A política monetária restritiva tem sido usada como estratégia para conter o avanço do IPCA no Brasil. Todavia, alguns analistas tem criticado a medida, alegando que a natureza da inflação prescreve outro tipo de remédio, ou seja, reduções da taxa SELIC.
Essa visão parte do princípio de que a deterioração do poder de compra do Real diz respeito à vigência de choques negativos de oferta – mudanças que ampliam os custos de produção dos empresários ou prejudicam diretamente o fornecimento de determinados bens e serviços ao longo do tempo. Entre os exemplos estão: (1) a escassez de matérias primas; (2) os desdobramentos do conflito no Leste Europeu sobre as commodities; (3) o incremento da taxa de câmbio depois da eclosão da pandemia; (4) a estiagem e sua influência no tocante aos reservatórios das hidrelétricas e à safra de grãos.
Os defensores da referida tese sustentam que o barateamento do crédito contribuirá para a normalização do suprimento e, consequentemente, a desaceleração dos preços. No entanto, é fundamental compreender que a alta das mercadorias causada pelo fenômeno supracitado se propaga pelas cadeias econômicas. No caso do petróleo, o aumento dos combustíveis encarece o frete. Por sua vez, o fortalecimento do Dólar eleva o gasto com os artigos intermediários e finais que vêm do exterior, e assim por diante. Nesse sentido, a ação do Banco Central (BC) combate justamente os “efeitos secundários” ressaltados acima, responsáveis por retroalimentar o choque original.
Além disso, cabe destacar que houve injeção de liquidez sem precedentes na história para apoiar a procura em função da COVID-19. De acordo com levantamento do FMI, realizado em meados de 2021, os governos promoveram o ingresso, desde março de 2020, de US$ 16 trilhões no âmbito fiscal, enquanto os incentivos oriundos da expansão de moeda atingiram US$ 7,5 trilhões. Nosso BC, inclusive, entende que o impacto da demanda aquecida supera o da oferta limitada, pois conforme CPB da Holanda, o volume fabricado pela indústria (excluindo a construção civil) mundial em fevereiro de 2022 ultrapassa o de igual período de 2020 em 12,7%.
Em vista dos argumentos apresentados, a majoração da taxa básica de juros é a alternativa correta para o atual momento. Diminuí-la só serviria para jogar querosene em meio a um incêndio, exigindo um esforço muito maior da sociedade em termos de enfraquecimento do consumo, do emprego e dos investimentos para a recolocação do IPCA na meta.