Nem tudo vai chegar ao Brasil, mas tudo que chegar passou na NRF, decreta o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, no ‘Pós-NRF 2022 – Acelere o seu negócio’, promovido pela CDL POA nesta segunda-feira, 31/01, no Teatro da Unisinos. “Claro, é preciso ver o que faz sentido para nosso negócio”, ressalva o professor de programas de MBA e integrante de conselhos de administração de várias empresas no País. Terra sentiu que esta 112ª da NRF Retail’s Big Show & EXPO teve menos pirotecnia e mais aplicabilidade. Metaverso foi a palavra da vez. Covid-19, crescimento, tecnologia, inclusão, engajamento, equidade, dados, incerteza, robôs, inteligência artificial e ecossistemas também integraram a nuvem de palavras. E, se existisse uma equação seria “pessoas + tecnologia = varejo”.
Terra organizou sua apresentação em oito insights. Acompanhe:
1) O novo ambiente de negócios para o varejo: O jogo está mais digital e sendo jogado em um cenário de inflação global e escassez de produtos. A incerteza e a transformação são para sempre. É preciso adaptabilidade e velocidade, só que cuidando muito, porque, com esta necessidade de ser veloz, também é fácil fazer bobagem. Estudos demonstram que 100% dos americanos não pretendem mais trabalhar cinco vezes por semana; 60% deles se veem trabalhando metade do tempo em casa; e 0% dos americanos se imaginam full time no escritório.
2) Verdadeira revolução do Supply Chain: Comprar e decidir fornecedor envolvem dados e tecnologia, quem não entender essa revolução se perdeu. Ainda mais porque – e Eduardo Terra reforça – os norte-americanos estão enfrentando a maior inflação desde 1982, com falta de produto e, por isso, sem promoção. Antenada, a Amazon constrói a sua própria cadeia de suprimentos e se converteu na quinta empresa do mundo. Tem 95 aviões, 50 mil caminhões, 400 mil motoristas e 260 centros de distribuição. Tudo para estar a 10, 15 minutos de 90% da população dos EUA. Por causa dessa capilaridade, oito em cada 10 americanos participam do programa de fidelidade, assinando a Amazon Prime. No mundo de hoje, tem que ter previsibilidade, enxergar antes dos outros, saber interpretar dados. Supply chain é tecnologia, não é intuição.
3) Novas tecnologias: “De coração, não pulem etapas. A gente, como varejista, muitas vezes, quer ir direto para a aplicação. Só que, antes, é necessário trocar os canos, o sistema de base. É o caso do 5G como nova via. Para muitas pessoas, é uma disrupção como foi internet anos atrás”, exemplifica Terra.
4) Metaverso: É a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade por meio de dispositivos digitais. Trata-se de um espaço coletivo, virtual e compartilhado, constituído pela soma de realidade virtual, realidade aumentada e internet. Pode ser visto como a evolução do e-commerce, afinal é prático, está disponível 24×7, por isso sendo conveniente. O e-commerce representa uma experiência sensorial pobre, e a ideia do metaverso é quebrar isso. Na nova economia de produtos digitais, os avatares trazem a experiência do online cada vez mais próxima da loja física. Sim, há 18 anos, o Second Life foi um projeto de metaverso que nasceu antes do tempo. Naquela época, não tinha banda suficiente, e as pessoas não sentiam a disposição criada pela pandemia. “Até seis meses atrás, quase ninguém tinha ouvido menções ao metaverso e às conexões com criptomoedas e NFT. Só que como vai ser a regulação, o Procon e a LGPD do metaverso?”, questiona Terra. Ou seja, ninguém se engane a respeito da complexidade do cenário.
5) A nova loja: Continua sendo relevante, mas não é a mesma. A loja se converteu em hub de serviço e de experiência.
6) Os ecossistemas de negócios desafiando o varejo: Não é mais o cliente que vai à loja, é a loja que vai ao cliente. Com Whatsapp, redes sociais, CRM, o time de vendas precisa ativar os clientes. Com a loja orientada a dados, a mensuração é feita de forma diferente e não somente por metro quadrado. É preciso considerar que o custo de aquisição de cliente digital pode ser muito alto. O Alibaba, por exemplo, concluiu ser mais barato adquirir o cliente no físico do que no digital. E, na era do varejo sem atrito, a Amazon desenvolveu o Amazon One, tecnologia que cadastra a palma da mão da pessoa para efetuar operações. Para a Amazon, o celular ficou pouco. Ou seja, lojas, e-commerce, media, marketplace, soluções de pagamento, tudo está dentro de uma parceria de competição. “E as pessoas precisam ter a consciência de que não estão fazendo negócios com uma freira”, compara Terra de forma bem-humorada.
7) Diversidade, equidade e inclusão DE&I: A NRF refletiu sobre como se formam os times, como as marcas se posicionam em relação a esses três temas, cujas discussões se aprofundaram nos últimos cinco anos. A NRF descobriu que o varejo tem gente, não é só tecnologia. São questões que se tornaram protagonistas em empresas globais, preocupadas em desenvolver uma visão abrangente a respeito de etnia, credo, gênero, orientação sexual, etc. Para engajar liderança e colaboradores, tem que ter muita escuta e aprendizado.
8) Cultura e liderança: Constituem o sustentáculo para todo o resto. E também é contraditório, pois funciona como se fosse uma corrida de 100m, afinal tem que fechar o mês, e, ao mesmo tempo, uma maratona (42.195 metros). É crucial exercitar o equilíbrio com um olho no agora e outro no futuro. Os líderes têm protagonismo nas agendas de transformação e proteção do legado das empresas. “O desafio é ter a consciência de que não estamos prontos nunca”, finaliza Eduardo Terra.