Escassez de matérias-primas e preços altos alteram catálogos das coleções de verão
O avanço da imunização, junto com o retorno às atividades presenciais, vem estimulando o maior movimento nas lojas de moda. Além disso, a aproximação das festas de final de ano reforça a expectativa de retorno das vendas ao período pré-pandêmico. “Estamos esperando um Natal muito bom. Nossa orientação é para o lojista se preparar com previsão de acréscimo nas vendas de 10% sobre o Natal de 2019”, comenta Paulo Kruse, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), desconsiderando o ano atípico que foi 2020.
O cenário para o varejo de confecção e calçados traz, porém, o desafio de equalizar a alta generalizada de preços e driblar a falta de alguns itens nos catálogos por escassez de matérias-primas na indústria e problemas logísticos. A receita é planejamento. “Como a recuperação ocorre de maneira gradativa, o mercado está se ajustando na oferta e não devem faltar produtos”, afirma Irio Piva, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA).
A percepção de que a coleção verão está garantida é baseada nas encomendas para as fábricas, praticamente já fechadas. Neste momento, inclusive, fábricas estão em processo de produção da maior parte do volume das peças de verão. Com isso, o presidente da CDL POA avalia que a falta de alguns materiais não tira a capacidade da indústria de produzir à medida em que é demandada, pois serão reposições, sem um cenário de boom de consumo.
O varejo estará preparado para atender ao aumento de demanda no último trimestre, reforça Sérgio Galbinski, presidente da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Segundo o dirigente, desde que as lojas deixaram de abrir e fechar, não houve falta de estoque, apenas questões pontuais, como troca de marca, de modelo ou substituição de tecido de determinada peça de roupa, exemplifica.
Não deve faltar mercadoria, mas o consumidor pode ter à disposição uma oferta menor. “O comerciante está comprando, mas está com dificuldade de conseguir alguns produtos e, quando consegue, é com preço elevado”, admite o presidente do Sindilojas Porto Alegre, referindo-se ao varejo em geral. É justamente a elevação de preços para o lojista, entre 20% a 30% em relação ao mesmo período de 2020, o principal fator de preocupação, e que pode dificultar o retorno das vendas à normalidade.
O algodão é um exemplo. O valor disparou nos últimos meses pela menor disponibilidade da matéria-prima. Fábricas de lençóis e roupas, por exemplo, optaram por adaptar a oferta e a demanda, confeccionando peças mais finas, o que reduz a variedade e ajuda a amenizar o impacto da elevação de preço.
Após um 2020 atípico em vendas e acúmulo de peças encalhadas, lojistas de moda que conseguiram sobreviver encaram o último trimestre do ano como a virada de chave sobre a crise que se abateu sobre o segmento do varejo mais prejudicado na pandemia, quando boa parte da população se fechou em casa para se proteger da Covid-19. Afinal, poucos investem em roupas para ficar em casa ou, quando compram, são itens de menor valor.
Fonte: Jornal do Comércio – Minuto Varejo | Edição impressa em 13 de setembro de 2021.