A indústria de produtos essenciais aposta na inovação e na confiança para superar os desafios da Covid-19
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MAIO, 2020
Notícias
No Dia da Indústria (25), a AnLab, em parceria com a CDL Porto Alegre, realizou um Webinar especial para comemorar a data. Com convidados de peso, representados por Silverio Baranzano, CEO da Fitesa, e Arno Tomasini, vice-presidente de operações da Stihl, o encontro mostrou como empresas internacionalizadas e essenciais ao combate da Covid-19 se desdobram para atuar em um cenário desafiador. Inovação e parcerias consolidadas com fornecedores são a peça central destas histórias. Conheça como foi o encontro virtual.
Arno Tomasini
Stihl
Desde o início da pandemia, a Stihl busca se antecipar aos acontecimentos. Em março, ocorreram férias coletivas para parte da equipe. No retorno, todos os funcionários e familiares tomaram a vacina da gripe, foram instaladas câmeras termográficas na entrada da empresa, foi implementado o uso de máscaras e a troca de uniformes a cada dois dias para cerca de 1.200 pessoas. A empresa produz pulverizadores que vêm sendo utilizados em sanitização, e as vendas cresceram muito, inclusive com grandes volumes de exportação, portanto, a Stihl tem funcionado 24 | 7. A empresa criou, como protocolo preventivo, um termo de responsabilidade individual, em que cada colaborador se comprometeu a não ir à empresa no caso de qualquer sintoma de gripe nele ou em um familiar. As reuniões acontecem com máscara e 50% de ocupação em cada sala, mas o executivo ressalta que o gosto pelos encontros eletrônicos cresceu. Em resumo, no macro, a Stihl busca antecipação e planejamento diário para lidar com a pandemia. Mesmo com uma turma em home office, a diretoria está sempre presente fisicamente para dar exemplo e fazer com que as pessoas fiquem mais tranquilas.
Na operação, as parcerias de longo prazo agora se revelam fundamentais – a Stihl conta com fornecedores em todo o mundo. A depender do tipo de produto, mesmo tendo 80% dos componentes fabricados no Brasil, a cadeia é essencial. Com uma logística complexa, quando se fala em câmbio, Tomasini conta que, em alguns momentos, o aumento do dólar é benéfico na exportação da manufatura, mas pesa na importação de peças. O executivo conta que a estrutura grande da empresa ajuda a compensar este desequilíbrio.
Este ano de 2020 era para ser o ano da indústria. Mas Tomasini considera lamentável não conseguir encontrar certos componentes em fornecedores brasileiros e acredita que, com a crise, a indústria tem uma grande oportunidade para desenvolver fornecedores locais e mostras qualidades e potencialidades. Por meio de uma parceria de longo prazo entre fornecedores e clientes, será possível atingir um maior patamar da indústria nacional. Pós-pandemia, haverá receio em depender de fornecedores externos é este é um fator favorável.
Ao ser questionado sobre a inovação, o executivo é categórico ao afirmar que a inovação necessita de ação. O que vem sendo aplicado, durante os últimos meses, não é nada novo. As pessoas, hoje, estão sendo forçadas a utilizar toda essa tecnologia que já existia, tendo que aprender na marra. A inovação deve se dar em todas as áreas da empresa, de forma sistemática, inclusive na produtividade administrativa. Deve-se saber o custo de cada item, se a empresa está em home office, por exemplo, deve-se saber o quanto isto custa. Toda essa dinâmica de inovação já vinha rodando na Stihl e está sendo aplicada. Ao que diz respeito à produção, Tomasini afirma que a empresa trabalha mais na inovação dos componentes que são exportados, com conhecimento agregado, do que propriamente em produtos e ressalta que nenhum investimento em inovação foi cancelado. A jornada do conceito 4.0 segue forte.
Sobre a futuro da economia mundial, a pergunta de 1 milhão de dólares, o executivo acredita que será desafiador e que não há um cenário muito claro. Dentro do contexto Stihl, a conexão com o agronegócio, um segmento forte, garante uma estabilidade futura. Produtos como o pulverizador, ajudarão muito e, ainda, o segmento faça-você-mesmo, que vem ganhando força. Os investimentos de agora são a médio e longo prazos, a pandemia irá passar e a economia deve voltar aos poucos. A recomendação de Tomasini é resiliência e calma.
No contexto social, a empresa faz a sua parte sem alardes, 110 mil protetores faciais, foram produzidos, junto a parceiros, para hospitais, clínicas e aos bombeiros do Rio Grande do Sul. Em parceria com Taurus, UFRGS e Exército serão produzidos 250 mil deste material a custo zero. A Força Aérea já enviou 15 mil destes protetores para Roraima, Amapá e Alagoas. Esta é uma das ações, destaca Tomasini.
Silverio Baranzano
Fitesa
Uma das líderes mundiais na produção de material ‘não tecido’ para os mercados de higiene, médico e industrial, a Fitesa foi destacada como a empresa brasileira mais internacionalizada do País, de acordo com estudo da Fundação Dom Cabral. O CEO da empresa, Silverio Baranzano, conta que a Fitesa foi afetada pela Covid-19 de uma forma diferente por se tratar de um segmento essencial. Não mandou ninguém para casa de férias, somente o grupo de risco, que segue em home office. Por terem uma unidade na China, o contato com a pandemia e o distanciamento social iniciou-se bem antes, mesmo não estando no epicentro da contaminação. Para o enfrentamento, contou-se com um know-how interno vindo da Europa, Ásia e, mais recentemente, das Américas.
Como exemplo, a diretoria esteve sempre na fábrica, mostrando a importância do trabalho para a sociedade no momento de crise. Dos três segmentos, o de higiene foi um pouco afetado no início, para depois ter um pico, com pessoas comprando acima da média. A planta industrial foi afetada, entretanto, a de produtos voltados para a saúde obteve grande expansão. A Fitesa é pioneira na produção de máscaras cirúrgicas, aventais, roupas de áreas cirúrgica, material que obteve um pico de consumo enorme. Para atender à grande demanda e ainda ter a estrutura achatada, foi necessário um contato direto com a frente de batalha para que eles pudessem tomar decisões.
Como aprendizado, Baranzano conta que na crise há que ser ágil, disponível para ouvir o colaborador, o cliente e o fornecedor, em um trabalho de equipe. Com a simplicidade como exemplo, a informação a e tomada de decisão devem ser muito rápidas. Segundo o gestor, 90% das máscaras utilizadas no Brasil vinham da China, a Fitesa atendia a 10% desse mercado. Com a pandemia, as máscaras chinesas não conseguiram chegar. Outro ponto a se destacado é que, das que chegavam, muitas não atendiam às normas técnicas brasileiras. Com a inundação de novos clientes, foram introduzidas no País 50 novas máquinas para a confecção do produto. Baranzano acredita que, no pós-crise, esse mercado estaciona em patamar mais elevado, pois as pessoas não irão mais confiar os insumos de um mercado inteiro a uma nação que fica do outro lado do mundo. A questão da localização é uma lição desta crise, as nacionais deverão ter um crescimento.
A variação cambial afetou pouco a empresa como um todo, mas a parte brasileira sofreu com a desvalorização do real ao adquirir commodities em moeda forte, como o polipropileno que tem como base o petróleo. Em relação à cadeia, o principal fornecedor da Fitesa é a Braskem, que antes de ser um fornecedor é um parceiro muito forte, pela proximidade e conformidades no planejamento estratégico, há uma confiança. Por exemplo, as duas empresas encabeçaram um programa de doações juntas a mais de 50 empresas para ajudar hospitais com máscaras e EPIs. Baranzano assegura que tratar o fornecedor com respeito minimiza os impactos de uma crise como esta. As parcerias e alianças estratégias são valiosas para que fornecedores e clientes trabalhem com integridade. Muitos dos fornecedores da empresa foram afetados pela crise, como a indústria automobilística.
O ‘não tecido’ acabou sendo um produto essencial, portanto as barreiras de importação foram derrubadas até 21 de setembro. E, como a empresa nunca parou, foi necessário um forte trabalho para cuidar dos colaboradores. A primeira defesa foi no cumprimento de todos dos protocolos. Se houver a contaminação de alguém, põe em prática um planejamento específico. Como ocorrido no Peru, quando 12 funcionários foram contaminados, dentro de um universo de 65. Contaminados pelo motorista do transporte que os levava diariamente ao trabalho, os trabalhadores foram afastados, todas as pessoas foram testadas e separadas em hotéis, para que não contaminassem suas famílias, são medidas ruins, mas necessárias, aponta o executivo. Com uma equipe reduzida, horas extras foram realizadas em um cenário em que o Peru já operava em lockdown e proibição de exportação de produtos essenciais. É difícil, mas tem que ser feito.
Acerca da inovação, nada foi adiado. Baranzano relata que a empresa possui reserva para continuar executando o plano estratégico. Nesse ínterim, há de se inovar de outro modo, para atender o mercado de uma forma adequada, com a demanda que explodiu. Hoje a Fitesa não consegue atender toda demanda, mas equipamentos foram adaptados, ideias novas surgiram, turma de engenheiros envolveram-se em processos, e a empresa triplicou a fabricação do material para máscaras em 45 dias. O conhecimento da tecnologia fez com que conseguissem triplicar a capacidade produtiva.
Sobre o futuro, indo do macro para o micro, Baranzano acredita que 2020 será um ano muito difícil. As economias de todos os países irão sofrer um baque tremendo, ninguém vai ficar imune. Mas 2021 reserva uma perspectiva positiva. Talvez não seja uma retomada em “V”, mas em “U”, aponta o executivo que acredita que as economias estão colocando muito dinheiro para minimizar a crise.
A ação social que a empresa prestou à sociedade esteve aliada à inovação. Junto à Braskem, a ideia era doar 60 milhões de máscaras e 6 milhões de aventais descartáveis. Para isto, com o propósito de não sobrecarregar os fornecedores, pois já estavam operando no topo da demanda. Assim, desenvolveu-se uma parceria, em que a área de engenharia da Fitesa copiou os equipamentos de produção de máscaras de três fornecedores e as doou aos mesmos, em troca do fornecimento das máscaras. Manufaturaram as máquinas e deram a eles, em troca das máscaras. Uma parceria de confiança e ajuda mútua.
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A CDL Porto Alegre reafirma seu compromisso em acolher as necessidades dos varejistas, auxiliando-os a transpor os entraves da disseminação do coronavírus. A Entidade tem a convicção de que a unidade do setor fará grande diferença neste momento tão delicado e de apreensão para todos. Com a atenção e a disponibilidade de cada empresário, para fazer a sua parte, o setor sairá ainda mais forte desta crise.