses ainda em patamares altos.

– Como a inflação vai cair a partir de um patamar muito alto, de quase 10%, a gente vai conviver com essa inflação acumulada em 12 meses de alta no mínimo até meados do ano que vem – afirma Portugal.

Fonte: Jornal Zero Hora

Data

11 agosto 2021

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