A surpresa de 0,1% no PIB do Brasil - CDL POA

A surpresa de 0,1% no PIB do Brasil

Consumo das famílias e indústria impulsionam desempenho geral, mas queda nos investimentos causa preocupação

Mais uma vez, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu. Enquanto a maioria dos analistas projetava queda entre 0,2% e 0,3% no terceiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores, houve alta de 0,1%, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho se deve aos avanços na indústria e no setor de serviços, pelo lado da oferta, e pelo consumo das famílias, pelo lado da demanda. Com o resultado, o PIB está a um patamar 7,2% acima do registrado no quarto trimestre de 2019, no pré-pandemia de covid-19.

Já frente a igual período de 2022, a alta do PIB foi de 2%. E no acumulado de quatro trimestres encerrados em setembro, o crescimento ficou em 3,1%. No ano, o avanço fica em 3,2%. Em valores correntes, o PIB no terceiro trimestre totalizou R$ 2,741 trilhões – R$ 2,387 trilhões referentes ao valor adicionado a preços básicos e R$ 353,8 bilhões em impostos sobre produtos líquidos de subsídios.

Apontada como o principal efeito surpresa, a indústria avançou 0,6% no terceiro trimestre ante o segundo trimestre deste ano. Mas o economista-chefe da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Giovani Baggio, alerta que o setor foi impulsionado por segmentos como energia elétrica, combustíveis e saneamento básico, que não são os mais agregadores para a economia. E a alta se deve a fatores climáticos, acrescenta – o período de forte calor no país favorece maior consumo de eletricidade e água, por exemplo. Baggio ressalta que áreas mais intensivas em contratações e maior potencial multiplicador para a atividade – caso da indústria de transformação e construção civil – patinaram.

Agropecuária

Já queda na agropecuária, de 3,3%, era esperada após o fim da safra recorde da soja. Mas o economista André Perfeito lembra que, na comparação anual, o setor sobe robustos 8,77%. Antônio da Luz, economista- chefe da Federação da Agricultura do RS, destaca que a alta acumulada em 12 meses chega a 14,4%, algo fora da curva.

Já os consumos das famílias e do governo alcançaram novo pico histórico no país no terceiro trimestre. O consumo das famílias aumentou 1,1% e o do governo, 0,5%. Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, o avanço nas famílias é impulsionado, principalmente, pelos programas governamentais de transferência de renda e pela manutenção da trajetória de melhora do mercado de trabalho. E a desaceleração da inflação e o crescimento do crédito também contribuem positivamente.

AS ANÁLISES

Consumo das famílias avança, mas há dúvida se a alta é sustentável. Já recuo dos investimentos indica tendência de PIB menor no futuro.

NAS FAMÍLIAS

* Uma das explicações para o desempenho do PIB, avalia Mauro Rochlin, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), é o crescimento de 1,1% no consumo das famílias, que já exibia base elevada em razão do aumento para as transferências de renda dos programas sociais.

* Outro aspecto é a política fiscal do governo, que deverá produzir déficit próximo a R$ 200 bilhões, mas tem impacto no consumo, em meio à desaceleração da inflação – até julho do ano passado superava os 10% e hoje está próxima do patamar de 4%.

* Segundo Rochlin, o maior controle dos preços tem destaque justamente nos grupos mais relevantes, ou seja, o dos alimentos, o que colabora para menor corrosão da renda.

* Consumo em alta é positivo para atividade de um país, mas o economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Antônio da Luz, argumenta que esse efeito tem sido produzido às custas de índices históricos de endividamento e inadimplência, portanto, não sustentável ao longo do tempo.

NAS EMPRESAS

* A despeito do PIB levemente positivo no terceiro trimestre, os economistas-chefes da Farsul, Antônio da Luz, e da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, projetam a continuidade da desaceleração.

* O principal indicativo é a taxa de investimentos, que recuou e fechou oterceiro trimestre em 16,6%, patamar considerado baixo.

* Como esses recursos são usados para compra de maquinários, insumos e outros elementos que ajudam a incrementar capacidade produtiva, o economista Mauro Rochlin traduz o que isso significa em economês com uma frase: “O investimento de hoje é o PIB de amanhã”.

* O economista-chefe da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Giovani Baggio, acrescenta que as importações, sobretudo de máquinas (que servem para aumentar a produção), produtos químicos e derivados de petróleo (insumos), tiveram queda expressiva, reforçando o pessimismo dos empresários.

Para o futuro, expectativa de desaceleração da atividade

Mesmo com a manutenção da atividade no campo positivo, as projeções para o quarto trimestre deste ano têm muitos elementos para sustentar a continuidade da desaceleração no futuro. Uma das bases para essa análise, avalia o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, vem da agropecuária. A má notícia é que, diferentemente do que ocorreu até o momento, o setor não deverá ajudar o PIB dos próximos três meses, diz:

– O resultado deve ser ruim por conta da baixa produção das lavouras de inverno, em razão dos problemas climáticos registrados até o momento.

Outro elemento que corrobora o pessimismo é a análise da taxa de investimentos, que aprofundou a trajetória de queda. Significa, conforme explica o economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal, menos produção no futuro.

Portugal observa forte desaceleração no PIB, ainda assim, aponta, se o país crescer “zero” no último trimestre de 2023, a alta neste ano seria de 3%, considerado positivo para o histórico do país nas últimas décadas. A má notícia, afirma Portugal, é que o país não tem avançado em reformas e modernizações da economia.

Fonte: Zero Hora

 

Data

07 dezembro 2023

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